Como evitar golpes na compra ou venda do carro usado

A internet facilita as transações de compra e venda de veículos usados entre pessoas físicas, mas o ambiente virtual exige cuidados, porque é terreno fértil para os golpes e fraudes. Levantamento feito pela OLX revela que cerca de 91 mil golpes de compra e venda de veículos online foram aplicados em 2023 no Brasil. A soma das perdas totaliza em um valor estimado de R$ 2,7 bilhões. O Brasil é um dos líderes mundiais em fraudes online, junto com China, EUA, México e Rússia.

O estudo mostra que São Paulo é o estado com maior ocorrência de golpes: 28% dos casos. Outros estados que aparecem em destaque na pesquisa são: Minas Gerais (8%), Rio de Janeiro (7%) e Bahia (6%). Os golpes causaram um prejuízo exorbitante, no entanto, o levantamento aponta que que houve uma redução de 60% em relação a 2022. “Atribuímos a queda nos números à melhoria na eficácia das medidas de segurança das empresas, por meio do aprimoramento da tecnologia e a maior educação digital dos usuários”, afirma a VP de Produtos da OLX, Beatriz Soares.

“As pessoas estão cada vez mais atentas aos golpes, sendo impactadas por campanhas de conscientização e matérias na imprensa. Esse é um ponto muito importante para reduzirmos o número de golpes, uma vez que os fraudadores atuam por engenharia social, utilizando-se do desconhecimento da vítima sobre o processo de compra e venda. Também nessa direção, as empresas têm investido cada vez mais em tecnologia, com soluções de inteligência artificial e aprendizado de máquina, que possibilitam barrar mais rapidamente a ação dos fraudadores”, explica Beatriz. “Diante disso, a expectativa é que esses números continuem a diminuir, mas para isso é fundamental uma atuação conjunta entre sociedade, empresas e autoridades”, pondera.

A Bahia

E por que a Bahia aparece em destaque no ranking dos golpes? “Os golpes online acontecem sem delimitação de fronteiras. Os fraudadores procuram locais onde há maior concentração de negociações online. A Bahia é um grande estado, no qual os consumidores vêm aderindo cada vez mais ao comércio online”, explica a VP de Produtos da OLX.

As transações de compra e venda de carros representaram 64% dos casos. As fraudes com motos somaram 31% dos casos, e com os caminhões registraram 5% das ocorrências. Há um golpe muito comum em Salvador e Região Metropolitana que envolve a clonagem de anúncio do lojista, conta o presidente da Associação de Revendedores de Veículos do Estado da Bahia (Assoveba), Ari Pinheiro Junior.

O golpista clona o anúncio do carro, com o preço muito barato e o telefone de contato dele. Orienta o possível cliente a ir ver o carro na revenda. Entra em contato com o lojista e diz que um primo, ou amigo vai ver o carro para ele, e inventa uma história pedindo para que o lojista não fale o preço do carro com o suposto amigo. O desfecho é que o cliente cai no golpe e faz o depósito para o golpista que clonou o anúncio. “São situações muito difíceis, para a vítima e para o lojista, em geral vão parar na delegacia. Já vi até casos de morte por causa disso”, lamenta o empresário.

“Uma dica importante para não cair nesse golpe, ou em qualquer outro, é sempre desconfiar de anúncios com preço muito abaixo do mercado. Aí tem alto risco. Outra coisa é não transferir dinheiro antes de efetivar a compra do carro. E ao fazer a transferência verificar se a conta é da revenda onde o carro está localizado”, orienta Pinheiro. “Jamais aceitar intermediação de terceiros na compra ou venda. Tudo deve ser negociado com o dono do carro, lojista ou comprador”.

Muito barato: cuidado

Mário Silveira, proprietário da Mário Veículos, também alerta sobre o perigo que representa um anúncio com o preço do carro muito barato. “Muitas vezes a pessoa se empolga, cresce o olho e esquece de avaliar a realidade dos fatos”. Ele alerta que a compra ou venda do carro exige pesquisa, estudo e cautela. Outro golpe comum parte do anúncio em plataformas digitais, sites, redes sociais, que oferece carro usado ou seminovo com preço baixo e financiamento rápido para negativados. “Nesse caso, o golpista pede um sinal geralmente de R$ 1.000,00 para aprovação do cadastro. O cliente nunca mais vê a cor desse dinheiro”, comenta Pinheiro.

Outra fraude comum é apresentação do laudo cautelar falso. “Ao analisar um laudo, verifique se o QR Code permite visualizar o documento na internet, na página da empresa que gerou o documento”. Entretanto, a melhor alternativa é o próprio interessado na compra levar o carro em um posto credenciado do Detran para fazer a avaliação. Se o vendedor afirmar que recebeu o veículo em sorteio ou consórcio, e que o possível comprador precisa pagar uma taxa para retirar o carro, não caia, é golpe.

“A gente paga antes de ver o filme, no cinema, mas na compra do carro não pague nada antes de ter a posse do veículo”, aconselha Mário Silveira. Os lojistas advertem que a compra/venda feita direta, entre pessoas físicas, tem riscos maiores. “Comprar em um estabelecimento comercial sério, consolidado, com referência no mercado, é sempre mais seguro”, destaca Pinheiro.

É comum ainda o golpe do falso pagamento, onde o fraudador se passa por um suposto usuário e confirma a compra do item, mas envia um falso comprovante de depósito por e-mail ou aplicativo de mensagem, indicando que o pagamento do produto já foi realizado – quando, na realidade, não foi. Existe ainda o anúncio falso, que ocorre quando o golpista anuncia produtos que não existem, pede o pagamento total ou parcial do item antes de enviar e depois some.