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CRIME ORGANIZADO

Geografia do crime: entenda como as facções disputam território no Brasil

Atlas da Violência 2024 revela mapeamento da atuação das maiores facções criminosas do país, estado por estado

Por Luan Julião

16/07/2025 - 22:33 h | Atualizada em 17/07/2025 - 8:22
Raio-x da atuação do PCC, CV e facções locais em todos os estados brasileiros
Raio-x da atuação do PCC, CV e facções locais em todos os estados brasileiros -

O Atlas da Violência 2024 revelou um amplo panorama da presença das maiores facções criminosas do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), em todos os estados brasileiros. O levantamento destaca como essas organizações se expandiram para além de seus estados de origem, São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente e hoje influenciam diretamente as dinâmicas de violência em diferentes regiões. Confira abaixo o retrato por região:

Norte

Na Região Norte, o cenário é agravado pela proximidade com fronteiras internacionais, rotas fluviais estratégicas e vastas áreas de difícil fiscalização, o que facilita o tráfico de drogas, armas e outros crimes associados.

Acre

Localizado em uma posição estratégica entre o Peru e a Bolívia, o Acre se tornou um corredor importante para o tráfico transnacional. No estado, a rivalidade entre o CV e outras facções é marcada pela presença de grupos como o PCC, o Bonde dos 13 e o Ifara. Além das disputas internas, há a influência de organizações estrangeiras, como o grupo Los Quispe-Palamino, atuante na fronteira peruana, e o Clã Dourado, ligado à Bolívia. Também foram detectadas células criminosas em áreas ribeirinhas próximas aos rios Negro e Solimões, utilizadas como rotas de escoamento de drogas.

Amapá

No Amapá, o tráfico de drogas é abastecido por rotas que atravessam a Guiana e chegam ao estado com destino final em Belém (PA). Apesar do pequeno território, a capital concentra duas facções locais extremamente violentas: a Família Terror do Amapá, ligada ao PCC, e os Amigos Para Sempre, alinhados ao CV. A rivalidade entre esses grupos é intensa e agravada pela fragilidade das estruturas de segurança pública, tornando o Amapá um território de guerra urbana com crescente número de homicídios.

Amazonas

Com portos e aeroporto internacional, a capital Manaus é estratégica para o tráfico de drogas, o que atrai diversas facções. O Comando Vermelho domina a maior parte da cidade, mas enfrenta resistência da Família do Norte e do Cartel do Norte. O PCC, embora presente, tem menor influência na região. A situação se complica com a presença de outras atividades ilegais, como o comércio de armas, exploração de madeira e minérios, grilagem, lavagem de dinheiro e crimes ambientais. O Atlas aponta que o estado sofre ainda com trabalho escravo, violência sexual e invasões de territórios indígenas, um conjunto de delitos muitas vezes ligados a essas facções.

Pará

No Pará, a dinâmica da violência varia conforme a região. Na Grande Belém, os confrontos envolvem facções prisionais, com destaque para o Comando Vermelho e suas alianças com grupos locais como Equipe Tex e Equipe Real, além de milícias e membros da própria polícia. Já no interior, os homicídios são mais ligados a disputas fundiárias, envolvendo grileiros, posseiros e povos tradicionais. O sistema carcerário também tem papel central nessa engrenagem: cidades como Altamira abrigam o Comando Classe A (CCA), também conhecido como “331”, facção aliada ao PCC.

Rondônia

A capital Porto Velho foi palco, em 2022, de uma onda de violência ligada à disputa entre PCC e CV. O confronto entre os grupos se concentrou principalmente em conjuntos habitacionais populares, onde os criminosos passaram a ditar regras de convivência e restringir a liberdade de circulação dos moradores. A situação ganhou ainda mais repercussão com a disseminação de vídeos violentos nas redes sociais, mostrando execuções e torturas, o que espalhou o medo por toda a população.

Roraima

Diferentemente da maioria dos estados da região, Roraima é dominado por uma única facção: o PCC. A ausência de rivais locais ou nacionais se explica pelo baixo interesse econômico no mercado interno de drogas, considerado pouco lucrativo. No entanto, o estado funciona como base logística para conexões com grupos estrangeiros da Venezuela e da Guiana, entre eles o Trem de Aragua, Trem de Guayana e o Sindicato do Crime, que operam em parceria com a facção paulista a partir de Boa Vista.

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Tocantins

Apesar da baixa densidade populacional, o Tocantins vem registrando sinais crescentes de conflito entre facções. O PCC tem forte presença nos presídios e mantém relações com grupos como o Bonde dos 13 (B13) e o Comando Classe A (CCA). Nos últimos anos, surgiram também relatos sobre a atuação da facção Amigos do Estado (ADEs), originária de Goiás e supostamente alinhada ao PCC. A entrada do CV no estado, embora tímida, já estaria gerando episódios violentos em territórios disputados.

Nordeste

O avanço das facções criminosas no Nordeste brasileiro tem se tornado um dos principais motores da violência letal na região. A disputa territorial entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), aliada ao fortalecimento de grupos locais, redesenhou o mapa da criminalidade em diversos estados.

Bahia

A Bahia é um dos estados onde a fragmentação do crime organizado tem gerado um cenário mais caótico e violento. Até 2022, ao menos dez facções disputavam territórios por terra e mar, inclusive na Baía de Todos-os-Santos, ponto estratégico para o tráfico de drogas e armas.

Além do PCC e do CV, operam na Bahia grupos locais como o Bonde do Maluco (BDM), facção que mantém aliança com o PCC e, após o rompimento da facção paulista com o CV, intensificou os confrontos. A chegada do Terceiro Comando Puro (TCP), oriundo do Rio de Janeiro, adicionou uma nova camada ao conflito, contribuindo para a complexidade da guerra urbana baiana.

Ceará

O Ceará vive uma guerra de múltiplos atores. São quatro facções atuando no estado: o CV — que incorporou a Família do Norte após rompimento em 2018 —, os Guardiões do Estado (GDE), o PCC e a Massa Carcerária (também chamada de Tudo Neutro ou TDN), dissidência do CV. Este último grupo passou a atuar em diversos bairros de Fortaleza e em cidades como Caucaia e Itapipoca, onde se tornou majoritário.

Nos últimos anos, observou-se a expansão dessas facções para terras indígenas, utilizadas como áreas de esconderijo e desova de corpos, revelando o avanço do crime até em territórios tradicionalmente protegidos.

Pernambuco

Com uma das maiores taxas de homicídios do país, segundo o Atlas da violência, Pernambuco enfrenta disputas acirradas pelo controle do tráfico, especialmente em municípios de menor porte. O CV e o PCC protagonizam confrontos violentos em algumas regiões, enquanto grupos como o Trem Bala/CLS, com ligações com o CV, dominam parte do comércio de entorpecentes. A descentralização da violência faz com que o estado seja palco de mortes em diversas frentes.

Rio Grande do Norte

Ponto estratégico nas rotas internacionais do tráfico, especialmente com destino à Europa e à África, o Rio Grande do Norte também enfrenta uma longa crise penitenciária, de onde emergiu o Sindicato do Crime (SDC), fundado por dissidentes do PCC em 2012. Essa facção se consolidou como uma das maiores do Nordeste e principal rival do grupo paulista.

A atuação do CV é mais recente, mas sua presença já é percebida em diversas áreas do estado, intensificando a disputa e elevando os níveis de violência urbana.

Alagoas

Apesar de ser um dos menores estados do país, Alagoas não escapa da disputa entre o PCC e o CV. O confronto entre as duas facções impulsiona os índices de violência, especialmente em áreas urbanas. Mais recentemente, surgiram os chamados “neutros” ou TDN, dissidências de ambas as facções que vêm ganhando espaço, inclusive no interior alagoano.

Sergipe

Em Sergipe, o PCC lidera a atuação nas cadeias e nas ruas, mas divide espaço com o Bonde do Maluco (BDM), facção baiana que se expandiu para o território sergipano. A ligação entre os grupos criminosos de Sergipe e da Bahia é evidente: ao final de 2022, por exemplo, um dos principais chefes do tráfico de Itabaiana foi capturado em Camaçari, reforçando os laços interestaduais entre as redes criminosas.

Maranhão

O Maranhão se tornou um campo de disputa entre o PCC e o CV, ambos em processo de consolidação e conflito com facções locais. As alianças e rupturas entre esses grupos têm provocado ciclos de violência em diversas regiões do estado. Uma das consequências foi a extinção do Primeiro Comando do Maranhão (PCM), organização que havia se estruturado a partir do sistema prisional, mas perdeu força diante da chegada dos grandes blocos nacionais.

Paraíba

Na Paraíba, o tráfico de drogas também é comandado por facções locais, com destaque para a Nova Okaida — ou Tropa do Vaqueirinho —, que surgiu como reestruturação da Okaida, fundada em 2002. A nova versão do grupo tem o maior número de integrantes e domínio territorial do estado, controlando boa parte dos pontos de venda na Grande João Pessoa.

Apesar de não ser vinculada ao PCC ou ao CV, a Nova Okaida mantém um conflito direto com a facção Estados Unidos, surgida em 2008 a partir de dissidências internas. Essa rivalidade tem alimentado a escalada da violência na região metropolitana.

Piauí

O litoral piauiense tem se tornado área de interesse estratégico para o tráfico, com o aumento da presença de facções nacionais em aliança com gangues locais. A chegada do PCC ao estado impulsionou disputas armadas e elevou os índices de mortes violentas. Assim como em Pernambuco e Sergipe, o grupo paulista é apontado como a maior força criminosa atuante no território piauiense.

Sudeste

A Região Sudeste, berço de duas das maiores facções criminosas do país, exibe uma dinâmica de violência um pouco difernte da disputas territoriais que acontecem outras regiões. Embora o Primeiro Comando da Capital (PCC) tenha sua origem em São Paulo, o Comando Vermelho (CV), nascido no Rio de Janeiro, também mantém forte presença, sobretudo nos estados vizinhos.

Espírito Santo

No Espírito Santo, apesar dos esforços do poder público, a criminalidade é dominada pela disputa entre duas facções principais: o Trem Bala e o Primeiro Comando de Vitória (PCV). Este último, inspirado no PCC, mantém uma aliança complexa com o Comando Vermelho e disputa espaço com o Terceiro Comando Puro (TCP), outro grupo carioca que também atua na região. O PCV, mesmo após a prisão de líderes importantes como o traficante conhecido como Marujo em 2024, é considerado o maior grupo do estado e já expandiu sua influência para além da capital.

Essa conexão explica a predominância do CV no Espírito Santo, estado vizinho ao Rio de Janeiro, onde o Comando Vermelho exerce grande domínio.

Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro é palco de uma realidade marcada por desigualdades sociais e pela disputa intensa entre facções e milícias. Os crimes se concentram em bairros com infraestrutura precária e pouca presença estatal, onde vivem populações de baixa renda.

O panorama é definido por um embate entre o Comando Vermelho, o Terceiro Comando Puro (TCP) e o Amigos dos Amigos (ADA). Curiosamente, o CV não enfrenta diretamente o PCC dentro do estado, mas rivaliza com o TCP. que mantém alianças com o PCC, em outras regiões, como a Bahia. Exemplo disso é a aliança tripla entre TCP, PCC e Bonde do Maluco na Bahia.

Minas Gerais

Minas Gerais concentra atuação tanto do PCC quanto do CV, facções que tiveram origem em estados vizinhos e hoje disputam espaço no território mineiro. Recentemente, operações policiais desmantelaram organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas e responsáveis por homicídios, inclusive em áreas rurais do estado, evidenciando a extensão e a violência desses grupos.

São Paulo

São Paulo, estado onde nasceu o Primeiro Comando da Capital, apresentou em 2022 a menor taxa de homicídios da Região Sudeste, com 9,4 mortes por 100 mil habitantes. Esse índice reflete o controle quase absoluto do PCC sobre o território paulista. Diferente de outras regiões, o estado não vive guerras internas entre facções, já que o domínio do PCC é predominante e pouco contestado.

Centro-Oeste

Cortada por rodovias que ligam o país ao Paraguai e à Bolívia e com vastas áreas de fronteira de difícil fiscalização, a Região Centro-Oeste é uma das principais portas de entrada de drogas e armas no território brasileiro. Essa geografia favorece o avanço de facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), que disputam rotas e pontos logísticos com violência extrema.

Mato Grosso

Pela sua localização estratégica na fronteira com a Bolívia, o Mato Grosso se tornou território crucial para o narcotráfico e, consequentemente, para a disputa entre as principais facções do país. A hegemonia do Comando Vermelho no estado, especialmente na região fronteiriça de Cáceres, começou a ser desafiada com o avanço do PCC, que tenta controlar rotas do meio-norte, como o eixo que passa pela cidade de Sorriso, essencial para o escoamento de drogas em direção a São Paulo e Paraná.

Essa tensão gerou rupturas internas: dissidentes do CV formaram a Tropa Castelar, que passou a atuar em aliança com o PCC no fim de 2022, elevando ainda mais o nível de conflito armado no estado.

Mato Grosso do Sul

Com ampla faixa de fronteira com o Paraguai e a Bolívia, o Mato Grosso do Sul está no centro da rota do tráfico internacional de drogas. A violência no estado é impulsionada principalmente pelos confrontos entre PCC e CV, que disputam o controle das rotas e centros de distribuição. Embora outros grupos criminosos também atuem na região, principalmente no sistema prisional, são os embates entre essas duas grandes facções que mais impactam os indicadores de criminalidade.

Goiás

Em Goiás, a violência está associada principalmente a grupos locais que atuam em conexão com organizações criminosas interestaduais. Um dos principais nomes em atividade é a facção Amigos do Estado (ADE), apontada como responsável por um número significativo de homicídios, especialmente em cidades vizinhas ao Distrito Federal. O grupo fornecia drogas ao Comboio do Cão, facção originária do DF, e movimentava valores bilionários em tráfico e assaltos, consolidando uma rede de criminalidade regional com forte estrutura.

Distrito Federal

Diferente de seus vizinhos, o Distrito Federal não é citado pelo Atlas da Violência 2024 como área de atuação direta do PCC ou do Comando Vermelho. Também não há menção a domínio de facções regionais com controle expressivo sobre o tráfico de drogas ou sobre o crime organizado. Apesar disso, como apontado em estados próximos, o DF serve como polo logístico e de influência para grupos locais, como o Comboio do Cão, que mantém conexões com organizações criminosas goianas.

Sul

Diferente das demais regiões do país, o Sul do Brasil apresenta um cenário distinto no que diz respeito à atuação de grandes facções criminosas. Segundo o Atlas da Violência 2024, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul não aparecem entre os estados com dominação expressiva de organizações como o Primeiro Comando da Capital (PCC) ou o Comando Vermelho (CV).

A ausência de destaque, porém, não deve ser interpretada como inexistência de atividade criminal organizada. Há registros pontuais de facções operando em territórios estratégicos, especialmente em áreas de fronteira ou portuárias, mas sem o grau de controle territorial observado em outras regiões do Brasil. Nestes estados, os principais vetores da violência costumam estar mais ligados a grupos fragmentados, quadrilhas locais, crimes patrimoniais, tráfico de drogas em menor escala e ações de milícias isoladas, do que à guerra entre blocos nacionais.

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Tags:

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