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Novas diretrizes incentivam aferição domiciliar da pressão arterial

Hipertensão atinge 24% da população brasileira e tem caráter multifatorial

Publicado segunda-feira, 29 de abril de 2024 às 05:00 h | Autor: Jane Fernandes
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Uma doença crônica que atinge cerca de 24% da população brasileira, a hipertensão arterial ganhou novas diretrizes para a aferição, aumentando a importância desta medição no diagnóstico e acompanhamento dos pacientes hipertensos. As orientações foram divulgadas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) durante evento realizado em meados do mês.

“É uma doença que tem um caráter multifatorial, existe uma herança genética, mas existem elementos que fazem com que o indivíduo adquira essa doença, em que mantém a elevação da pressão arterial em dias diferentes”, explica o vice-presidente da Associação Baiana de Medicina e chefe da cardiologia do hospital Mater Dei Salvador, Nivaldo Filgueiras.

O diagnóstico da hipertensão é feito após uma série de aferições, realizadas ao longo de alguns dias, darem resultado igual ou maior do que 140 mmHg por 90 mmHg (milímetros de mercúrio) - popularmente expressada como 14 por 9. Segundo o médico, a doença só será diagnosticada na primeira medição quando o valor encontrado for muito elevado, se inserindo na faixa que caracteriza a hipertensão estágio 3.

Para ser classificada como estágio 3, a pressão arterial aferida precisa ser igual ou maior que 180 por 110 (18 por 11), lembrando que o valor mais alto é referente à pressão sistólica e a mais baixa à pressão diastólica. A pressão é considerada normal entre 120-129 por 80-84, acima disso e menor que 140 por 90 já configura pré-hipertensão.

Interferências

Ao incentivar a automedida, explica o cardiologista, a proposta da SBC é eliminar algumas interferências que podem ocorrer na aferição ambulatorial, a exemplo da hipertensão do avental branco, que ocorre quando “o indivíduo tem a pressão alta por uma certa ansiedade quando vai ao consultório”. O contrário também pode acontecer, caracterizando um mascaramento da hipertensão: a aferição domiciliar tem resultado elevado e no consultório a aferição fica dentro da faixa de normalidade.

“Ajuda também na avaliação se o tratamento que o médico cardiologista está fazendo está adequado, ou seja, se precisa, por exemplo, acrescentar alguma medicação ou se precisa ver o grau de adesão ao tratamento”. Para ter a aferição domiciliar como hábito, o paciente precisa ter o aparelho de medição, que pode ser adquirido em farmácias. Existem diferentes modelos e alguns deles têm selo do Inmetro, um indicativo de controle de qualidade.

Além da automedição e da aferição ambulatorial, a avaliação da pressão arterial também pode ser feita pela monitorização domiciliar realizada por alguns dias, com medidor emprestado por uma unidade de saúde, e pelo exame MAPA (monitorização ambulatorial da pressão arterial), caracterizado pela utilização de um aparelho, por 24 horas, que realiza automaticamente a aferição da pressão a cada 20 minutos.

Conforme nota enviada pela Secretaria Municipal de Saúde de Salvador, o exame de Monitorização Residencial de Pressão Arterial (MRPA) “pode ser indicado como ferramenta inicial para auxílio nesse diagnóstico e conduta para todos os pacientes hipertensos, ocorrendo de forma rotineira nas unidades básicas, sendo realizado através de aferição domiciliar por um período de tempo e reavaliado, em seguida, pela equipe médica ou de enfermagem”.

Fatores

Além da existência do componente genético no desenvolvimento da hipertensão, o que representa uma maior chance de ter pressão alta quando pais, avós ou irmãos apresentam a doença, o médico destaca outras causas relacionadas.

Uma delas é a idade, pois o risco aumenta à medida que a pessoa envelhece. Segundo a SBC, a prevalência chega a 61% na população com 65 anos ou mais. “Existe um enrijecimento - digamos assim - dos vasos, das artérias e isso favorece a elevação da pressão arterial”, comenta.

O estilo de vida é outro fator importante, especialmente o excesso de sal na alimentação cotidiana. “A gente recomenda, no máximo, a ingestão de até cinco gramas de sal por dia e a média da população brasileira é em torno de nove gramas, em alguns cenários até doze gramas de sal por dia, o que é muito”, alerta, acrescentando que alimentos ultraprocessados costumam ter grande quantidade de cloreto de sódio (sal).

A redução na ingestão de potássio e o sedentarismo também favorecem a elevação crônica da pressão arterial. “A obesidade também é causa de elevação da pressão arterial e, hoje, cerca de 30% da população brasileira tem obesidade ou sobrepeso”. Filgueiras destaca ainda o estresse entre os fatores de risco, lembrando que pessoas com dificuldades socioeconômicas geralmente apresentam mais a doença.

O tratamento da hipertensão tem a parte não farmacológica, além da prescrição de medicamentos para o controle da pressão arterial. No primeiro grupo está a mudança nos hábitos de vida, com alimentação mais saudável, com redução da ingestão de sal e a prática de 150 minutos de atividade aeróbica por semana. Ainda nesta seara entra a inclusão de atividades prazerosas e/ou meditação no cotidiano do paciente.

“Existem inúmeros medicamentos padronizados para o controle da pressão arterial. Hoje, existe uma tendência em que a associação de duas medicações seja melhor do que uma medicação única. Ao invés de usar dose máxima de um medicamento, às vezes é melhor associarmos dois medicamentos com doses menores, e esse efeito sinérgico acaba favorecendo o controle da pressão arterial”, esclarece.

Hipertensão é fator de risco para infarto e AVC

“A hipertensão é um problema de saúde pública gigantesco. No Brasil, a gente tem mais de 300 mil mortes de origem cardiovasculares no ano e pelo menos metade dessas estão intimamente associadas à hipertensão”, ressalta o cardiologista Marcus Vinícius Freire de Carvalho, do Hospital São Rafael Rede D’Or. A pressão arterial elevada é o principal fator de risco para o infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular cerebral (AVC).

Sobre a doença, o médico explica que “consiste justamente no aumento da pressão sanguínea a cada instante, forçando as paredes dos vasos sanguíneos, e isso acaba acarretando uma série de lesões a longo prazo”. Outro aspecto destacado por ele é o fato da hipertensão dificilmente ser um fator de risco isolado, surgindo quase sempre associada a outras doenças com implicações na saúde cardiovascular.

“Se a gente for pensar em diabetes, colesterol alto, obesidade, essas doenças estão muito imbricadas, relacionadas, compondo o que a gente chama de síndrome metabólica. A prevalência de diabetes, por exemplo, num paciente hipertenso é duas vezes maior do que em um paciente que não é hipertenso e boa parte desses pacientes também têm colesterol alto”.

Em sua avaliação, enquanto problema de saúde pública, a hipertensão deveria ser abordada nas escolas, incluindo a orientação das crianças para a leitura dos rótulos dos alimentos e a conscientização sobre dar prioridade a descascar em lugar de desembalar. “Essa questão precisa vir da base, não só da atenção primária, mas também das crianças e adolescentes, até porque 10% deles estão hipertensos”.

Embora garanta ter cultivado bons hábitos alimentares desde a sua infância, o servidor público Fábio Matos Fernandes, 46 anos, passou por uma reorientação alimentar após o diagnóstico de hipertensão e diabetes, em 2011. Vencida a dificuldade inicial de se organizar com os medicamentos, ele tornou-se um paciente bem disciplinado com o tratamento, o que inclui a prática de atividade física.

Como consegue controlar bem sua pressão arterial, Fábio não costuma fazer aferições domiciliares frequentes, mas tem o aparelho e usa sempre que julga necessário. “Uma vez ou outra, quando passo por uma questão de estresse e vejo que estou sentindo aquela leve dor de cabeça, aí eu faço a aferição”, completa.

Cuidados para aferição

Não praticar exercícios físicos nas últimas uma hora e meia.

Não tomar café nos últimos 30 minutos.

Estar com a bexiga vazia.

Ficar sempre com as costas apoiadas, pernas descruzadas e os pés encostados no chão.

É importante estar em um ambiente calmo, para não dar alteração na pressão.

O braço tem que ficar sempre na altura do coração e a palma da mão virada para cima.

A altura do manguito, que é o aparelho de medição, deve ficar mais ou menos dois a três centímetros acima da dobra do braço.

Não fazer movimentos bruscos na hora da medição.

Fontes: Sociedade Brasileira de Cardiologia e Ministério da Saúde

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