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Corrida fatal: atropelamentos de corredores aceleram medidas em Salvador
Três pessoas foram atropeladas em dois meses enquanto corriam na cidade

Por Leilane Teixeira

Um corredor que teve a perna amputada, uma corredora morta e outro corredor internado em um leito de hospital em Salvador. O que esses atletas têm em comum, além de serem corredores? Os três foram vitimados pelo mesmo modus operandi: atropelados enquanto treinavam na capital baiana.
Todos os casos aconteceram em apenas dois meses, entre agosto e outubro deste ano. Apesar de não haver um recorte específico sobre esse tipo de acidente com corredores ou pessoas que praticavam atividades físicas no momento do acidente, a Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador) revela que 43 pessoas morreram e 332 ficaram feridasneste ano em atropelamentos de pedestres na capital baiana, já incluindo os casos de:
Para atletas que praticam a mesma atividade, os casos reforçam o sentimento de insegurança e escancaram a urgência de práticas e ações que previnam e possam punir acidentes como esses.
“Faço parte de sete grupos de WhatsApp com mais de 3 mil atletas, e é unânime: todos se sentem inseguros. Hoje não existe lugar totalmente seguro para treinar corrida de rua em Salvador”, disse Alan Nunes, organizador do grupo SSAqueCorre, em entrevista ao Portal A TARDE.
Cobrança por respeito
O líder do coletivo, que reúne atletas e promove corridas de rua em Salvador, pontuou ainda que a cidade vem passando por uma mudança de perfil. Segundo ele, as pessoas estão buscando mais qualidade de vida, mas, nessa mesma crescente, vem também a “falta de respeito com os corredores, tanto do ponto de vista dos condutores quanto pela falta de estrutura”.
“No CAB, os carros passam em alta velocidade. Na orla, dividimos espaço com pedestres, ciclistas e motoristas que muitas vezes não respeitam. Fica difícil saber por onde correr. Além disso, grande parte dos atropelamentos ocorre em um mesmo contexto: motoristas alcoolizados, saindo de festas. É um padrão que se repete.”
Entre abril e julho de 2025, as infrações relacionadas à Lei Seca em Salvador saltaram de 324 para 455, um aumento de aproximadamente 40%.

Diálogo e iniciativas
Em resposta à onda de acidentes, a Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador) se reuniu nesta semana com representantes de grupos e assessorias de corrida para discutir ações preventivas. Ao Portal A TARDE, o superintendente Marcus Passos explicou que a proposta é:
- mapear áreas mais seguras;
- reforçar a sinalização;
- intensificar a fiscalização.
"Na reunião, pedimos que os grupos de corrida apresentassem sugestões de locais mais seguros para treinos. A ideia é reforçar a sinalização, intensificar a fiscalização e divulgar áreas adequadas para a prática esportiva. Porque, nesses casos de Emerson, Marta e Wellington, eles estavam em pontos seguros, com barreiras e sinalizações, mas mesmo assim foram atropelados."
Mesmo criando espaços seguros, se o condutor não tiver consciência, continuaremos tendo vítimas. A responsabilidade maior está na postura do motorista, que precisa respeitar as regras de trânsito
Outras ações
A autarquia também deve lançar uma cartilha educativa voltada aos praticantes, com orientações sobre condutas seguras:
- evitar o uso de fones de ouvido;
- correr sempre no sentido contrário ao dos veículos.
“Queremos divulgar locais adequados e trabalhar junto às assessorias, que têm experiência para orientar os corredores amadores. O objetivo é reduzir o risco e evitar novos sinistros”, explica Marcus.
Para Alan Nunes, do SSAqueCorre, outra ação benéfica é a união entre o poder público e os aplicativos de navegação.
“É importante que se unam para criar alertas de áreas com fluxo intenso de atletas. Se houvesse uma integração entre o Strava, o Google Maps e o Waze, os motoristas seriam avisados quando passassem por regiões de corrida. É uma medida simples que pode salvar vidas.”
Projeto de lei
Após os três atropelamentos de corredores nos últimos dois meses, um projeto de lei foi apresentado à Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) buscado tornar a prática de corrida mais segura em Salvador.
A proposta do deputado Jordavio Ramos (PSDB) prevê a criação da Zona de Proteção à Vida Ativa (ZPVA), destinada a proteger pedestres, corredores, ciclistas e outros praticantes de atividades físicas em áreas urbanas.
Entre as medidas sugeridas estão:
- a redução da velocidade máxima para 30 km/h em horários de maior movimento esportivo;
- sinalização específica para alertar motoristas;
- instalação de lombadas físicas ou eletrônicas;
- fechamento parcial ou total de vias em determinados períodos.
Relembre os casos
- Edmilson Ferreira da Silva Filho, de 45 anos
Edmilson foi caso mais recente. Ele foi atropelado no dia 18 de outubro, no Centro Administrativo da Bahia (CAB) e segue internado no Hospital Geral do Estado.
- Martha Maria dos Santos
A policial Martha Maria dos Santos estava correndo na Avenida Paulo VI na madrugada do dia 6 de outubro, quando foi atingida por um veículo na contramão.
O carro era dirigido por João Victor Santos, de 20 anos, que bão tinha Carteira Nacional de Habilitação e pegou o automóvel escondido da mãe. O condutor prestou depoimento e foi liberado em seguida. Marta não resistiu aos ferimentos e morreu no dia 16 de outubro.
- Emerson Pinheiro
Também na Pituba, no dia 16 de agosto, o atleta profissional Emerson Pinheiro, de 29 anos, foi atropelado por um carro, na Orla, e perdeu uma das pernas.
O condutor era o secretário parlamentar Cleydson Cardoso Costa Filho, e estava com sinais de embriaguez. Ele chegou a ficar preso, mas acabou liberado e responde em liberdade. Nesta semana, o Ministério Público da Bahia voltou a pedir sua prisão.
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