VALE A PENA?
Aditivos para veículos: mitos, riscos e a verdade sobre o desempenho
Produtos recomendados para a gasolina são, na verdade, detergentes e dispersantes

Por Jair Mendonça Jr

Especialistas alertam que a falta de fiscalização na gasolina aditivada e o uso de "boosters" (produto altamente concentrado que intensifica os efeitos de outros tratamentos) ineficazes podem prejudicar o motor e confirma a baixa eficiência dos produtos que prometem aumento de performance.
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A controvérsia em torno dos aditivos automotivos continua a confundir motoristas, que são frequentemente bombardeados por propagandas e informações conflitantes.
Enquanto a aditivação correta é fundamental para a saúde do motor, o mercado está repleto de produtos inúteis e até perigosos.
O debate central gira em torno da gasolina aditivada e na falta de padronização e fiscalização do produto vendido nos postos de combustíveis, segundo a própria Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Importância dos aditivos de limpeza
A gasolina brasileira, devido ao seu elevado teor de carbono, tem propensão a provocar a formação de depósitos carboníferos nas cabeças dos pistões. O acúmulo desse "carvão" prejudica a combustão, reduzindo a potência e aumentando o consumo.
Os aditivos recomendados para a gasolina são, na verdade, detergentes e dispersantes. Sua função primária não é aumentar a potência, mas sim manter o motor limpo, evitando a perda de desempenho e o aumento do consumo causados pela carbonização.
A gasolina aditivada vendida nos postos possui, além da gasolina tipo C e etanol anidro, a adição desses detergentes, dispersantes e agentes anticorrosivos. As grandes distribuidoras realizam a mistura do aditivo (na ordem de partes por milhão – PPM) no momento de encher os caminhões-tanque.
Fiscalização
Embora a gasolina aditivada seja altamente recomendada por especialistas como o engenheiro e jornalista Boris Feldman, ele alerta que a falta de fiscalização rigorosa da ANP sobre a dosagem de aditivos nos postos gera desconfiança. Embora a ANP fiscalize a qualidade e quantidade da gasolina, ela não regula nem registra aditivos específicos.
Diante dessa incerteza, Feldman sugere uma solução econômica e eficaz: o motorista deve abastecer com a gasolina comum (que é geralmente mais barata) e adicionar, por conta própria, um frasco de aditivo de marca confiável, seguindo as recomendações do fabricante.
Especialistas alertam para os riscos desses produtos, especialmente aqueles que utilizam óxido ferroso em sua composição. Embora o óxido de ferro possa aumentar ligeiramente a octanagem, os riscos são altos: ele pode danificar as velas de ignição e o catalisador, um componente extremamente caro do veículo.
A ineficácia dos boosters foi confirmada em pesquisa acadêmica. Um estudo realizado no 2º Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo & Gás avaliou quatro aditivos comerciais do tipo "octane booster" adicionados à gasolina comum.
Os resultados foram claros: não houve variação significativa do índice antidetonante (IAD, MON ou RON) após a adição desses produtos. Nenhum dos quatro aditivos testados foi capaz de aumentar a octanagem em mais de 0,6 ponto, mesmo em dosagens superiores às recomendadas.
A pesquisa concluiu que o mercado brasileiro está aceitando produtos inócuos e que, na verdade, a gasolina comum brasileira (Tipo C), que contém etanol em sua formulação, já possui um índice antidetonante satisfatório (IAD mínimo de 87, podendo atingir média de 91,1).
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