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Motoristas por aplicativo criam códigos para se prostituir em Salvador
Minoria vê atividade como forma de complementar a renda
Por Gabriel Moura
A chegada da madrugada significava que Luís* entrava na décima hora de trabalho em Salvador com R$ 300 angariados em corridas de aplicativo, valor fora de sua meta. Após conferir o horário no celular, aceita uma solicitação partindo de uma boate no Rio Vermelho em direção a um motel no Costa Azul. Entram dois homens, simpáticos, que puxam assunto com o condutor. Já próximo ao destino final, a oferta: "Gostaria de se juntar a nós? Pagamos R$ 200".
"Eu sou heterossexual e namorava uma mulher na época. Só que estava endividado, precisando muito do dinheiro. Os R$ 200 era quase o que eu tinha recebido com as corridas até então. Acabei aceitando", narra o motorista.
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A escolha de Luís foi tomada por alguns motoristas por aplicativo da capital baiana, que transformaram-se em 'prostitubers' para incrementar os ganhos. Vale ressaltar que essa prática é adotada por um grupo ínfimo de condutores.
As relações quase sempre envolvem homens - tanto o cliente quanto o provedor do serviço. Para dar o match e garantir a segurança de todos os envolvidos no trato, foram criados códigos.
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O mais conhecido é a 'bala Halls' no painel do carro. Ao deixar o doce à mostra para o cliente, o condutor espera que o passageiro peça a bala, iniciando a negociação. Para deixar ainda mais clara a intenção, alguns deixam o doce na coxa ou virilha.
Outros códigos ocorrem no chat, como escrever apenas a letra 'B', como sinal para 'boquete', ou 'C' para 'cu'. A estratégia é usada para burlar o algoritmo e as regras da plataforma que proíbem palavras de baixo calão.
As próprias ferramentas das plataformas também viram mecanismos, como a negociação de valor. É comum potenciais clientes oferecerem valores altos para uma corrida curta, por exemplo. A reportagem teve acesso a um print mostrando um usuário identificado como "KeroRola" se disponibilizando a pagar R$ 200 por um trajeto que finda do outro lado da rua.
InDrive e 99 possuem esta função de negociar valor.
Estratégias
Líder do segmento, a Uber é usada de outra maneira. Ricardo*, outro motorista adepto da prática, costuma parar o carro próximo a saunas gays ou baladas LGBTQIAPN+ e aguardar chamadas partindo deste lugar. Após a solicitação, inicia a negociação.
"A maioria dos pedidos ocorrem via Uber, com boa parte dos clientes só querendo ir para casa ou outro destino mesmo. Mas aí tem que dar uma paquerada, jogar um charme, para fazer um 'desvio'", gaba-se.
O valor cobrado depende do cliente, assim como da necessidade por dinheiro na noite. "Pela 'mamada', por exemplo, já recebi de R$ 20 a R$ 300 de um turista que queria 'provar o gosto' do trabalhador baiano."
Ambos os condutores não costumam prospectar clientes fora da plataforma, apesar de fornecerem o contato caso o passageiro deseje uma nova 'corrida'.
Assédio
A popularização da prática já faz até os próprios passageiros assumirem uma linguagem mais direta. Nas redes sociais é comum encontrar relatos de motoristas que foram surpreendidos no chat dos aplicativos com alguma proposta indecorosa.
No caso de motoristas que usam motos ao invés de carros já há até vídeos mostrando clientes aproveitando o contato físico natural entre motoristas e passageiros neste veículo para assediar e apalpar os motoqueiros.
Recentemente passou a circular nas redes sociais um que mostra o momento em que um motociclista de aplicativo agride um passageiro após o mesmo passar a mão em suas partes íntimas durante viagem no centro do Rio de Janeiro. As cenas foram registradas pelo próprio motociclista, que xinga e ameaça o passageiro após parar a moto devido ao ocorrido.
A equipe de reportagem do Portal A TARDE procurou a empresa Amobitec (Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia), mas até o momento não obteve resposta.
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