Jacarés invadem as ruas após fortes chuvas em Salvador e RMS | A TARDE
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Jacarés invadem as ruas após fortes chuvas em Salvador e RMS

Quatro jacarés foram resgatados em apenas um dia na capital e Região Metropolitana de Salvador

Publicado terça-feira, 09 de abril de 2024 às 18:22 h | Atualizado em 13/04/2024, 14:40 | Autor: Leilane Teixeira e Téo Mazzoni
Foto: Divulgação | GCM
Foto: Divulgação | GCM -

O número de jacarés que apareceu em áreas urbanas de Salvador e Região Metropolitana (RMS em apenas um dia chamou atenção: foram quatro animais resgatados apenas nesta segunda-feira, 8. Dois deles foram capturados pelo Grupo Especial de Proteção Ambiental da Guarda Civil Municipal de Salvador (Gepa) e mais dois pela Companhia de Polícia e Proteção Ambiental (Coppa).

A presença recorrente de animais silvestres em áreas urbana é justificada principalmente perda de habitat, ocasionada pelo desmatamento, construções em áreas irregulares como APPs ou próximas a fragmentos de vegetação, muitas vezes último refúgio desses animais. No caso dos jacarés, pela degradação dos rios, da ausência vegetação ripária, agravado pelas fortes chuvas que atingiram nossa região, como explica o biólogo Heigon Henrique Q. Oliveira, em entrevista ao Portal A TARDE.

>> Vídeos: em dia de chuva, jacarés são resgatados em Salvador e RMS

"As aparições de muitos jacarés essa semana aconteceram, principalmente, por causa das grandes chuvas, com muita água, os rios transbordaram. Esses animais, que vivem muitas vezes em condições já degradadas pela poluição acabam saindo de seus locais de vida e/ou são levados pela correnteza, principalmente em rios que foram canalizados devido à ausência de estruturas que sirvam de suporte contra a correnteza. Com isso, esses animais acabam indo parar no fundo de residências, nas praias, ou são avistados próximos à córregos e rios", diz.

O mestre em Zoologia, explica ainda que o processo de degradação ambiental que se agrava com o fim das áreas verdes da cidade tem contribuído para que esses e outros animais apareçam "no lugar errado", onde antes era seu habitat natural e se transformou em área urbana edificada.

"Como não conseguimos mais impedir as interferências já existentes nos ambientes, cabe a nós impedir que estes animais sejam molestados ao serem avistados, ou mortos para fins de alimentação (caça)".

Como vivem?

O Coordenador do Grupo Especial de Proteção Ambiental (Gepa), Robson Pires, contou ao Portal A TARDE que os jacarés são animais de hábitos noturnos e durante o dia formam grupos para tomar sol. Eles alimenta-se de peixes, aves e mamíferos. Seu período de reprodução é entre janeiro e março - época das grandes enchentes dos rios - e põe entre 30 e 60 ovos por ninhada. Além disso, podem viver até 50 anos e não comem lixo.

"É normal o aparecimento deles essa semana, pois como tivemos um grande volume de chuvas, eles terminam saindo do seu habitat natural para a zona urbanizada. Em períodos de pouca chuva eles ficam onde tem água, pois necessitam dela para sobreviver e se reproduzir. Aqui em Salvador estão nas lagoas e riachos, podendo aparecer em esgotos em caso de enchente. Mas preferem água limpa, inclusive, são bioindicadores pois onde eles vivem a água é limpa e abriga outros animais que servem de alimento para eles".

Resgate

As companhias de proteção ambiental em Salvador e RMS como a Coppa, Gepa e, em alguns casos, o Corpo de Bombeiros, devem ser acionados. Eles retiram o animal do local e levam para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), que são unidades do Inema e Ibama responsáveis pelo recebimento. No local, o Cetas realiza os serviços de identificação, marcação, triagem, avaliação, tratamento, recuperação, reabilitação e destinação desses animais, tendo como objetivo maior a devolução deles para a natureza.

"Pela legislação, o animal ao ser resgatado tem que ser encaminhado para um Cetas. No caso de Salvador, temos o Cetas do Inema e o do Ibama. Não ficamos com animais, resgatamos e entregamos imediatamente. Os Cetas funcionam como hospitais de animais silvestres onde os veterinários e biólogos identificam, fazem análise, passam por quarentena e se estiver tudo bem, vão para a soltura", diz o coordenador.

Robson destaca que raramente os jacarés atacam os seres humanos. O foco dos desses repteis é ir atrás de animais fracos e doentes e que não conseguiriam escapar facilmente de seu ataque. Apesar de não ser um prática comum, a Gepa alerta para evitar tocar no animal, ao contrário do que foi visto no resgate feito por moradores na segunda-feira, 8, em um córrego no Subúrbio Ferroviário. Nas imagens, moradores amarram uma corda no animal e "pescou" o animal, levando-o ao solo.

"O cidadão nunca deve pegar no animal pois pode se acidentar, ferir ou até matar o animal. Existem equipamentos especializados para captura de animais silvestres e os técnicos são treinados para isso", pontuou.

Apesar da pressão por parte da construção civil e invasões de terras públicas, ainda possui muita área verde com resquícios de Mata Atlântica, onde mais de 200 espécies de animais já foram resgatadas pelo Gepa em 10 anos de atividades no município, sendo 620 animais só no último ano, com destaque para as cobras, jabuti, sariguê e corujas, dentre os animais mais resgatados. Já a Coppa, capturou 685 animais em 2023. Sendo 39 apenas neste mês de abril.

Encontrei um jacaré, e agora?

Caso encontre um jacaré em área urbana, basta solicitar o resgate através dos contatos:

GEPA-(71) 3202-5312

COPPA - (71) 3116-9151

Também é possível acionar o Corpo de Bombeiros através do 193.

Ao Portal A TARDE, a comandante da Coppa, Érica Patrícia, reforça a importância de acionar órgãos competentes para fazer o resgate. Segundo ela, equipes como a da Coppa, atuam efetivamente para fazer o resgate correto levando segurança para o animal. 

"Preocupado com essa demanda crescente, sobretudo por conta do grande acúmulo de chuva, a Coppa realizou durante uma semana, em parceria com o Inema, o curso de manejo de animais silvestres no Jardim Zoológico, tanto a nível de conhecimento teórico, mas também com aulas práticas para que os policiais militares tenham essa atualização constante. Tudo visando o bem-estar do animal". 

Soltar na natureza de uma vez? Jamais!

Pessoas comuns não podem ficar com um animal silvestre e soltá-lo na natureza depois.

A soltura é feita em Asas (Áreas de Soltura de Animais Silvestres), locais determinados e catalogados para receber as espécies indicadas para aquele bioma. O animal não pode ser solto em qualquer local, sob pena de desequilíbrio ambiental e danos ambientais irreversíveis. Ao soltar um animal silvestre em um local qualquer,  pode morrer, destruir a fauna e a flora, onde isso irá afetar toda a biota local, além do ser humano também. 

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