EXPERIÊNCIA
Tudo é permitido: os segredos e regras da maior casa de swing da Bahia
Conheça os segredos e regras da troca de casais
Por João Rosa*
Uma da manhã de uma madrugada de sábado para domingo. Enquanto a maioria dos soteropolitanos recebe o “boa noite” de Serginho Groisman ou pede a saideira ao garçom, uma loira que aparenta ter 40 anos usa uma das mãos para tirar o sutiã e ajoelha-se apenas de calcinha no centro de uma roda formada por três homens nus e eretos. Um quarto se aproxima, tirando o pouco de roupa que ainda a resta. Neste momento, ela afasta os lábios da virilha de um dos rapazes, dando um raro descanso à boca, para gemer alto: “Que gostoso”. A noite na In-Off está apenas começando.
Localizada numa rua residencial de Patamares, a In-Off é uma casa de swing discreta, mas famosa. Todos os vizinhos e alguns forasteiros mais bem informados conhecem a finalidade da “Melhor de Salvador”, inclusive a motorista por aplicativo que levou o repórter até o local. “Hoje a noite vai ser animada, hein?”, brincou a condutora, que soltou uma envergonhada risada após ver o endereço final da corrida.
Chegando até o bem sinalizado “freedom club” na rua Manoel Antônio Galvão, o primeiro contratempo. “Só pode entrar usando calça, senhor”, informa a atendente, apontando para a minha bermuda. Felizmente esta é uma gafe aparentemente comum entre frequentadores, visto que o local tem um estoque de jeans para fornecer aos clientes em caso de emergência.
Ao lado da recepção, um quadro com as regras da casa, que vão da proibição de celulares e câmeras até o óbvio “não é não”. Em letras garrafais, o lema do lugar: “Aqui tudo é permitido, mas nada é obrigatório.”
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Quase comum
Calça vestida e celular trancado em um cofre, a entrada foi autorizada. Passando pela cortina de veludo que separa a área interna da recepção, a sensação era de entrar numa boate comum.
Um DJ colocava Marília Mendonça para tentar animar os dois únicos casais que chegaram antes das 22h. Eles sentavam em sofás colados na parede com uma mesa à frente, ocupada por uns baldes de cerveja. Já o chão tem ladrilhos pretos e brancos que lembram um tabuleiro de xadrez, interrompidos apenas por um palco com uma barra de pole dance no centro.
Entediado com o espaço ainda vazio, o DJ da sofrência se aproximou de mim e da amiga que me acompanhava para puxar assunto e levar-nos para um ‘tour’ pela parte swing da casa.
Há quartos coletivos e privados – a existência de uma porta os difere. Entre os compartilhados, existem os maiores, onde cabem até 20 pessoas, e até locais de ‘glory hole’. O grande destaque é o ‘aquário’, onde tijolos são trocados por vidro, possibilitando quem está do lado de fora admirar tudo que ocorre na cama.
“Mas isso aqui está tranquilo agora. O negócio pega fogo só depois das apresentações interativas”, prometeu o funcionário.
Showzinho
O aguardado show estava marcado para a meia-noite, e assim aconteceu. Primeiro um gogoboy subiu ao palco fazendo movimentos exagerados e simulando sexo com a barra de pole dance, cadeiras e, claro, as frequentadoras.
Algumas mulheres demonstravam certa timidez ao serem convocadas para contracenar com o musculoso descamisado, mas os maridos eram os maiores incentivadores. Um leve arrependimento dos parceiros aparecia pouco depois em forma de piada. “Faz isso tão bem não, rapaz”, clamava um homem da plateia. “Ela vai ficar mal acostumada, e eu não consigo fazer tudo isso em casa.”
A apresentação do rapaz era intensa, mas ninguém tirava a roupa, apenas algumas convidadas mais empolgadas. Inocentes e novatos que eu e minha amiga éramos, inferimos que versão feminina seria igual quando a stripper nos chamou para o palco. Tadinhos.
Guiando-nos pelas mão, ela nos abandonou no centro da boate e foi até um canto de onde sacou um colchonete. A moça estendeu-o no chão, cobrindo o tablado xadrez, e pronta para o xeque-mate: “Deita”, mandou.
Obedeci, enquanto lá de baixo via a garota beijar e tirar a roupa de minha amiga. “Senta na cara dele”, ordenou para a despida, que veio em minha direção e tapou-me a boca com a vulva.
Naquele cenário surreal, uma dose de realidade nos incorporou quando a minha parceira abaixou a cabeça e me olhou com uma cara de “que porra é essa?”. Este shot transformou-se em um litrão de pânico, que converteu-se numa piscina de ansiedade. “Você vai transar com 50 pessoas te olhando, desgraça?”, berrava meu cérebro para mim.
Pânico, ansiedade e respiração obstruída pelas duas pernas que apertavam meu rosto. Ingredientes como estes não poderiam resultar em algo diferente: quando a stripper começou a desabotoar a emprestada calça jeans para ‘brincar’ comigo, o 'coleguinha' esbanjava uma previsível flacidez.
Eu, que estava com medo de transar na frente de 50 pessoas, broxei na frente de 50 pessoas.
Não por culpa da coitada stripper, que deu seu melhor para renascer o querido. Mas era caso perdido.
Após alguns minutos, minha amiga desacoplou de minha face, a trabalhadora recolheu as roupas para me entregar, e eu levantei com tanta vergonha que conseguia apenas olhar para o chão. Apesar disso, tudo que ouvia eram aplausos e palavras de incentivo por minha ‘coragem’.
A noite começou
Já vestidos e sentados no sofá, eu e minha amiga permanecemos em silêncio, evitando até trocas de olhares. Na nossa frente, os casais caminhavam rumo à parte – nem tão – reservada da In Off. Após alguns minutos, também fui para os quartos.
Lá me deparei com a já citada loira que praticava sexo oral em três ao mesmo tempo enquanto era penetrada por um moreno; casais esgotando o kama-sutra para encaixarem-se naquele emaranhado de pernas que transformou-se aquele quarto; uma dezena de voyeurs encostados na paredes para confortavelmente se masturbar enquanto apreciavam a cena que fazia ‘Game of Thrones’ parecer tão puritano quanto ‘Dora, a Aventureira’.
No afamado aquário, a stripper fazia borbulhas de amor e passava a noite em claro dentro de uma casada que aparenta ter 50 anos. Tudo ao olhar atento do marido e de outros entusiastas que se aglomeravam para contemplar no camarote que formou-se no corredor.
Poucos metros depois, um casal nos abordou e iniciou uma conversa. Após ouvirem ‘não’ para a desejada ‘troca’, surgiu outra proposta, desta vez para irmos até um motel para apenas observar eles fazendo sexo. Igualmente recusada.
Em outro cômodo, mais uma sugestão. Uma das raras moças com menos de 30 anos me abordou, beijando em seguida. Quando descolou os lábios de mim, perguntou se eu era bissexual. Após a resposta negativa, não escondeu a cara de decepção. “Queria ver você comendo meu namorado”, lamentou.
Cansados de esperar algo à quatro, eu e companhia recorremos ao a dois. Em um dos poucos quartos vazios, começamos a nos beijar e ensaiar tirar a roupa, quando uma mão cutucando minhas costas nos interrompeu: “Posso observar vocês?”, perguntou o homem.
Respondi que sim - afinal, o quarto era público -, desde que mantivesse uma certa distância. Seguimos nos beijos, toques e carícias, até que cometi o erro de abrir os olhos novamente, quando percebi o rapaz se tocando enquanto nos via.
Minha reação instantânea foi rir. Uma crise de risos. Rir por estar num lugar que nunca imaginara, rir por ter broxado num palco rodeado por 50 pessoas, rir por acabar de ver dezenas de desconhecidos transando, rir por excitar um homem de meia idade que nunca vi antes e, tomara, nunca verei novamente. Rir igual o Coringa de Joaquin Phoenix.
A cena irritou o observador e terminou de constranger a minha companheira, Saímos do quarto, mas naquele momento também não havia muito o que ver, pois o “nossa, eles estão transando” virou “ah, eles só estão transando”, e fazer, além de ir embora. E assim fizemos.
O que é Swing
Swing é a popular ‘troca de casais’, onde pessoas, consensualmente, compartilham os parceiros. As Casas de Swing, como a In Off, são locais para facilitar o encontro entre aqueles que se interessam ou estão dispostos à esta prática. Por lá também circulam exibicionistas, quem gosta de ser observado, e voyeurs, quem gosta de observar.
A prostituição é veementemente proibida nestes locais e todos os contatos físicos são previamente combinados.
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