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COP 30

Entre avanços e impasses: agro chega forte à COP 30, mas falha no básico

Setor chega organizado à COP 30, mas tropeça na própria narrativa ambiental

Georges Humbert*

Por Georges Humbert*

15/11/2025 - 16:00 h
Na casa da Amazônia, COP 30 pressiona o agro por rastreabilidade e transparência
Na casa da Amazônia, COP 30 pressiona o agro por rastreabilidade e transparência -

A COP 30 chegou a Belém carregada de simbolismos. Pela primeira vez, a maior conferência climática do planeta acontece no coração da Amazônia — e isso, por si só, já coloca o Brasil sob um holofote que exige coerência, coragem e clareza. No centro desse cenário, o agronegócio brasileiro tenta se consolidar como protagonista climático. Mas o que se viu até agora revela uma participação que oscila entre avanços importantes e contradições ainda profundas.

É fato: o agro veio organizado, articulado e disposto a ocupar espaço. A presença institucional — da Embrapa a grandes confederações do setor — demonstra que o Brasil entendeu que não existe transição ecológica global sem agricultura. Não há alimento, energia, fibras ou biocombustíveis sem campo. E o campo brasileiro, com sua escala e sua expertise tropical, pode ser decisivo para o planeta.

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O setor também trouxe boas notícias. O anúncio de financiamentos bilionários internacionais para apoiar a adaptação climática de produtores, especialmente os familiares, mostra que o mundo começa a reconhecer o papel dos pequenos agricultores na transição ecológica. A adesão a tecnologias de baixo carbono, o impulso ao etanol e ao biodiesel, e o investimento em monitoramento via inteligência artificial são sinais de um agro que quer inovar.

Mas é justamente nesse ponto que surgem as perguntas incômodas. De que adianta falar de agricultura regenerativa se ainda convivemos com desmatamento ilegal ligado a cadeias produtivas? Como celebrar biocombustíveis enquanto parte relevante do setor resiste a metas ambientais mais rígidas? O mundo observa — e cobra coerência.

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A COP 30 não aceita meias narrativas. Belém não permite discursos desconectados da realidade amazônica. Se o agronegócio brasileiro quer ser respeitado como parte da solução climática, precisa assumir, sem rodeios, que ainda há problemas graves a enfrentar: ordenamento territorial, regularização fundiária, rastreabilidade, restauração de áreas degradadas e combate efetivo à grilagem.

Há, claro, exageros e estigmas injustos. Parte do debate internacional ainda enxerga o agro brasileiro por lentes distorcidas, ignorando que somos líderes globais em produtividade e que produzimos grande parte do que o mundo come com menos uso de área do que quase qualquer outro país. Mas isso não elimina os desafios internos. Pelo contrário: aumenta a responsabilidade de mostrar, com transparência, que é possível crescer preservando.

O risco maior, no entanto, está na tentação do marketing verde. A COP não pode se tornar palco para discursos polidos enquanto a prática segue em outra direção. O Brasil tem tudo para liderar a agricultura sustentável do século XXI — mas não com slogans; com métricas confiáveis, governança sólida e resultados verificáveis.

A participação do agro na COP 30, até agora, revela um setor que sabe o que precisa ser feito, mas ainda caminha em passos desiguais entre ambição e realidade. Isso não diminui sua importância. Apenas reforça que o momento exige maturidade. O mundo mudou. Os mercados mudaram. As exigências ambientais vieram para ficar.

Se o agronegócio brasileiro realmente abraçar a agenda climática como estratégia — e não apenas como discurso — deixará Belém mais forte, mais respeitado e mais preparado para liderar. Caso contrário, corre o risco de assistir à transição ambiental passar sem que ele consiga segui-la.

A Amazônia não é só o cenário da COP 30. É o teste. Para o planeta — e para nós. Para o agro — e para o futuro do Brasil.

*Georges Humbert é correspondente de A TARDE na COP30, em Belém

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Tags:

agronegócio brasileiro COP-30 desmatamento

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