As 15 novelas que a Globo deveria esquecer e apagar da história

Nem toda produção da Globo é sinônimo de sucesso. Ao longo de décadas de teledramaturgia, algumas novelas da emissora decepcionaram o público, sofreram com baixa audiência e se tornaram lembradas mais pelos erros do que pelas histórias.

Entre enredos confusos, personagens pouco carismáticos e tramas que não conquistaram o telespectador, várias produções acabaram entrando para a lista das piores novelas já exibidas pela emissora.

Mesmo com grandes elencos e altos investimentos, algumas dessas obras provaram que nem sempre a fórmula do sucesso se repete.

O Portal A TARDE ouviu profissionais e montou um TOP 15 das novelas que a Globo gostaria ou deveria esquecer. A lista conta com títulos que vão de 'Os Gigantes' (1979), a 'Mania de Você' (2024), 'Babilônia' (2015), 'Tempos Modernos' (2010), 'Bang Bang' (2005), entre outros.

Os nove especialistas em televisão e telenovelas ouvidos foram:

• Jorge Brasil (Mais Novelas);
• Carla Bittencourt (Portal LeoDias);
• Cássio Moreira (A TARDE);
• Márcia Pereira (Notícias da TV);
• André Romano (Observatório da TV);
• Nathalie Maia (Novelíssimas);
• José Vannucci (Canal do Vannucci);
• Henrique Haddefinir (Série Maníacos e Omelete);
• Edu Secco (Duh Secco).

A lista montada pela reportagem segue a ordem de lançamento das novelas na tela da Globo.

TOP 15 novelas que a Globo deveria esquecer:

1. Supermanoela (1974), de Walther Negrão

Jorge Brasil (Mais Novelas):

O público não entendeu nada da novela. Com o fracasso de audiência e reclamações com a história, a produção foi amontoando inúmeros problemas nos bastidores, como cortes da censura do regime militar no Brasil, atores pedindo para deixar o elenco no meio da trama e brigas frequentes.

2. Os Gigantes (1979), de Lauro César Muniz

Jorge Brasil (Mais Novelas):

Uma de minhas novelas preferidas de Lauro César Muniz, a trama foi moderna demais para o horário. Uma protagonista acusada de eutanásia e que se mata no último capítulo. Conflito entre a Igreja católica e os líderes da umbanda, queixa dos patrocinadores, revoltados com as críticas às empresas multinacionais e temas fortes como lesbianismo e gravidez fora do casamento afastaram o espectador.

3. Amor é Nosso (1981), de Roberto Freire e Wilson Aguiar Filho

Edu Secco (Duh Secco):

Uma novela produzida para impulsionar a carreira musical de Fábio Jr.. Tenho curiosidade pela trama desde que li, no extinto Orkut, que a Globo havia descartado as fitas por conta do fracasso.

Os autores Roberto Freire e Wilson Aguiar Filho pretendiam falar da juventude dos anos 80, mas, além da falta de comunicação entre eles e da diferença de objetivos, já que a emissora queria mesmo projetar Fábio na música, a Censura marcou em cima. Walther Negrão assumiu o texto, mas a novela já estava tão comprometida que não havia quase nada a ser feito.

4. De Corpo e Alma (1992), de Glória Perez

Henrique Haddefinir (Série Maníacos e Omelete):

Depois do sucesso de 'Barriga de Aluguel', Glória Pérez ficou afastada da Globo por um tempo, mas retornou para salvar o horário das 20h depois que 'Renascer' saiu da fila de produção e o horário precisava ser preenchido. A novela foi exibida numa época em que novelas fracassadas davam mais audiência que as que fazem sucesso hoje em dia.

De fato, De Corpo e Alma teve popularidade com seu núcleo de strippers e com o personagem gótico vivido por Eri Jonhson. Mas, qualquer sucesso foi esmagado pelo assassinato de Daniela Perez, filha da autora, pelas mãos de Guilherme de Pádua, que fazia seu par romântico na novela. Guilherme e sua esposa Paula Thomaz emboscaram e apunhalaram Daniela depois que ela se recusou a ceder à manipulação dele; que tinha medo de que seu papel na novela diminuísse.

O crime aconteceu pouco depois da metade da novela já ter sido exibida. Mas, por razões óbvias, dali por diante toda a história se degringolou.

A novela já não era muito boa, mas acabou também se tornando um produto impossível de ser reprisado, revendido ou mesmo celebrado por suas qualidades.

5. Bang Bang (2005), de Mário Prata

Jorge Brasil (Mais Novelas):

A tentativa de repetir a crítica social de 'Que Rei Sou Eu?' (1989), que se passava na era medieval, dessa vez num típico cenário de faroeste norte-americano, fracassou miseravelmente.

Além da trama inverossímil e dos personagens com nomes estranhos, o público, em plena primavera/verão brasileiros, não suportou assistir a uma novela empoeirada, em tons crus e com personagens vestidos com roupas quentes.

José Vannucci (Canal do Vannucci):

Foi confusa. Ela tinha uma proposta interessante, mas chegou na hora errada, as pessoas não entenderam a novela e aí tentaram arrumar, mexer na novela e degringolou de vez. Eu acho que essa seria uma das novelas que a Globo pode esquecer de vez. Teve um lançamento meio complicado da Fernanda Lima, enfim, mas eu acho que foi uma decisão artística bem complicada.

6. Negócio da China (2008), de Miguel Falabella

Jorge Brasil (Mais Novelas):

Nada deu certo aqui. Fábio Assunção precisou se afastar logo no início da história para tratar dependência química, a trama com conotações orientais não agradou o público e, definitivamente, o texto do autor Miguel Falabella não se encaixou no horário das 6h. Totalmente esquecível!

7. Tempos Modernos (2010), de Bosco Brasil

Jorge Brasil (Mais Novelas):

A tentativa de fazer ficção científica no horário das 7h da Globo não deu muito certo, mas a verdade é que essa novela era ruim demais mesmo. E nem adianta culpar a temática. A história era confusa, sem sentido e nada envolvente, os personagens rasos e os capítulos entediavam o público.

Carla Bittencourt (Portal LeoDias):

Foi uma novela que tentou ser moderna, mas terminou presa no próprio conceito. Situações consideradas absurdas — como o protagonista conversando com um prédio — foram indicadores de que o enredo se perdeu na tentativa de ser diferente.

A novela das sete normalmente tem leveza, humor e tramas mais acessíveis. 'Tempos Modernos' tentou outro caminho e não conseguiu se comunicar bem com esse público.

O resultado foi um descompasso claro entre o que a produção queria (inovação) e o que o público esperava (entretenimento fluido). No fim, a Globo quis olhar pro futuro, mas acabou tropeçando no próprio holograma.

Cássio Moreira (A TARDE):

É uma novela que nada deu certo por um motivo inicial: ninguém ter compreendido do que se tratava a trama. Foi uma das piores coisas que já passou na Globo, foi um desastre de audiência, colaborou para crise no horário das sete.

Na época, foi a novela com a audiência mais baixa da história do horário. A premissa não era boa, o desenvolvimento pior ainda. É o tipo de novela que a Globo prefere fingir que não aconteceu.

8. Além do Horizonte (2013), de Carlos Gregório

Jorge Brasil (Mais Novelas):

Até hoje fico pensando onde estava a cabeça da pessoa que aprovou a sinopse dessa novela: à procura de seus familiares, três jovens vão parar na Comunidade, cidadela no meio da Amazônia, que atrai pessoas em busca de uma vida perfeita e feliz.

No local, o líder da Comunidade usa a "máquina da felicidade" para prender os moradores, com o objetivo de manter a existência do local. Tudo é tão surreal, mal desenvolvido e inconsistente que qualquer comparação com 'Lost' chega a ser ofensiva.

9. Geração Brasil (2014), de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira

Jorge Brasil (Mais Novelas):

Outra produção que considero injustiçada. Eu me divertia muito assistindo à trama de Izabel de Oliveira e Filipe Miguez, mas o Brasil odiou. As questões tecnológicas confundiam o público e ter sido retalhada, por ser exibida junto com a Copa do Mundo, não ajudou o telespectador a se envolver com a história.

10. Babilônia (2015), de Gilberto Braga e Ricardo Linhares

Jorge Brasil (Mais Novelas):

Dona do melhor primeiro capítulo de novela que já assisti, a trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares começou a fracassar já no segundo episódio.

O público mais conservador da época se escandalizou com o beijo na boca de Fernanda Montenegro e Nathália Timberg, que vivia um casal na história, e também rejeitou a predadora sexual interpretada por Gloria Pires. Resultado: boa parte do público migrou para 'Os Dez Mandamentos', que era exibida pela Record.

Márcia Pereira (Noticias da TV):

Foi uma novela que deveria marcar o grande retorno de Gilberto, ele voltando para o horário nobre com Ricardo Linhares, que é um grande parceiro dele. E a novela vinha com muita promessa, mas ela foi rejeitada logo no começo, por causa do beijo gay do casal de mulheres, formado por Fernanda Montenegro e Nathália Timberg.

Teve vários outros pontos e a novela virou um verdadeiro Frankenstein. Por causa da rejeição ao beijo delas, logo no primeiro capítulo, muita coisa foi mudando e quanto mais eles mexiam, mais a novela ficava ruim.

Enquanto isso, a Record estava andando muito bem com 'Os Dez Mandamentos'. Foi uma novela que o Gilberto Braga morreu querendo escrever um sucesso, e ele acabou não tendo essa oportunidade. [...] A história se perdeu, simplesmente assim.

11. Velho Chico (2016), de Benedito Ruy Barbosa e Edmara Barbosa

Jorge Brasil (Mais Novelas):

Essa novela é uma tristeza só. Poética, dona de temas sociais importantíssimos, ela afastou o público com sua estética barroca, imagem escura e personagens politizados demais.

Para piorar, o falecimento dos atores Umberto Magnani, Adilson Maghá e Domingos Montagner, faltando apenas duas semanas para o fim das gravações, traumatizou todo o país. Velho Chico nunca foi reprisada e dificilmente será!

Nathalie Maia (Novelíssimas):

É uma novela muito bonita, esteticamente muito bem pensada, com cenas e atores memoráveis. Mas, infelizmente, é uma novela marcada pela tragédia, que foi a morte do Domingos Montagnet duas semanas antes de acabar a novela, aquela situação que aconteceu da morte dele por afogamento dentro do rio.

Aquelas questões todas devem ter impactado muito diretamente os atores, o elenco que estava lá. Eu não imagino quão triste de você voltar ao trabalho logo depois disso. Acho que a solução encontrada pelos autores e pela direção foi a melhor possível. Aquele final é muito bonito e muito marcante mesmo. Mas é uma solução muito difícil de ser encontrada.

É uma novela que deixou essa marca por causa dessa tragédia. Eu acredito que essa é uma novela que não traz boas lembranças para as pessoas no geral devido à morte do Domingos, infelizmente.

12. Sol Nascente (2017), de Walther Negrão

Henrique Haddefinir (Série Maníacos e Omelete):

Quando foi anunciada, em 2016, 'Sol Nascente', de Walther Negrão, causou certa estranheza ao mostrar a mocinha Alice, filha adotiva de uma família asiática, sendo interpretada por Giovanna Antonelli. A informação de que Alice era adotada parecia ter sido criada para ajustar Giovanna (então esposa do diretor) na posição de protagonista.

A novela seguiu morna, perdeu seu autor principal, e ficou dependente de coadjuvantes como as vividas por Letícia Spiller e Laura Cardoso. Anos depois, a atriz Danni Suzuki veio a público contar a história verdadeira por trás dos bastidores da novela.

Negrão teria escrito Alice para ela, mas antes das gravações começarem ela teria sido avisada que eles mudariam a faixa etária da protagonista e ela já estaria acima desse número. Danni seria redirecionada para outra personagem, até descobrir que Giovanna (mais velha que ela) ficaria com o papel principal.

Frustrada com a situação, Danni deixou a novela. Nos dias de hoje isso talvez não acontecesse, mas as declarações de Suzuki acabaram fazendo de Sol Nascente um hematoma severo na história da nossa teledramaturgia.

13. O Sétimo Guardião (2018), de Aguinaldo Silva

Jorge Brasil (Mais Novelas):

Foi um combo completo. Tinha uma história capenga, personagens estereotipados, que o excelente elenco não conseguiu dar credibilidade, e os bastidores... Misericórdia! Autor acusado de apropriação intelectual, adultério entre o elenco, protagonistas que não se suportavam, tramas esquecidas... O caos completo!

Márcia Pereira (Noticias da TV):

Voltava o realismo fantástico, o gato que vira homem e existia uma grande expectativa. Se construiu uma cidade cenográfica espetacular, que tinha aquela gruta com o lago em que as pessoas rejuvenesciam quando entravam na água. A gente esperou muita coisa e ela virou um fiasco.

14. Verdades Secretas II (2021), de Walcyr Carrasco

Edu Secco (Duh Secco):

Das recentes, 'Verdades Secretas II', primeira empreitada para o streaming. A Globo e o Globoplay pretendiam surfar no êxito do original, exibido às 23h em 2015.

O roteiro era fraco, os personagens pareciam deslocados dentro da nova narrativa, a direção abusava de luzes e outros efeitos e as cenas ousadas, que conquistaram o público na primeira temporada, eram constrangedoras, com coreografias que remetiam ao TikTok.

15. Mania de Você (2024), de João Emanuel Carneiro

André Romano (Observatório da TV):

A trama começou com muito potencial — elenco de peso, visual caprichado e uma proposta moderna sobre ambição, influência e amor tóxico — mas perdeu o rumo logo nos primeiros meses.

Por interferências internas e mudanças de direção, vários temas fortes foram cortados ou suavizados, esvaziando o enredo e deixando a história sem identidade. O resultado foi uma novela irregular, que começou promissora, mas terminou sem impacto e sem deixar saudade.