BRASIL
Praia brasileira corre risco de desaparecer em menos de 30 anos
Distrito já perdeu mais de 500 casas com o avanço do mar

Por Isabela Cardoso

A cada maré alta, o mar avança sobre ruas, casas e memórias em Atafona, distrito de São João da Barra, no norte do Rio de Janeiro. Considerada uma das erosões costeiras mais graves do Brasil, a situação já destruiu mais de 500 imóveis, expulsou pelo menos 2 mil moradores e ameaça engolir toda a área urbana em poucas décadas.
O fenômeno começou a ser registrado nos anos 1950 e nunca mais parou. Em média, três metros de terra desaparecem por ano. Se nada for feito, parte expressiva da cidade pode sumir em menos de 30 anos.
O cenário é de destruição: clubes que sediaram bailes da elite nos anos 1970 estão em ruínas e ruas inteiras terminam em barrancos. “Coloquei tapumes porque queria continuar aqui mais um tempo. Fico até o mar ocupar tudo de vez”, contou a moradora Sônia Ferreira.
Por que Atafona está desaparecendo?
Especialistas apontam que a erosão resulta de uma combinação de fatores:
- Mudanças climáticas e aumento do nível do mar
- Ressacas constantes
- Barragens no Rio Paraíba do Sul, que reduziram o fluxo de sedimentos
- Assoreamento da foz do rio
- Desmatamento das margens
- Ocupação desordenada da orla
Impactos sociais e culturais
A crise atinge também a pesca artesanal, base econômica da região. O assoreamento dificulta a saída de barcos e ameaça a sobrevivência de famílias que dependem do mar. Além disso, a identidade cultural da comunidade se desfaz: a praia, que já foi destino turístico nos anos 1970, hoje acumula ruínas e lembranças.
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Quais soluções estão em debate
Entre as propostas discutidas estão a construção de barreiras artificiais, aterros hidráulicos e a recuperação de manguezais. Mas os altos custos e as questões ambientais travam a execução.
“A causa é multifatorial. As soluções também terão que ser”, afirmou o professor Gilberto Pessanha Ribeiro, da Unifesp. A prefeita Carla Machado reforçou que o município não pode arcar sozinho com os investimentos.
Em agosto, uma nova ressaca interditou casas e obrigou famílias a aderirem ao aluguel social. A prefeitura anunciou que vai contratar estudos técnicos para conter o mar. Enquanto isso, entidades como a SOS Atafona buscam apoio junto ao governo federal. “Agora temos uma luz no fim do túnel”, disse Camila Hissa, representante da associação.
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