DESCOBERTA
Cemitério em estacionamento de Salvador abriga corpos de escravizados
Pesquisa revelou resultado

Por Leilane Teixeira

Um sítio arqueológico descoberto sob o estacionamento da Pupileira, na Santa Casa de Misericórdia da Bahia, em Salvador, pode ser o maior cemitério de pessoas escravizadas da América Latina. Segundo o Ministério Público da Bahia (MP-BA), os resultados das pesquisas arqueológicas foram apresentados em uma reunião realizada no dia 21 de outubro.
A descoberta teve início durante o doutorado da arquiteta e urbanista Silvana Olivieri, da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Ao comparar antigos mapas da cidade com imagens de satélite atuais, ela identificou que o terreno utilizado como estacionamento da Santa Casa coincidia com a área onde funcionou o antigo Cemitério dos Africanos. A descoberta seguiu a seguinte ordem:
- As escavações começaram em 14 de maio deste ano;
- Já no terceiro dia de trabalho, surgiram os primeiros indícios: fragmentos de porcelanas e objetos do século 19.
- Dez dias depois, os arqueólogos localizaram as primeiras ossadas humanas.
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Mesmo após os achados, o espaço continua sendo usado como estacionamento. O MP-BA informou que o Iphan recomendou à Santa Casa a suspensão imediata do uso da área. A pesquisadora também formalizou o pedido para que o local seja reconhecido oficialmente como Sítio Arqueológico Cemitério dos Africanos.
A pesquisa
Para localizar o cemitério, Silvana Olivieri analisou:
- mapas e plantas urbanas de Salvador datados do século 18;
- textos históricos de Braz do Amaral (1917) e Consuelo Pondé de Sena (1981);
- um livro de 1862 do contador da Santa Casa, Antônio Joaquim Damázio.
Inicialmente administrado pela Câmara Municipal e, posteriormente, pela Santa Casa, o cemitério funcionou por cerca de 150 anos, até ser desativado em 1844 — quando a instituição passou a gerir o Cemitério Campo Santo, no bairro da Federação.
Africanos escravizados
Os registros históricos indicam que a maioria das pessoas sepultadas eram africanos escravizados, mas também há relatos de indígenas, ciganos e pessoas pobres que não tinham recursos para arcar com o enterro.
Pesquisadores acreditam que o local também recebeu corpos de participantes da Revolta dos Malês, da Conjuração dos Búzios e da Revolução Pernambucana.
Os enterros, segundo os estudos, eram feitos em valas comuns e rasas, sem qualquer tipo de ritual religioso — uma prática que reforça a dimensão trágica e desumanizadora da escravidão na Bahia colonial.
Encontro
O encontro contou com representantes do:
- MP-BA;
- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan);
- Fundação Gregório de Matos (FGM);
- Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac);
- e dos arqueólogos responsáveis pelo estudo.
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