UFBA
Alunos apontam preconceito após portaria que impede migração do B.I. para medicina
Conselho decidiu proibir ingresso de estudantes no conorrido curso durante três anos
Por Felipe Sena
Após discussões sobre a situação dos estudantes do Bacharelado Interdisciplinar de Saúde (BIS), o Conselho da Universidade Federal da Bahia (UFBA), decidiu pela suspensão de três anos do ingresso para Medicina por estudantes egressos do BIS. A decisão foi divulgada nesta sexta-feira, 11.
De acordo com informações divulgadas pelo professor de Estudo das Subjetividades, do Instituto de Humanidades, Artes & Ciências Professor Milton Santos (IHAC), Leandro Colling, a decisão foi contra a orientação da Procuradoria Jurídica da UFBA, que teria afirmado anteriormente que a decisão deveria acontecer no Conselho Universitário (Consuni).
No entanto, o Conselho Acadêmico de Ensino (CAE) aprovou a suspensão por três anos da oferta das vagas do curso de Medicina, destinada aos estudantes egressos do Bacharelado Interdisciplinar de Saúde (BIS) da UFBA. A decisão começa a valer a partir do semestre de 2025.1 e continua até o semestre de 2027.2.
Mergulhado em incertezas quanto ao sonho de cursar Medicina, o estudante do 5ª semestre do BIS, Gerson Correia, de 30 anos, diz que apesar da decisão já estar sendo discutida, todos foram pegos de surpresa. “Estamos no escuro, não temos nenhum tipo de informação. Nem o Centro Acadêmico do B.I. de Saúde, emitiu nenhum tipo de informação. Existiam alguns burburinhos, mas não achamos que fosse acontecer de fato, de tão absurdo que é”, disse o estudante.
“Se eles conseguiram essa decisão por três anos, eles podem conseguir colocar por mais tempo. Eu penso no B.I. deixar de existir, como aconteceu com o B.I. de outras universidades, como na Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) , na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e outras. Por que se Medicina pode, outros cursos podem fazer a mesma coisa”, ressalta Gerson, que está se articulando com colegas para participar de discussões para verificar como vai ficar a situação.
Segundo a estudante também do 5ª semestre B.I. de Saúde, Letícia Silva*, de 24 anos, “não foi emitida nenhuma posição sobre o que acontecerá depois do período estabelecido, entre 2025 e 2027. Quem garante que isso não seja o início do fim do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da UFBA? É uma oportunidade que está sendo negada para vários estudantes”.
Sendo assim, entre todos os cursos da área de saúde ofertados, o curso de medicina será o único que não fará parte das opções para os estudantes egressos do BIS. A decisão acontece independente do período de integralização curricular/conclusão do curso.
Discussões sobre suspensão
De acordo com o professor Leandro Colling, é usado na Justiça o argumento de que estudantes que ingressam no BIS através de cotas, usam outra cota, para ingressar na universidade. No entanto, não existe nenhuma lei que proíba tal ação.
“Ataca as políticas de cotas, uma vez que a justificativa para tal suspensão é a judicialização operada por não cotistas egressos do B.I. para o curso de Medicina. Eles entram na Justiça com o argumento que os cotistas usam novamente as cotas ao ir para Medicina. Ora, sabemos que a política de cotas nunca previu que uma pessoa negra, por exemplo, pudesse usar as cotas apenas uma vez em sua vida”, ressaltou o professor.
Em nota oficial, o IHAC afirmou que recorrerá ao Consuni, para “ampliar o debate e encontrar alternativas que minimizem os impactos dos processos judiciais e os ingressos por judicialização no curso de Medicina, sem comprometer o projeto dos B.I.s”.
“O IHAC reforça a importância de se respeitar os processos democráticos e as conquistas obtidas com o Reuni, que ampliaram o acesso à universidade pública e à diversidade de sua comunidade estudantil”, ainda diz a nota.
Em nota enviada ao Portal A TARDE, a reitoria da UFBA informou que “a questão ainda está sendo discutida nos conselhos superiores da UFBA. Esse é o processo normal, que resulta em decisões colegiadas”.
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Preconceito na UFBA
Alguns estudantes dos B.I.s da UFBA relatam preconceito por parte de colegas e professores, por não ingressarem na universidade no curso que querem cursar, de fato.
Gerson diz que já sofreu preconceito de uma professora do curso de Enfermagem. “Ela disse que quem fosse para a disciplina dela esperando tirar nota 10, não ia tirar, porque ela não dá para estudantes do B.I.”
O estudante também salienta que são oferecidas poucas vagas de Medicina para estudantes do B.I., o que para ele, ressalta a falta de compromisso da universidade com o curso. “Isso mostra o quanto Medicina nunca quis dialogar com o BIS, e quando disponibiliza disciplina, são duas, o que acaba influenciando na nota para fazer a migração”, disse. “Infelizmente existem alunos que passam por situações como essa”, acrescenta Letícia*.
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