MOBILIDADE
Ponte Salvador-Itaparica avança e promete mudar o mapa da Bahia
Confira detalhes que foram revelados sobre o empreendimento, além de prazo para entrega e projetos de expansão para o Recôncavo
Por Alan Rodrigues

Com a assinatura do aditivo contratual para elaboração do projeto executivo da ponte Salvador-Itaparica, a contagem regressiva para o maior empreendimento de engenharia da América Latina já começou. Em seis anos, a ponte, de 12,4 km, deve ser entregue à população.
Para se ter uma ideia, a maior ponte construída até hoje no continente é a Rio-Niteroi, que completou 50 anos em 2024, com 8,8 km de extensão sobre a água. A sondagem, concluída no mês de abril, foi o primeiro desafio vencido no projeto que é pioneiro na América Latina.
A Baía de Todos os Santos está localizada sobre uma falha geológica e a lâmina d´água alcança, nos pontos mais profundos, 65 metros. Para a sondagem, foi preciso atingir uma profundidade total de 200 metros, algo nunca visto na engenharia brasileira.
Toda essa tecnologia foi desenvolvida na China, onde as mesmas empresas responsáveis pela Ponte Salvador-Itaparica têm ‘case’ de sucesso mundial na infraestrutura, a ponte Hong Kong-Macau, com 56 km, mais de quatro vezes a extensão do projeto idealizado na Bahia.
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Cláudio Villas Boas é o CEO (Executivo-chefe) do Consórcio da Ponte Salvador-Itaparica. Engenheiro de formação, com graduação e mestrado na Universidade Federal da Bahia (UFBA), ele destaca a tecnologia a ser utilizada na construção e o impacto que ela deve trazer para a construção civil local.
“O equipamento faz toda a diferença, todo o equipamento vem da China”, pontua Villas Boas. Ele destaca que, ao contrário da ponte Rio-Niteroi, onde os fortes ventos costumavam, no passado, provocar a interdição do tráfego, a Ponte Salvador-Itaparica tem ‘um tabuleiro só’.
Isso significa que, as seis pistas, três em cada sentido, estão sobre a mesma base de concreto. ‘Os chineses colocam amortecedores sob a pista’, explica o CEO. O que também garante a estabilidade é que a ponte é estaiada, isto é, sustentada por cabos.

Ajustes
O custo da obra foi redefinido para R$ 10,42 bilhões, após estudos conduzidos com a participação do Tribunal de Contas do Estado (TCE), para ajustar o orçamento divulgado antes da pandemia e obviamente alterado pela elevação de preços, sobretudo de aço e cimento.
Além de Salvador, o projeto prevê intervenções em Vera Cruz e Nazaré, no Recôncavo Baiano. Na capital baiana, dois túneis serão construídos em paralelo à Via Expressa Baía de Todos-os-Santos, nas proximidades de Água de Meninos, e outros quatro viadutos servirão de acesso e saída para a ponte.
Já na Ilha, uma nova rodovia deve ser construída, já duplicada, no município de Vera Cruz. "Será uma rodovia expressa, com velocidade de 80 km por hora. Hoje, para se percorrer a mesma distância, de 30 km, a velocidade média é de 50 km por hora", compara Cláudio.
A nova estrada terá duas praças de pedágio, uma no início, outra no fim da rodovia, e se conectará com a BA-001 e com a Ponte do Funil, que liga a Ilha de Itaparica ao município de Nazaré, no Recôncavo, de onde a estrada será duplicada até Santo Antônio de Jesus.
Todo esse trajeto será o ponto de partida para um novo empreendimento, que promete integrar o Recôncavo com o Oeste e o Extremo Sul do estado.
Sistema Viário Oeste
O início das obras da Ponte Salvador-Itaparica, previsto para junho de 2026, deve coincidir com a implantação do Sistema Viário Oeste (SVO), uma série de intervenções viárias incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal, que deve ampliar os benefícios da ponte.
O projeto do SVO prevê duplicar trechos as BR´s 101, 116 e 242, melhorando o fluxo para o Oeste baiano e também para as regiões Sul e Sudeste do Brasil, além de estender a duplicação da BA 001, facilitando o acesso a Vitória da Conquista, Itabuna, Ilhéus e Porto Seguro.
Somando-se os 42 km de ponte e da via expressa de Vera Cruz, ao todo serão 180 km de ligação expressa. Isso vai significar 100 km a menos de distância percorrida, com redução de 40% no tempo de viagem, beneficiando 10 milhões de pessoas em 250 municípios, além de reduzir as emissões de carbono.
“Fazendo uma comparação, a ponte deve inaugurar um novo vetor de desenvolvimento, um corredor logístico, como aconteceu na Paralela e Estrada do Coco”, projeta Villas Boas.
A atração de investimentos deve ajudar a transformar os indicadores econômicos das cidades alcançadas a partir da Ponte. O PIB da área do Baixo Sul é de 1,73%; a região do Recôncavo apresenta índice de 2,48%; e, na região metropolitana de Salvador, o número chega a 39,3%.
Responsabilidade social
A Concessionária responsável pela Ponte Salvador-Itaparica também está comprometida com a implementação de 40 programas educacionais e socioambientais, executando uma agenda ESG (Ambiental, Social e Governança).
Serão investidos mais de R$ 200 milhões em atividades que envolvem a capacitação de mão de obra local e incentivo ao empreendedorismo, por exemplo. Na região de Vera Cruz, o mapeamento étnico e territorial de comunidades tradicionais quilombolas já está em movimento.
Ao lado do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), os representantes da Concessionária e das comunidades de Tereré e Maragogipinho desenvolvem o Plano Básico Ambiental Quilombola (PBAQ).
Esse plano institui os programas socioambientais que serão implementados pela Concessionária Ponte Salvador-Itaparica nas comunidades tradicionais. Além disso, o PBAQ garante o pontapé para a proteção jurídica das áreas onde as comunidades estão assentadas. Os programas serão desenvolvidos em diversas áreas, como educação socioambiental, cultura e turismo comunitário.
Entre os exemplos de compromissos ambientais assumidos também estão:
- Manutenção de vegetação nativa da Ilha de Itaparica;
- Preservação de parques e manguezais; o monitoramento da atividade pesqueira;
- Resgate e monitoramento da flora;
- Gerenciamento de efluentes e resíduos.
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