SALVADOR
Como um casal cheio de filhos originou o primeiro prédio de Salvador
Edifício Dourado surgiu em 1937, na Graça
Por Gabriel Moura
Se hoje a tal geração Millenial tenta engravidar aos 30 como "gravidez na adolescência", nos anos 30, as faixas etárias eram mais flexíveis. Sem 'ZapZap' e TikTok, os casais se entretiam de maneira mais tradicional, lidando não apenas com a questão temporal, formando herdeiros mais cedo, mas também quantitativa, tendo que lidar com uma ninhada.
Com um time de futebol para chamar de seu, Heitor Dourado e Alice Menezes Dourado estavam no dilema de "como abrigar 11 filhos em apenas um terreno". A solução encontrada pela família resultou no primeiro prédio residencial de Salvador: o Edifício Dourado.
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Localizado no pulsante e moderno bairro da Graça, defronte ao antigo Campo da Graça, o prédio foi construído entre 1936 e 1937 com três andares — incluindo o térreo. São 12 apartamentos, sendo um para Heitor e Alice, e os 11 restantes para cada um dos filhos.
"Salvador na época, nos anos 30, tinha sinais significativos desses caminhos da modernidade. É o momento em que o art déco começa a perambular por alguns lugares da cidade, como o Palácio dos Esportes e o Elevador Lacerda, mostrando que a capital baiana não estava perdendo o bonde das mudanças arquitetônicas a nível mundial", contextualiza o historiador Rafael Dantas.
E o Edifício Dourado surge neste período, todo trabalhado no art déco, inaugurando uma nova forma de se morar em Salvador.
A novidade era tanta que a lei nem vislumbrava a possibilidade de mais de uma pessoa ser dona de um terreno. Como no Dourado todo mundo era parente, a situação ficou mais fácil de ser contornada: foi só deixar no nome do patriarca.
O problema foi quando apareceu o Oceania, em 1943, inaugurando o conceito de condomínio. Para esse caso, os moradores não se tornaram, por lei, proprietários dos apartamentos, mas sim donos de ações da empresa "Edifício Oceania".
De volta ao que interessa
Voltando ao Dourado, além de seguir as tendências da época, o edifício também apresentou novidades, como a presença de um elevador. Por lá também havia duas vagas para carros — extremamente raras na época, revela o historiador e arquiteto Francisco Senna, completando que, posteriormente, obras aumentaram a garagem do edifício.
Assinado pelo arquiteto Arézio Fonseca, o edifício possuía nos primórdios uma bela vista — inclusive para os jogos de futebol mais importantes da época no Campo da Graça. Com o passar do tempo, no entanto, a paisagem foi ofuscada pelos arranha-céus construídos na vizinhança.
Já na parte interna, o conforto dos amplos apartamentos resiste aos quase 100 anos. "Ele tem a sofisticação de uma moradia confortável, arejada, bem dividida. Todas as simetrias e geometrias. As presenças dos traçados do art déco na fachada", exalta Rafael Dantas.
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