A TARDE ESG
Encontro da Amazônia Verde com a Amazônia Azul
COP 30 foca em Amazônia Azul, Economia do Mar e descarbonização

Por Eduardo Athayde*

Sediando a Conferência das Partes na cidade de Belém, na Amazônia, o Brasil tem a oportunidade de mostrar para o mundo o potencial dos seus ativos naturais como a floresta, os recursos hídricos, a biodiversidade, e também incluir a mundialmente desconhecida Amazônia Azul, uma Zona Econômica Exclusiva de 200 milhas náuticas de largura, com 5.7 milhões de km2 (IBGE), maior que a verde, que circunda toda a extensa costa nacional.
Na COP 30, o mundo presenciará, pela primeira vez, o encontro da Amazônia Verde com a Amazônia Azul, que destaca a Baía de Todos os Santos – central à costa nacional, maior baía do país e berço da civilização brasileira – como sua capital.
Tradicionalmente, as COPs focam nas emissões terrestres e florestas, mas na realização da conferência em um país com uma vasta área costeira e a importância estratégica da Amazônia (e sua interface com o Atlântico) é importante trazer o debate oceânico para o centro das atenções. A economia do mar (ou economia azul) terá um papel de destaque nas discussões da COP 30. Incluídos na agenda climática global, esses debates antecipam um pacote de medidas e compromissos.
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Especialistas, apoiados pela presidência brasileira da COP 30, defendem a necessidade de integrar políticas de uso sustentável dos recursos oceânicos nas metas climáticas nacionais e globais, e a integração Oceano-Clima numa espécie de "Pacote Azul". Espera-se que a conferência resulte em compromissos concretos relacionados à economia do mar e que envolvam o uso sustentável dos recursos marinhos para o crescimento econômico.
As atividades econômicas ligadas ao mar são vastas e abrangem setores como óleo e gás, porto, transporte marítimo, logística, energia renovável oceânica, descarbonização, pesca e aquicultura, turismo costeiro e marinho, biotecnologia e náutica; além das tradições culturais e as tradições espirituais - hoje todos influenciados pela velocidade da inteligência artificial (IA).
O potencial de crescimento sustentável do PIB global do mar é intenso, observando o fato de que as crescentes transações comerciais entre países são feitas via marítima. No Brasil, a economia do mar movimenta cerca de 2 trilhões de reais por ano, equivalente ao montante movimentado pela agricultura.
Um dos desafios na COP 30 será o de alinhar interesses econômicos com a urgência da conservação, permitindo aos países marcarem um ponto de virada onde o desenvolvimento econômico azul deixe de ser um tema secundário para se tornar um pilar central.
Outro desafio enorme desta balzaquiana Conferência das Partes, ora realizada em um cobiçado berço de biodiversidade, é o de considerar encontros constantes e virtuais, uma espécie de COP-V, para atingir os seus desejados efeitos descarbonizantes. O cálculo da pegada de carbono de um evento global desse porte é complexo e depende de vários fatores, como o número de participantes, a logística de transporte aéreo, o consumo de energia e a gestão de resíduos durante a conferência. Iniciativas de neutralização para compensar as emissões devem ser anunciadas.
Com os avanços das ferramentas oferecidas pela inteligência artificial (IA), estes velhos, agradáveis e caros encontros carbonizantes entre países amigos – que geram seus respectivos tratados, muito relembrados em época de COP – tendem seguir uma nova dinâmica, quem sabe virtual, trimestral e carbono zero, diante da urgência manifestada. A IA deve acelerar o crescimento econômico, com incremento nas emissões de carbono, em cerca de 10% nas próximas 3 COPs, segundo Yousef Khalidi, vice-presidente da Azure.
Os avanços recentes na Inteligência Artificial (IA), integrada em processos na vida cotidiana, são marcados por um rápido progresso, especialmente em modelos de linguagem, geração de conteúdo e marcas das pegadas de carbono. A emissão média de carbono (CO₂) por pessoa nos Estados Unidos é de aproximadamente 14,2 toneladas por ano, quase o triplo da média global de cerca de 4,8 toneladas por ano.
Analisando a velocidade e o impacto do crescimento global e das emissões de gases de efeito estufa durante a ECO 92, do Rio, quando as COPs foram criadas, a população global da época era de 5.4 bilhões de pessoas e o PIB Global de 28 trilhões de dólares. Em apenas 33 anos adicionamos mais 2.8 bilhões de pessoas ao mundo e mais 97 trilhões de dólares, chegando a um PIB global de 125 trilhões de dólares nesta COP 30.
COPs tradicionais não atendem mais a exigências do “Nosso Futuro Comum”, título do relatório publicado em 1987 pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), presidida pela ex-primeira-ministra da Noruega, Gro Brundtland, que deixou como legado a introdução do conceito de desenvolvimento sustentável a nível global. Este sentimento está florescendo do seio desta COP verde e azul das Amazônias.
*Eduardo Athayde é diretor do WWI no Brasil e membro da Comissão de Economia do Mar da Associação Comercial da Bahia
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