NO VERMELHO?
Com rombo de R$ 700 milhões, Globo corta festas para salvar o ano
Globo passou a fazer corte de custos nos últimos meses

Por Edvaldo Sales

A Globo não vai fechar o ano como esperava. A emissora não deverá bater sua meta de receita com publicidade em 2025, da ordem de R$ 10 bilhões (só a TV aberta). O faturamento deverá ficar cerca de R$ 700 milhões abaixo do projetado por suas próprias lideranças, segundo apuração do Notícias da TV.
O reflexo dessa realidade já pode ser observado nas movimentações mais fortes de corte de custos nos últimos meses. As novelas da emissora estão com menos cenas externas e figurantes.
Além disso, até as tradicionais festas de final de ano da empresa, que confraternizam funcionários por áreas, foram canceladas em 2025, ano em que a emissora completou 60 anos e o Grupo Globo, 100.
De acordo com o site, as lideranças correm para cortar custos para salvar uma segunda meta, a de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), que mede a geração de caixa da empresa.
O Ebitda também determina a margem de lucro operacional. Se essa margem ficar abaixo de 80% da meta, ninguém receberá PLR (Participação em Lucros e Resultados). O corte de custos é para compensar a frustração com as receitas com publicidade.
Os números de 2025 divulgados até aqui são bons, porém, como apontou relatório do banco JPMorgan em setembro, houve uma “deteriorização da lucratividade”, o que tem relação diretamente com o Ebitda.
Primeiro e segundo trimestre
A Globo faturou, no primeiro trimestre, R$ 4,1 bilhões, resultado 13% superior ao do mesmo período de 2024. Esse valor inclui as receitas da TV Globo, Globoplay, canais pagos e demais operações digitais. Mas os custos e as despesas foram impactadas pela integração da Eletromidia (empresa de mídia exterior) e do Telecine (plataforma de filmes).
Já no segundo trimestre, a receita chegou a R$ 4,5 bilhões, mantendo o crescimento de 13%. No entanto, os custos mais altos com eventos ao vivo, incorporação da Eletromidia e despesas administrativas maiores reduziram o Ebitda para R$ 286 milhões. A margem caiu para 6,4%, ante 10,6% no segundo trimestre de 2024 e 15,7% no primeiro trimestre de 2025.
Pressão
Diante do cenário preocupante, a área de vendas de publicidade da Globo tem sido muito pressionada para compensar a queda com receitas de assinaturas (canais pagos e Globoplay), que já representaram 43% do faturamento e hoje respondem por menos de 35%.
Um relatório da Globo aponta que o crescimento de receitas no segundo trimestre foi impulsionado pela publicidade digital, não pela TV aberta, e por assinaturas do Premiere Play (Brasileirão).
Apesar do crescimento de usuários e audiência, o Globoplay não tem apresentado alta significativa de receita de assinaturas porque seu principal acordo, com a Claro, estipula um valor fixo a ser pago pela operadora.
Pela primeira vez desde 2014, a Globo deve superar em 2025 a casa dos R$ 16 bilhões, dos quais cerca de R$ 10 bilhões virão de publicidade na TV aberta. Em termos nominais, as receitas estão estagnadas há mais de dez anos. Os R$ 16,2 bilhões que a emissora faturou em 2014, atualizados pelo IPCA, o índice de inflação oficial, equivaleriam a R$ 28,6 bilhões em 31 de dezembro de 2024.
Demissão
Ainda segundo o Notícias da TV, a pressão para alcançar metas que salvem o PLR de 2025 foi exposta na semana passada por um funcionário que enviou um e-mail a todas as lideranças da casa questionando o corte de custos e a degradação das condições de trabalho, com baixos salários e supostos desrespeitos à legislação trabalhista.
No e-mail, o funcionário, um diretor de TV (profissional que orienta cinegrafistas e edita ao vivo imagens captadas em estúdio), perguntava: “Verdade que a festa de final de ano foi cancelada por conta desses cortes?”. A mensagem circulou em toda a Globo e o profissional foi demitido.
E as metas, vai bater?
Ao site, a Globo confirmou o cancelamento das festas de final de ano dos departamentos, mas disse que a decisão não tem a ver com receita abaixo do previsto ou corte de gastos, mas sim com os 60 anos da TV e 100 anos do grupo.
“Em razão das comemorações dos 100 anos, realizamos duas grandes celebrações agora no segundo semestre para todos os funcionários do Grupo Globo, uma no Rio de Janeiro e outra em São Paulo”, disse a Globo em nota.
Além disso, a emissora negou os cortes e as supostas irregularidades trabalhistas apontadas pelo ex-funcionário em e-mail. A empresa afirmou, por fim, que trabalha para alcançar todas as metas estipuladas para 2025, “apesar de um contexto econômico desafiador ao longo do ano”.
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