MISTURA DE GÊNEROS
Osba lota TCA com sofrência sinfônica no Osbrega
Waldick Soriano, Reginaldo Rossi, João Gomes e até Grelo ganharam releituras em espetáculo
Por Bianca Carneiro
Maestro posicionado, cordas, madeiras, metais e percussão alinhadas, é hora da Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba) brilhar no palco da Concha Acústica do Teatro Castro Alves (TCA). Na noite desta sexta-feira, 10, não faltaram clássicos no repertório do grupo. Pelo menos, não dos nomes aos quais normalmente se associam a ele: Beethoven, Mozart, Bach, Chopin deram lugar a grandes sucessos dos não menos famosos Wando, Reginaldo Rossi, João Gomes e Grelo durante o "Osbrega - Concerto do Amor".
>>> Lavagem do Bonfim: especialista orienta cuidados com a pele
Sob regência do maestro Carlos Prazeres, e com participação dos cantores Almério e Mãeana, o projeto retornou depois de um hiato de dois anos. E o sucesso foi absoluto: a sessão de hoje, que seria única, precisou ganhar uma data extra, neste sábado, 11, após os ingressos esgotarem.
Com um público formado principalmente por pessoas com mais de 50 anos, o concerto não deixou de lotar a Concha, mesmo debaixo de chuva. Para o regente, o sucesso da iniciativa especial vem da sensação de identificação do público com a própria Osba.
>>> Daniela Mercury lança ‘Axé Salvador’ para celebrar 40 anos do gênero
“A orquestra entrega para a sociedade uma missão de trocar com a sociedade e não de civilizar a sociedade. Muita gente entende orquestra com aquela máxima, nós vamos tocar música boa, para escutar aquilo que vocês escutam, para escutar o que nós estamos mostrando a vocês, que é mais evoluído. São coisas completamente diferentes, sabe? Você não vai comparar um quadro atual com os afrescos da Capela Sistina em Roma. Não tem nada a ver uma coisa como essa”.
>>> Proibição de bronzeamento artificial provoca debate sobre atividade
Diversa, a setlist passou por várias canções românticas icônicas, justificando a alcunha de "Concerto do Amor", como "Porque Brigamos", "Porque Homem não Chora", - Mas o brega também pode ser divertido. Prova disso foi a performance de "Morango do Nordeste", que arrancou risadas do público. Porém, também não faltou espaço para a ópera. "Rusalka", do tcheco Antonín Dvorák, se tornou um verdadeiro tributo a lua dos apaixonados.
E quem estava na plateia, mesmo com a chuva intensa que caía, aprovou a mistura. As aposentadas Maria de Fátima Berlink, 63, e Maria de Lourdes Andrade, 72, não pouparam elogios a Osba e ao maestro Prazeres.
"Estou gostando de tudo", elogiou Maria de Fátima. “Gosto da animação do maestro. No início eu achei estranho a mistura de brega com orquestra, achei que iria diminuir o gênero, mas não tem nada a ver. Esse é o segundo que venho”, confessou Maria de Lourdes.
Prazeres disse que foi uma preocupação não estereotipar o brega, e sim homenageá-lo, por isso, até evitou usar roupas no concerto que pudessem remeter ao pejorativo. “A gente faz uma homenagem aos compositores que se dedicaram a falar de amor para toda a sociedade. E esse amor ele une desde o caminhoneiro até o mais alto CEO da maior empresa, porque todo mundo tem ciúmes, todo mundo já chorou por um amor não correspondido, todo mundo”.
Música para tocar o coração
E se a proposta era tocar o coração, a orquestra conseguiu. Entre cantos de sofrência e sorrisos, houve até quem chorou - pensando em amores passados talvez? - ou não conseguiu se manter sentado para arrochar. “Escolhemos músicas para tocar o coração, e digo isso como um recém-divorciado”, brincou o maestro.
Mas pelo menos entre os músicos, o clima foi de descontração e irreverência nos ensaios, revelou a cantora Mãeana. “Foi divertido, um clima de amor total, a Osbrega é linda de se viver”, disse ela que dividiu o palco com Bem Gil, filho de Gilberto Gil, em "Se For Amor", de João Gomes.
"Foi muita risada mesmo. Eu confesso que eu vivi numa bolha quando era criança, só ouvia música clássica. Então, isso aqui não é minha linguagem materna, mas pelo menos 70% dos músicos da orquestra se conectaram também com seus pais. Muitas vezes alguns deles passam a ser músicos por causa dessa linguagem. O nosso trombonista começou a tocar trombone por causa de garçom do Reginaldo Rossi, porque ele achava bonito os pais dele ouvirem e ele começou a tocar trombone por isso. Então, além de um clima de reverência, o pessoal ri das letras, tem um clima de muito amor também envolvido nessa história", completou Prazeres.
Outro convidado do concerto, o cantor recifense Almério afirmou que é libertador cantar brega em um ambiente de espetáculo. O recifense também performou a autoral "Quero você", gravada em dueto com Maria Bethânia e trilha sonora da novela "Renascer". “É um convite também às pessoas que não têm acesso à música erudita a tocarem nesse lugar, a acessarem nesse lugar. E eu acho importante a nossa música romântica e brega, ela é muito importante”.
Data extra do Osbrega
E quem não conseguiu curtir a sexta tem outra opção neste sábado, 11. A sessão adicional acontecerá às 19h, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves. As entradas estão à venda na Sympla e na bilheteria do TCA por R$60 (inteira) e R$30 (meia).
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes