ENTREVISTA EXCLUSIVA
Djamila Ribeiro: “Não dá pra pensar um projeto de Brasil sem vozes negras”
Escritora e ativista concedeu entrevista ao portal A TARDE em Salvador durante o Circuito Mulheres Negras em Movimento
Por Victoria Isabel

A Casa das Histórias em Salvador, foi palco de reflexões potentes sobre protagonismo e escuta durante o evento Mulheres Negras em Movimento. Entre os destaques da programação esteve a filósofa, escritora e ativista Djamila Ribeiro, que participou da roda de conversa no painel “Diálogos – Mulheres Negras em Movimento”, realizada em celebração ao 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, Dia Nacional de Tereza de Benguela e Dia Municipal da Mulher Negra em Salvador.
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Eu não acredito em dar voz, eu acredito em escutar as vozes
Em entrevista exclusiva ao portal A TARDE, Djamila, autora do livro Lugar de Fala reforçou a importância de espaços com acessibilidade e diversidade para romper silêncios históricos e fortalecer o protagonismo negro. “Eu não acredito em dar voz, eu acredito em escutar as vozes, porque a gente sempre falou, a questão é que a gente não era escutada. Iniciativas como essa escutam e amplificam. E não dá pra pensar um projeto de Brasil sem pensar nas vozes negras”, disse.

Questionada sobre o que significa de fato ser uma mulher negra em movimento em 2025, Djamila chamou atenção para o caráter ancestral e cotidiano da luta dessas mulheres.
“As mulheres negras sempre estiveram em movimento. Seja sustentando suas famílias, trançando cabelo, fazendo política, literatura, moda. A gente sempre se movimentou historicamente para lutar. Esse nome é muito bonito porque reconhece isso”, comentou.

Ativista do movimento negro internacionalmente, Djamila também destacou o simbolismo de estar em Salvador nesse momento. “A Bahia como um todo tem esse histórico de protagonismo. Tem Maria Felipa e outras tantas mulheres negras que foram importantes para a história do Brasil. Então, traz um significado muito maior de estar aqui como mulher negra participando num evento chamado Mulheres Negras em Movimento”, afirmou.

Feminismo interseccional
Atuante na pauta do feminismo interseccional -abordagem teórico-política que reconhece que as experiências de opressão e discriminação não são homogêneas entre todas as mulheres -, Djamila defende que é por meio da interseccionalidade que se nomeiam realidades, se geram políticas públicas e se demanda visibilidade.
"A interseccionalidade é a ferramenta fundamental, não só como conceito, mas ferramenta política para a gente nomear as realidades de mulheres negras que ficam nesse entrecruzamento de raça a classe gênero. Então a interseccionalidade nomeia a nossa realidade. Ela joga luz a isso, inclusive para gerar demanda de políticas públicas para que o estado e as políticas públicas nos enxergue", afirmou.
Livros e escrita
Ao comentar sobre o impacto de sua produção intelectual, Djamila relatou como é receber relatos de jovens que se identificam com suas obras e se sentem representadas por elas. “Eu fico muito feliz quando me escrevem dizendo que contribuí para a formação delas. Quando comecei, também criei um projeto de publicar outras autoras. Eu não queria vir sozinha. E quando vejo o alcance disso, penso: ‘Deu certo, faz sentido’. Esse reconhecimento é o maior de todos”, concluiu.

As obras de Djamila Ribeiro abordam temas como racismo estrutural, feminismo negro e desigualdades sociais, com o objetivo de contribuir para o debate sobre uma educação antirracista. Em seus livros, a autora propõe reflexões acessíveis sobre essas questões, alcançando diferentes públicos.
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