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20/06/2024 às 5:05 • Atualizada em 20/06/2024 às 12:53 - há XX semanas | Autor: Gabriel Moura

DINOSSAURO DO PORNÔ

O que acontece no Cine Tupy, o último cinema pornô de Salvador

Local funciona há décadas na Baixa dos Sapateiros

Entrada do cine Tupy é discreta
Entrada do cine Tupy é discreta -

Dois homens trocando carícias na porta do banheiro, excitando um terceiro que se masturba; uma travesti seminua desfilando entre as poltronas enquanto cantarola a música de abertura da novela “Cheias de Charme”; um grupo formando fila para contratar os serviços de um garoto de programa. No cine Tupy, o último dos pornôs de Salvador, o filme exibido nas telas não é a atração principal – e nem o sexo mais explícito.

Honrando o clichê da mistura do sagrado e profano, a atração está cravada na Baixa dos Sapateiros, dividindo o muro com uma igreja evangélica. Já a função social é exposta discretamente no letreiro acima da entrada: “filmes adultos”.

Desembolsando os R$ 13 que dão acesso ao local, o freguês penetra numa antessala que lembra um boteco de bairro, com cadeiras de plástico e televisão exibindo a programação da TV Globo. No menu, a pipoca é desfalque, substituída por cervejas e camisinha.

Antessala possui arquitetura única
Antessala possui arquitetura única | Foto: Margarida Neide / Ag. A Tarde

Na sala de exibição, a escuridão é total. O odor, um megazord de mofo, cigarro e porra. O som, uma mistura dos gemidos da tela com o da plateia. Em meio a isso, um rapaz me aborda, investigando meu objetivo no local. Rapidamente ele se identifica como garoto de programa e, logo após ‘me queixar’, explica a prostituição no local.

Travestis e michês formaram um cartel, onde todos combinaram o valor de R$ 50 pelo serviço completo. A chegada de novatos também é mal vista. Quem tem o Tupy como ponto geralmente atua por lá há muitos anos, e recorre à violência física para afastar novos trabalhadores. Já os dias de maior movimento são sexta, sábado e domingo, onde chegam a fazer 10 programas por dia.

“Para aguentar, só ‘aditivado’. Uso remédios e até injeção para ficar sempre pronto”, revela ele, antes de levantar, abaixar a bermuda e exibir sua virilidade turbinada.

Enquanto tentava me ajeitar no que restava de uma cadeira, provavelmente danificada durante uma transa mais enérgica, outro gigolô senta ao meu lado. “Bora cair na gandaia?”, convoca o homem, que logo depois se gaba: “Já dei duas fodas ali. Estou pronto para a terceira.”

Se na minha fileira o assédio era constante, na de trás uma roda se formava ao lado de uma travesti que praticava sexo oral em um senhor. Finalizado o serviço, ela engoliu o gozo, passou o antebraço na boca para secar o líquido que respingou nos lábios tingidos com um intenso batom vermelho e anunciou: “Próximo”.

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Público

Na catraca do cinema, o entra e sai é constante. Homens na faixa dos 40 anos, que parecem usar o intervalo do almoço na obra ou os minutos após deixar os filhos na escola para se aliviar. “Eles vêm aqui para dar o cu e chupar pica”, esclarece um garoto de programa.

É comum observar esses senhores de joelhos para os jovens ‘boys da casa’. Para evitar que as roupas se manchem durante a ‘finalização do serviço’, eles tiram tudo, exceto as brilhantes alianças que ostentam nos dedos anelares.

Quando de quatro, clamam por maior intensidade e escolhem o penetrante com critérios anatômicos: quanto maior, melhor. Já o estrepitoso gemido soa como grito de libertação para quem usa a escuridão e discrição do lugar para viver fetiches e orientação sexual durante o horário comercial.

‘Isso não vai fechar’

A sala raramente fica cheia, até nos dias mais movimentados. A plateia se aglomera nas paredes, banheiros e quartos improvisados. As cadeiras são majoritariamente usadas por exibicionistas que desejam usá-las para emular o que é transmitido no telão.

A aparente baixa ocupação é refutada pelo atendente do bar, que trabalha por lá há 29 anos. “Aqui funcionamos no esquema entra e sai”, brinca. Após o automático lá ele, o trabalhador continua. “Os filmes rodam em sequência, então não é como um cinema normal, onde as pessoas vão assistir um título específico. Alguns passam cinco minutos e vão embora, outros um pouco mais. É uma alta rotatividade. No fim do dia, somamos um bom público.”

Já o grupo que controla o local é o mesmo que possui salas em alguns dos principais shoppings da capital baiana.

E o investimento é constante. Em 2017, trocaram o letreiro. Durante a pandemia, período em que o Tupy ficou fechado, pintaram a antessala. Obras fundamentais para manter em pé o dinossauro do pornô, que, ao lado do Glauber Rocha, possui o título de um dos únicos cinemas de rua em funcionamento em Salvador.

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Cine Tupy cinema adulto Cultura local HISTÓRIA DO CINEMA Salvador

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