SALVADOR
Polêmica no Porto da Barra: banhistas elogiam praia com menos sombreiros
Agora, barraqueiros têm limite de cadeiras e sombreiros instalados
Por Gabriel Moura
A praia do Porto da Barra, um dos cartões postais mais famosos de Salvador, agora tem um limite de cadeiras e sombreiros instalados pelos barraqueiros. A medida da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) estabelece que cada autônomo pode ofertar, no máximo, 10 sombreiros e 30 cadeiras.
A ordenação e aumento da faixa de areia exposta na praia resultantes da ação foi celebrada por banhistas que antes se viam limitados pelo excesso sombreiros ocupando o espaço.
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Bárbara Meyer, 45, professora e frequentadora assídua da praia, destaca que a medida foi necessária para garantir o respeito ao espaço público. Ela recorda que, há alguns anos, chegou a ser impossível encontrar um local para estender sua canga devido ao grande número de cadeiras e sombreiros desnecessariamente ocupando o espaço.
"Os barraqueiros colocavam as cadeiras antes dos banhistas chegarem. Com isso, eram várias cadeiras vazias, sem uso, e não tinha espaço para eu colocar a minha canga", relata. Para ela, a regulamentação era uma medida inevitável, e o importante é que haja bom senso, tanto dos banhistas quanto dos barraqueiros, para que o uso da praia seja justo para todos.
O entusiasmo com a mudança é compartilhado com Alexandre Lenz, morador de Salvador há 15 anos. Ele afirma que, ao chegar à praia sem as barracas, percebeu uma sensação de maior liberdade.
"Dá espaço pra gente trazer nosso sombreiro, pra gente colocar nossa canga", explicou. "Eu acho bem injusto que tem espaço para todo mundo, que a praia seja democrática", conclui ele, destacando que a nova medida proporciona mais igualdade no uso do espaço público.
Já Sabrina Saad pondera, ressaltando que os sombreiros e cadeiras são a principal fonte de renda para muitos trabalhadores.
"É uma questão complexa, porque é entender também que é forma de sustento dessas pessoas, né? Mas também, para além disso, é o nosso cartão postal", disse ela.
Contudo, ela vê com bons olhos a criação de um limite para a quantidade de equipamentos nas praias, sugerindo que um prazo de adaptação poderia ter sido dado aos trabalhadores, para que a transição não fosse tão abrupta.
"Os trabalhadores já planejam o pagamento de contas para os próximos meses com a renda do verão. Uma mudança assim de última hora gera um grande impacto no orçamento dos trabalhadores. Acho que o ideal seria anunciar a medida agora e começar a implantar após o Carnaval, por exemplo", pondera.
Preço deve triplicar
A medida deixou os trabalhadores indignados. Os barraqueiros alertam que não conseguem mais segurar os preços diante das mudanças, e que quem for aproveitar os itens, poderá pagar um pouco mais caro.
“Infelizmente a Barra vai se tornar uma praia de luxo. Quem quiser usufruir agora dos aparelhos, infelizmente vai ter que pagar o custo que não vai ser o mesmo. Então vai ser um pouco mais impactante também pra quem está curtindo”, disse Terezinha de Jesus, 55, que trabalha há 19 anos na Barraca do Silas.
Trabalhadores apontam, que o aluguel da cadeira, que antes chegava a R$ 5, deve subir para R$ 15 e, o do sombreiro, que era R$ 10, subirá para R$ 30. Nesta quarta-feira, 29, os ambulantes aceitaram a decisão da Semop e diminuíram a quantidade de cadeiras e sombreiros, aumentando a faixa livre de areia para uso dos banhistas. Assim, os kits só serão disponibilizados após pedido dos banhistas.
Na praia do Porto da Barra, são 35 ambulantes, o que corresponde a 350 sombreiros e 1.050 cadeiras no total.
Por outro lado, ambulantes e barraqueiros apontam que a medida pode prejudicar os trabalhadores e solicitam novas formas para conciliar os benefícios para banhistas e clientes.
Terezinha diz ainda que as novas regras limitam o ganho dos barraqueiros, que já estavam acostumados com a grande quantidade de clientes. Ainda segundo a autônoma, é preciso que a Semopforneça, ao menos, uma quantidade mínima para atender ao grande volume de banhistas no verão.
“A gente só tem três meses para ganhar e noventa para perder porque temos o verão a melhor estação para ganhar dinheiro. Temos que aproveitar esse momento, já que no restante do ano, conciliamos com a volta às aulas, o trabalho das pessoas. As pessoas que estão em casa não vão vir para a praia porque têm seus gastos em casa, suas reservas em casa, e não vem o fluxo de turismo que vem nessa época, que é esses três meses”, disse ela.
Graziela Ribeiro, 24, é barraqueira e concorda com as medidas aplicadas pela Semoo, mas faz críticas aos banhistas que procuram e solicitam o serviço, mas que fomentam de forma negativa a armação de barracas e cadeiras na praia.
“Acho injusto e hipócrita a ideia de solicitar nossos serviços e depois criticar a quantidade de itens. Uma outra coisa é que isso vai mexer com os nossos ganhos e salários. Isso é uma falta de empatia porque é a única renda que temos para sobreviver. Como trabalhamos com limites, infelizmente com a redução de quantidade, teremos que aumentar porque se não, a conta não fecha”, disse ela.
Ela aponta que todos os anos os ambulantes precisam pagar licenciamento e precisam ganhar o valor suficiente para se manter e conseguir pagar as contas. “Acredito que precisa haver empatia. Acredito que tem que ter diálogo para beneficiar a todos, clientes, banhistas e trabalhadores”, continuou.
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