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AVANÇO?

COP 30 trava em clima tenso: bastidores exclusivos direto de Belém

Plano global de saúde avança, mas divisões ameaçam COP 30 em Belém

Georges Humbert*

Por Georges Humbert*

16/11/2025 - 22:18 h
Indígenas, calor extremo e negociações travadas: a COP 30 como você ainda não viu
Indígenas, calor extremo e negociações travadas: a COP 30 como você ainda não viu -

Aqui na capital paraense, sob o sol escaldante da Amazônia e o burburinho de delegações de todo o mundo, a 30ª Conferência das Partes (COP 30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas chega à sua primeira metade com um misto de otimismo cauteloso e frustrações evidentes. Como repórter veterano cobrindo eventos globais para o A TARDE, presenciei de perto as negociações intensas, as manifestações vibrantes e os bastidores dessa “COP da Verdade”, como batizada pela presidência brasileira. O evento, que vai até o dia 21, já revelou avanços promissores, mas também expôs divisões profundas que ameaçam o progresso coletivo. Abaixo, um resumo dos pontos mais positivos e negativos até agora.

O que houve de mais positivo: impulso para ação e vozes da floresta

A COP 30 começou com um tom de implementação prática, diferenciando-se de edições anteriores marcadas por brigas iniciais. Logo no primeiro dia, a agenda foi adotada sem o tradicional “agenda fight”, permitindo que as discussões avançassem rapidamente para temas centrais como adaptação, finanças climáticas e transição energética. Isso reflete a liderança brasileira, com o presidente Lula enfatizando a conexão entre decisões climáticas e a vida real das pessoas, especialmente na Amazônia.

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Um dos destaques foi o lançamento do Plano de Ação de Saúde de Belém, anunciado em conjunto com uma coalizão internacional. Essa iniciativa marca o primeiro esforço coletivo para implementar medidas concretas contra os impactos da crise climática na saúde pública, como o aumento de mortes por calor – que subiram 63% desde os anos 1990. Países como Brasil, Alemanha, Reino Unido e Quênia se uniram para pressionar por um roteiro global de transição dos combustíveis fósseis, alinhado ao Acordo de Paris. Além disso, 44 nações endossaram a Declaração de Belém sobre Justiça Climática, priorizando direitos indígenas e financiamento direto para comunidades vulneráveis.

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As vozes dos povos originários ecoaram forte. No Pavilhão dos Povos e no Summit dos Povos, indígenas como os Munduruku e representantes de mais de 5 mil ativistas marcharam pela Marcha Mundial pelo Clima, no dia 15, demandando proteção territorial e fim do desmatamento. Foi emocionante ver a cultura paraense em evidência: apresentações de boi-bumbá, como a do Boi Caprichoso, e acordos bilaterais, como o entre Senegal e Noruega para cooperação ambiental, mostram que a COP está fomentando parcerias reais. A proposta brasileira do Fundo para Florestas Tropicais Eternas, com US$ 125 bilhões iniciais, ganhou tração, prometendo recompensar a conservação florestal sem commoditizar a natureza.

Esses momentos positivos reforçam que Belém está posicionando o Brasil – e a América Latina – como ponte entre o Norte Global e o Sul, com foco em bioeconomia e multilateralismo. Como observei nas ruas, a cidade se transformou em um hub de esperança, com visitantes elogiando a hospitalidade local e a culinária amazônica, que viraram “estrelas” informais do evento.

O que houve de mais negativo: divisões, protestos e lacunas na ambição

No entanto, nem tudo é harmonia sob o céu amazônico. A primeira metade da COP expôs rachaduras profundas nas negociações, especialmente em torno do Artigo 9.1 do Acordo de Paris, que trata das obrigações financeiras dos países desenvolvidos. Apesar da urgência – com emissões globais ainda em alta e um relatório da ONU alertando para um “abismo” na meta de 1,5°C –, as discussões sobre finanças climáticas patinam. O fundo de US$ 300 bilhões prometido é criticado como insuficiente; nações vulneráveis exigem “trilhões, não bilhões”, mas divisões entre o Norte (que resiste a compromissos maiores) e o Sul persistem, com itens controversos como comércio e ambição adiados para consultas separadas.

Os protestos indígenas e ativistas, como os da jovem Greta Thunberg e grupos locais, destacaram a hipocrisia percebida no governo brasileiro. Manifestantes bloquearam entradas da Zona Azul, acusando Lula de aprovar megaprojetos hidrelétricos e portos que inundam terras sagradas sem consulta prévia. “Nossa floresta não é mercadoria”, gritavam, ecoando críticas a mineração ilegal e expansão da soja. A ausência de liderança forte dos EUA, com uma delegação reduzida, e a divisão na UE enfraquecem o momentum global, enquanto China e Índia, apesar de avanços em renováveis, evitam metas absolutas de emissões.

Logisticamente, Belém enfrentou desafios: o calor de 40°C deixou delegados suando em filas intermináveis, e relatos de precarização trabalhista – como demissões em massa na filial local do SBT para recontratações como PJ – geraram polêmica. Ativistas denunciaram exclusão de vozes marginais nas mesas de negociação, e o Relatório de Lacuna de Terra de 2025 alertou para perdas massivas de florestas se as promessas atuais não forem elevadas. Sem avanços concretos na meta global de adaptação (GGA) e no Fundo de Perdas e Danos, a COP corre o risco de ser mais uma “conferência de promessas vazias”.

Perspectivas para a segunda metade: um chamado à ação real

À medida que entramos na “fase política” da COP 30, com ministros chegando para decisões finais, o equilíbrio entre positivos e negativos dependerá de vontade política. Belém provou que a Amazônia pode ser palco de inovação, mas sem financiamento justo e inclusão real, os avanços correm risco de evaporar como a umidade local. Como jornalista baiano, vejo nessa conferência uma oportunidade histórica para o Brasil liderar, mas também um lembrete: o clima não espera por consensos tardios.

*Georges Humbert é correspondente de A TARDE na COP30, em Belém

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