SAÚDE
Mounjaro é vendido de modo irregular para fim incorreto de emagrecimento
Especialistas chamam atenção para riscos que uso inadequado pode acarretar na condição de saúde do usuário
Por Madson Souza

Mesmo antes do início oficial das vendas, versões do Mounjaro já vêm sendo comercializadas de forma irregular. O medicamento para diabetes tipo 2 é mais uma das alternativas que ganhou popularidade por seu uso incorreto, com fins de emagrecimento.
E sua venda nas farmácias, mediante receita médica que fica retida, não deve resolver os riscos envolvidos na clandestinidade e no uso inadequado. Ainda assim, a chegada do fármaco é vista de forma positiva pelo secretário geral do Conselho Regional de Farmácia da Bahia (CRF-BA), Francisco Pacheco
“O tema está tão em evidência que diante da dificuldade de acesso até quem nunca pensou na questão da legalidade, pode ter pensado no uso irregular. Então a legalidade vai permitir que as pessoas que queiram usar o medicamento de forma correta tenham acesso. (...) Não é quem estava clandestino migrando para a regularidade. Quem faz a prática clandestina vai continuar”, comenta.
Altera o metabolismo
A empresária do ramo estético Dalila Ribeiro, 34, fez tratamento com o medicamento de janeiro a março para emagrecer e relata ter perdido 13kg.
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“Durante o tratamento da fibromialgia engordei 10kg em seis meses e depois fiquei com dificuldade de emagrecer. Fiz dieta, atividade física e nada deu certo. Ficava muito mal com os comentários que ouvia, ainda mais por trabalhar no ramo da estética. Até que um cliente me apresentou o tratamento com Mounjaro para emagrecer e deu certo”, conta.
Mesmo com o relato de Dalila, Pacheco explica que o medicamento não é adequado para tal fim. No caso do Mounjaro, que é um remédio que altera o metabolismo da pessoa, uma das consequências é que assim que se pare de tomar o medicamento o metabolismo de seu usuário volte para seu estado anterior.
O medicado ainda corre o risco de sofrer um efeito rebote, ou seja, o organismo, para compensar o estresse metabólico a que foi submetido com o uso do medicamento, pode engordar mais do que antes.
Outros riscos para o uso inadequado do Mounjaro incluem a sobrecarga da função renal, hepática e cardíaca, por isso é um medicamento que requer acompanhamento médico e de equipe multidisciplinar. Se a pessoa já possui alguma limitação ou deficiência em algum desses órgãos a consequência pode ser ainda pior.
Há também o perigo de outros efeitos colaterais graves com o uso incorreto da medicação, como náuseas, desnutrição e pancreatite aguda, de acordo com a médica endocrinologista e membro da comissão de diversidade, equidade e inclusão da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Andreza Berlink
“Esse medicamento só pode ser utilizado sob condições específicas e é indicado para situações de utilização de um tempo mais curto e determinado para efeitos em situações em que há necessidade de um emagrecimento mais rápido, como algum procedimento médico”, completa Francisco Pacheco.
Com receita médica
O remédio neste momento pode ser reservado em farmácias presentes na Bahia por R$1.406,75 na apresentação de 2,5mg e R$1.759,64 na de 5mg. Para combater o uso inadequado, o Mounjaro é vendido apenas com receita médica, conforme norma da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Além disso, quando estiver nas farmácias, a receita para compra do medicamento deve ficar retida.
“A retenção da receita é uma vitória do ponto de vista de coibir o uso desenfreado dessas medicações. Pode reduzir muito o uso indiscriminado da medicação em pacientes sem indicação do uso, que usam para fins estéticos”, comenta a médica endocrinologista. Contudo, ela reforça que é preciso uma maior conscientização das propoostas de uso. “Não é uma caneta emagrecedora, é um medicamento para tratamento contínuo ou crônico de diabetes e obesidade”, afirma.
Além do perigo do uso inadequado do fármaco, há também o risco de falsificações quando adquirido na clandestinadade. “Ninguém sabe o que tem ali. E você vai injetar em você uma substância que pode ser até um veneno? Ninguém sabe o que está ali dentro”, diz Pacheco. A falta de conhecimento do ativo presente ou se a medicação foi armazenada de forma correta são apenas exemplos do perigo da compra clandestina do Mounjaro.
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