CARTA ABERTA
BYD critica Volkswagen, Toyota, GM e Stellantis: "Tecnologia velha"
Montadoras tentam impedir redução de imposto que pode beneficiar BYD
Por Daniel Genonadio

O setor automobilístico no Brasil vive dias de tensão depois de montadoras ameaçarem reavaliar os investimentos de R$ 120 bilhões prometidos através do Programa Mover em carta endereçada ao presidente Lula. A retaliação é motivada pela possível redução de impostos sobre peças importadas solicitadas pela BYD e que será votada nesta quarta, 30. Em resposta ao ataque, a montadora chinesa fez duras críticas.
A carta da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) foi assinada por representantes da Toyota, Stellantis, Volkswagen e General Motors. O argumento é que a aprovação das medidas "representa uma ameaça direta à política industrial brasileira e coloca em risco conquistas estratégicas acumuladas ao longo de décadas".
A BYD em resposta apontou ser atacada por "concorrentes obsoletos" após trazer ao Brasil "carros tecnológicos, sustentáveis e mais acessíveis'. A montadora chinesa chamou os fabricantes concorrentes de "dinossauros" que apresentaram uma carta em "tom dramático de quem acaba de ver um meteoro no céu".
"O problema não é o meteoro, claro. O problema é que ele está sendo bem recebido pelos consumidores — aqueles mesmos que, por décadas, foram obrigados a pagar caro por tecnologia velha e design preguiçoso", diz trecho da nota da BYD.
Leia Também:
Pressão e tensão
A carta da Toyota, Stellantis, Volkswagen e General Motors, por meio da Anfavea, é uma pressão ao Gecex, o comitê gestor da Camex, Câmara de Comércio Exterior, que avalia nesta quarta-feira, 30, o pedido da BYD para redução de forma temporária o imposto de importação de kits CKD e SKD.
Pelos sistemas SKD e CKD, os carros chegam semiprontos da China ou em peças separadas e seriam montados no Brasil.
A BYD pediu redução de imposto nos kits SKD e CKD, de 5% para carros elétricos e 10% para híbridos. Hoje, as taxas são de 20% para híbridos e 18% para elétricos.
A BYD fez o pedido para acelerar o seu processo de produção inicial na fábrica de Camaçari, na Bahia, que no primeiro momento será apenas para montagem dos automóveis, sem fabricação das peças.
A BYD argumenta que a redução temporária de imposto segue uma lógica simples e razoável. "Não faz sentido aplicar o mesmo nível de tributação sobre veículos 100% prontos trazidos do exterior e sobre veículos que são montados no Brasil, com geração de empregos locais, movimentação da cadeia logística e pagamento de encargos".

Caminho certo
A BYD reforça em sua nota oficial que sua proposta para o Brasil não é um atalho fiscal, mas uma visão de futuro com veículos mais limpos, mais seguros, mais conectados e com um custo-benefício justo.
Além disso, a BYD conclui sua nota com um recado ao presidente Lula, argumentando que as cartas das montadoras são uma provada de que ele está no caminho certo. "Se os dinossauros estão gritando, é sinal de que o meteoro está funcionando."

Veja nota da BYD na íntegra
"Por Que a BYD Incomoda Tanto?
Empresa que trouxe carros tecnológicos, sustentáveis e mais acessíveis é atacada por concorrentes obsoletos.
Dizem que o futuro chega de repente. Mas, às vezes, o que chega de repente é o e-mail. O da vez foi uma carta enviada por quatro das maiores montadoras brasileiras ao Presidente da República, implorando para ele abortar a inovação. É isso mesmo: pedem, com todas as letras, que o governo impeça a redução temporária dos impostos para quem ousa oferecer carros melhores por um preço mais justo.
Assinada por representantes da Toyota, Stellantis, Volkswagen e General Motors, a carta tem o tom dramático de quem acaba de ver um meteoro no céu. O problema não é o meteoro, claro. O problema é que ele está sendo bem recebido pelos consumidores — aqueles mesmos que, por décadas, foram obrigados a pagar caro por tecnologia velha e design preguiçoso.
Agora, chega uma empresa chinesa que acelera fábrica, baixa preço e coloca carro elétrico na garagem da classe média, e os dinossauros surtam. Não foi por acaso que uma concorrente reduziu o valor de um modelo elétrico em mais de 100 mil reais depois da chegada da BYD. Por que antes custava tanto?
A carta fala em “concorrência desleal”. Porque nada é mais desleal do que alguém jogar o jogo — e ganhar. Nada mais injusto do que montar um carro no Brasil sob o regime autorizado pelo governo, com data marcada para nacionalizar a produção, e ainda assim entregar um produto que as “locais” não conseguem nem sonhar em oferecer.
A reação da Anfavea e seus associados, infelizmente, não é novidade. Trata-se do velho roteiro de sempre: diante de qualquer sinal de abertura de mercado ou inovação, surgem as ameaças de demissões em massa, fechamento de fábricas e o fim do mundo como conhecemos. É uma espécie de chantagem emocional com verniz corporativo, repetida há décadas pelos barões da indústria para proteger um modelo de negócio que deixou o consumidor brasileiro como último da fila da modernidade.
A ironia é que enquanto as cartas se empilham em Brasília, os consumidores já tomaram sua decisão. Basta olhar os comentários nas redes sociais da própria Anfavea: “Lutar por carro mais barato vocês não lutam, agora querem nosso apoio pra que?”. Ou ainda: “Sempre vou dizer o seguinte: se a Anfavea está tão incomodada, é porque o outro lado vale a pena”. Os brasileiros querem andar para frente e não seguir em marcha a ré.
A redução temporária de imposto que a BYD pleiteia segue uma lógica simples e razoável: não faz sentido aplicar o mesmo nível de tributação sobre veículos 100% prontos trazidos do exterior e sobre veículos que são montados no Brasil, com geração de empregos locais, movimentação da cadeia logística e pagamento de encargos. Isso não é nenhuma novidade, outras montadoras já adotaram a mesma prática antes de ter a produção completa local.
E a BYD está fazendo isso. Em menos de um ano e meio, já está finalizando a primeira etapa das obras da fábrica em Camaçari (BA), no mesmo local onde outra montadora, que também era tradicional, desistiu do Brasil. Apenas o galpão de montagem final já é mais do que a metade do tamanho da antiga fábrica inteira. E o contrato com o Governo da Bahia já previa essa fase inicial de montagem enquanto o restante da estrutura é finalizado. Nada foi alterado. Tudo dentro do planejamento desde o começo.
O incômodo das concorrentes não tem a ver com impostos, nem com montagem, nem com empregos. Tem a ver com a perda de protagonismo. Com o fato de que um novo player chegou oferecendo mais e cobrando menos. Com o fato de que a tecnologia finalmente deixou de ser um luxo para poucos e virou realidade para muitos.
O que a BYD propõe ao Brasil não é um atalho nem uma esperteza fiscal. É uma visão de futuro com veículos mais limpos, mais seguros, mais conectados e com custo-benefício justo. Ajudar o Brasil a acelerar essa transição é um movimento estratégico não só para a marca, mas para o país.
O Presidente deveria ouvir essas cartas — e usá-las como prova de que está no caminho certo. Porque se os dinossauros estão gritando, é sinal de que o meteoro está funcionando.
BYD AUTO DO BRASIL"
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes