BRASIL
Traumas das operações: entenda sequelas psicológicas deixadas pelos tiroteios
Portal A TARDE ouviu uma psicóloga especialista no assunto

O assunto mais falado nesta semana é a megaoperação deflagrada na terça-feira, 28, no Rio de Janeiro visando uma ofensiva contra a facção do Comando Vermelho (CV), nos complexos do Alemão e da Penha.
A Operação Contenção já é considerada como a mais mortal da história do estado, contabilizando mais de 120 mortes, sendo quatro deles policiais, dois militares e dois civis.
Entenda a operação
A Operação Contenção envolveu 2,5 mil agentes das polícias Civil e Militar. O objetivo era desarticular o Comando Vermelho, tendo como principal alvo, um do líderes da facção, Edgar Alves de Andrade, o 'Doca ou Urso', 55 anos.
Além disso, a operação buscava cumprir cerca de 100 mandados de prisão e 150 de busca e apreensão.
Entre os dados divulgados oficialmente estão:
- Mortos: 121 pessoas. quatro sendo policiais, dois civis e dois militares;
- Presos: 113 pessoas;
- Armas apreendidas: 91 fuzis e duas pistolas;
- Motocicletas apreendidas: nove.
Impactos pós operação
Em meio a esse "banho de sangue", muitas vezes os dados dos que morrem chamam muita atenção, porém algo que não é muito mostrado, é a situação em que os moradores do local onde a operação aconteceu ficam, após a mesma se encerrar.
Pensando nisso, o portal A TARDE conversou com a psicóloga Anna Marchesini, que falou sobre as consequências psicológicas dessas operações na população.
Segundo a psicóloga, viver em locais de constantes operações policiais violentas gera um estado de “hipervigilância crônica”, que, como explica Anna, é um estado onde “corpo e mente entram em um modo de funcionamento de alerta permanente, como se o perigo fosse contínuo”.
Somado a isso, ela ainda aponta que tal cenário provoca outros distúrbios como:
- ansiedade muito intensa;
- medo de sair de casa;
- alterações no sono;
- irritabilidade;
- sensação constante de ameaça.

Desenvolvimento de traumas
“Viver em comunidades que constantemente são alvos de incursões policiais pode causar grandes níveis de sofrimento psicológico“, explica a psicóloga. Além disso, o ambiente é muito propício ao desenvolvimento de traumas.
Segundo a psicóloga, uma série de transtornos podem surgir nessa realidade, como, por exemplo, o “estresse pós-traumático”, onde a pessoa traumatizada “revive” os acontecimentos, sofre de pesadelos e flashbacks do trauma.
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Somado a isso, ela explica que quando a pessoa passa por uma situação parecida com a que gerou o trauma, como escutar o barulho de um disparo, ela automaticamente entraria em uma crise de ansiedade.
Outro sentimento que ela pode ter é o “misto de ansiedade com a depressão, que é a sensação de impotência e de insegurança prolongados ali diante daquele contexto”.
Impacto nas crianças
Um público muito afetado por essas guerras entre polícia e facções são as crianças, que dentro dessa realidade sofrem com a perda de parentes. E, “quando expostas a esse cenário de caos podem desenvolver vários sintomas psicológicos”, disse a psicóloga.
Ainda de acordo com Anna, as crianças podem “desenvolver transtornos logo na infância, como ansiedade, sofrendo com medo de se separar da família, de ir para a escola e algo ruim acontecer. Passando a viver em um estado de hipervigilância constante”.

Tratamento
O tratamento a ser feito nesses casos de traumas, segundo a psicóloga, é a “psicoterapia com profissionais habilitados para atendimentos dos transtornos ansiosos e acompanhamento psiquiátrico para terapia medicamentosa.”
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