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RECRUTAS DA GUERRA

De Salvador ao Front: grupo promete altos salários para recrutar jovens à Ucrânia

Grupo afirma recrutar brasileiros para a Legião Estrangeira da Ucrânia

Luan Julião

Por Luan Julião

01/12/2025 - 5:51 h
Guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, já se consolidou como uma das maiores tragédias do século
Guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, já se consolidou como uma das maiores tragédias do século -

Em um canto barulhento das redes sociais, longe dos gabinetes diplomáticos e da linguagem técnica dos relatórios militares, cresce silenciosamente um fenômeno que mistura imaginação bélica, precariedade existencial e a estética digital da guerra. É nesse terreno fértil, onde vivem jovens que buscam propósito, adrenalina ou fuga, que um grupo chamado Advanced Company, com base em Salvador, tem conquistado milhares de seguidores ao anunciar supostas oportunidades de alistamento para lutar no front ucraniano.

A guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, já se consolidou como uma das maiores tragédias do século. As primeiras ofensivas transformaram cidades inteiras em destroços, arrastaram milhões para a rota do exílio e reacenderam temores nucleares que pareciam enterrados com o fim da Guerra Fria.

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Apesar da devastação evidente, o recrutamento internacional para a Legião Estrangeira Ucraniana segue ativo. Brasileiros que desejam integrar as tropas costumam se candidatar por meio de plataformas oficiais, preencher cadastros, arcar com a viagem, geralmente desembarcando primeiro em Varsóvia, e seguir de ônibus até Kiev, onde passam por triagens e por treinamentos básicos.

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Uma publicação compartilhada por Advanced Company 🏴‍☠️🦉🇺🇦 (@advanced_company_group)

É nesse contexto, de conflito distante, mortes reais e narrativas heroicas nas redes — que surge a Advanced Company, uma página no Instagram com quase 10 mil seguidores e estética militarizada. Suas publicações exibem supostos combatentes em áreas de atuação, armamentos, símbolos de elite e frases motivacionais, criando uma atmosfera de pertencimento que seduz principalmente jovens homens.

Advanced Company
Advanced Company | Foto: Reprodução / Redes Sociais

Funil digital do alistamento

O Instagram da página direciona para um link de WhatsApp. A reportagem do Portal A TARDE entrou em contato e foi prontamente questionada sobre a posse de passaporte e a disponibilidade para viajar “imediatamente” à Ucrânia. O procedimento descrito nos chats sugere um processo seletivo organizado, com etapas e exigências rígidas, muitas delas controversas.

Entre os requisitos elencados pela companhia, estavam regras como:

  • Ex-militar (civis somente com formação específica de interesse da companhia)
  • Idade entre 20 e 45 anos
  • Ausência de antecedentes criminais ou processos judiciais em andamento
  • Não ser usuário de drogas
  • Não apresentar problemas com álcool
  • Disciplina exemplar
  • Fluência em mais de um idioma
  • Não ser homossexual
  • Não possuir familiares russos ou histórico de residência na Rússia

O processo inclui o seguinte passo a passo:

  1. entrevistas por vídeo
  2. avaliações psicológicas
  3. testes físicos
  4. exames médicos
  5. triagem de antecedentes
  6. "entrevista final com o comandante da companhia”.

A organização também enfatiza que todas as despesas até Kiev seriam bancadas exclusivamente pelo candidato, sem qualquer tipo de ajuda financeira.

No pacote de informações, há também a promessa de salários e bônus pagos em moeda local, além de funções específicas e um mês de treinamento para quem sobreviver às primeiras etapas.

A remuneração prometida aos aprovados aparece detalhada:

  • salário base de 40 mil na moeda local,
  • bônus que podem chegar a 200 mil na moeda local, conforme o tipo de operação atribuída.

E o tempo mínimo de compromisso exigido aparece descrito como:

  • Comprometimento mínimo de 1 mês, podendo se estender a até 1 ano de contrato.

Também são listadas funções como fuzileiro, operador de metralhadora, motorista de blindado, operador de drone, especialista em morteiro, combatente com formação médica e técnico em desativação de explosivos.

A estrutura apresentada lembra mais um manual de forças armadas regulares do que um grupo organizado a partir de uma rede social baiana, o que levanta dúvidas, crítica e fascínio entre os seguidores.

Conforme soube o A TARDE, o recrutamento de jovens baianos já tem sido concretizado. Eles se encontram com os recrutadores em um importante local da Cidade Baixa de Salvador e são levados inicialmente a uma base da Advanced Company. Apenas em seguida vão em direção ao país europeu.

  • De Salvador ao Front: grupo promete altos salários para recrutar jovens à Ucrânia
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Comentários revelam o imaginário da guerra

As publicações da Advanced Company se tornaram palco de um fenômeno inquietante: o entusiasmo juvenil diante da ideia de combate. Entre emojis de caveiras, relâmpagos e bandeiras, muitos usuários expressam apoio irrestrito, desejo de se alistar ou até excitação diante do caos da guerra.

Entre os comentários, destacam-se frases como:

  • “Força e Honra”
  • “Não vou me aquietar enquanto não estiver fazendo parte dessa irmandade.”
  • “logo estarei com vocês, camaradas!”
  • “O máximo de confusão, morte e destruição na retaguarda do inimigo”
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É nesse vocabulário, quase ritualístico, quase adolescente, que se percebe a força simbólica da guerra como mito. Para muitos desses jovens, a Ucrânia não é um país distante em sofrimento, mas um palco onde poderiam performar coragem, rebeldia, pertencimento ou revanche contra sua própria sensação de impotência social.

O crescimento do perfil e o engajamento de jovens baianos revelam a influência das redes sociais na circulação de convites, supostas oportunidades e narrativas sobre participação estrangeira no conflito. Enquanto a guerra segue sem perspectiva clara de encerramento, iniciativas como a da Advanced Company ampliam o debate sobre segurança, regulamentação e os riscos de recrutamentos feitos fora dos canais oficiais, especialmente em um cenário de conflito armado ativo.

Ao menos 12 brasileiros já morreram na guerra
Ao menos 12 brasileiros já morreram na guerra | Foto: Reprodução / Redes Sociais

Contexto do conflito

O conflito, que começou com a rápida investida de tropas russas e bombardeios por todo o território ucraniano, passou por fases de avanço, estagnação e contraofensivas, enquanto o planeta assistia ao colapso de Mariupol, ao massacre em Bucha e à resistência de Kiev, que jamais caiu apesar de cercada.

Forças ucranianas
Forças ucranianas | Foto: DIMITAR DILKOFF / AFP / AFP

Hoje, a guerra se encontra num estado de permanência incômoda. O presidente russo Vladimir Putin reforça publicamente que o conflito só terminará “quando as tropas ucranianas se retirarem dos territórios que ocupam”, acompanhando a ameaça com a afirmação de que, caso isso não aconteça, a Rússia garantirá o resultado “por meios militares”. A promessa de uma mediação internacional ainda flutua no horizonte, mas não há, até o momento, sinal claro de paz.

Jovens brasileiros morrem na Ucrânia

Caminho arriscado que, na prática, já tirou vidas brasileiras. Casos como o do mineiro Lucas Lima, morto em combate após meses no front, ou o do jovem paranaense Lucas Felype Vieira Bueno, que relatou ter sido enganado e enviado para a linha de frente mesmo buscando trabalhar com drones, expõem a fragilidade que envolve esse tipo de decisão extrema.

Lucas Lima, de 30 anos, perdeu a vida durante o conflito na Ucrânia.
Lucas Lima, de 30 anos, perdeu a vida durante o conflito na Ucrânia. | Foto: Reprodução / Redes Sociais
Lucas Felype Vieira Bueno declarou ter sido enganado ao chegar à linha de frente.
Lucas Felype Vieira Bueno declarou ter sido enganado ao chegar à linha de frente. | Foto: Reprodução / Redes Sociais

Ao menos 12 brasileiros já morreram na guerra, enquanto mais de 15 estão desaparecidos, segundo informações do próprio governo.

Na Bahia, um nome ganhou repercussão: o combatente conhecido como Big Jhon, ou “Arcanjo”, que integrou tropas especiais ucranianas e mais tarde virou personagem de denúncias e rumores de golpe envolvendo outros brasileiros interessados em se alistar.

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