VERÃO
Aqueles que fogem do Carnaval: fé, segurança e gostos pessoais
Muitas pessoas buscam alternativas para aproveitar os dias de folga de maneira diferente
Por Isabela Cardoso

O Carnaval é uma das maiores festas populares do Brasil, reunindo milhões de foliões nas ruas e em blocos espalhados pelo país, principalmente em Salvador. No entanto, há um grupo significativo de soteropolitanos que prefere passar longe da festa, seja por razões religiosas, pessoais ou simplesmente pelo desejo de tranquilidade.
Enquanto a maioria se entrega ao ritmo do samba e das fantasias, outros buscam alternativas para aproveitar os dias de folga de maneira diferente. O Portal A TARDE conversou com alguns baianos para buscar os diferentes motivos de evitarem a folia.
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Motivos religiosos e pessoais
Para algumas pessoas, o Carnaval não é sinônimo de diversão, mas de um período de recolhimento e reflexão. Entre os grupos religiosos, é comum que fiéis se resguardem para outras atividades ou optem por retiros espirituais.
Igrejas evangélicas, por exemplo, costumam organizar acampamentos e encontros para oferecer um ambiente alternativo aos fiéis. Já as casas de religiões de matrizes africanas, como Umbanda e Candomblé, têm seus próprios fundamentos para quem quer curtir a folia e aqueles que ficam de preceito - termo que define todo e qualquer tipo de resguardo, recolhimento físico, espiritual, mental, de uma ritualística.
Adriana Teixeira, pedagoga e Ialorixá de Umbanda, já foi a muitos carnavais, mas hoje em dia evita a folia justamente para se resguardar. Ao Portal A TARDE, ela pontuou que é uma festa com muitas "energias" e, por isso, prefere outras atividades.
"Eu enquanto Ialorixá, sei que tem muitas pessoas reunidas, cada um com seus objetivos, cada um com seu pensamento, pode acarretar um desgaste energético para nós que somos mais sensíveis. Eu que cuido da minha energia constantemente com uma rotina de autocuidado, cuidado com o Orí, com o corpo, com a saúde física, mental e espiritual, penso que é um desserviço me expor. Acho que é uma exposição muito forte, mas sem julgamento mesmo. É uma coisa que eu prefiro me resguardar, fazer uma viagem, estar mais em contato com a natureza, ficar mais reclusa", comentou.
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Adriana sugeriu cuidados para pessoas que gostam de curtir a festa. "Cuidado espiritual, fechamento de corpo, oração, de acordo com a religião de cada um. Realmente se faz necessário que a pessoa tenha esse cuidado e essa consciência de que a sua energia é sagrada e quando ela se expõe ela corre o risco de se prejudicar bastante", completou.
Além das razões religiosas, há aqueles que simplesmente não se identificam com a festa. O excesso de barulho, a falta de segurança e a mobilidade da cidade podem afastar quem prefere ambientes mais tranquilos.
Esses são uns dos motivos da advogada Ihelene Ferreira, de 26 anos. Para ela, a cidade deixa a desejar em questão de segurança e mobilidade comparada à estrutura que é o Carnaval.
“Eu já fui para o carnaval duas vezes, uma quando eu era criança e outra mais adultinha. Nessa, foi um dia muito cheio, bem ruim pra voltar pra casa porque motoristas não queriam aceitar no aplicativo, queriam cobrar por fora cinco vezes mais. Eu acho uma festa muito bonita, só que eu prefiro, ao invés de gastar essa energia e me estressar com isso, fazer o que eu tenho feito. Nesse ano, especificamente, eu estou estudando para concurso, então vou seguir a vida normal. Eu vejo muito mais como um feriado para descansar do que para ir para a avenida”, contou.
Viagens e alternativas culturais
Para os que não querem participar da folia, viajar é uma das principais escolhas. Destinos de praias, ecoturismo e cidades históricas costumam receber turistas que preferem trocar o som dos trios elétricos pelo contato com a natureza ou experiências culturais mais intimistas.
A artesã e estudante de biologia, Jéssica Bastos, de 27 anos, sempre curtiu o Carnaval em família quando era criança, como uma tradição familiar. No entanto, com o passar dos anos, começou a curtir a folia com amigos e houveram algumas situações de assédio que a abalou.
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“Quando eu era de menor, sempre tive alargador, e um cara meteu a mão no meu pescoço pra poder me puxar pra um beijo. Ele machucou o meu alargador e depois disso eu fiquei traumatizada, fui pra casa. Também já presenciei várias covardias de assalto, então, apesar de gostar muito do estilo musical, a festa é maravilhosa, uma agonia gostosa, mas em todas as situações eu sempre me senti muito vulnerável e desde então eu não vou mais. Eu procuro sempre um destino para poder viajar no carnaval, porque sinto que combina mais com a minha vibe. A escolha desse ano está sendo Guarajuba, linha verde, curtir uma praia, um sol", comentou.
Outras opções incluem também curtir carnavais mais “tranquilos” e com outras propostas culturais em outras cidades, como escolheu o estudante de Geologia, Thácio Marques, de 29 anos. Ele conta que costuma curtir um ou dois dias da folia, mas prefere viajar e conhecer alguns lugares novos, por isso a opção deste ano foi Olinda (PE).
“Às vezes fico muito incomodado em meio a muita gente, fico um pouco claustrofóbico, sinto que minha bateria social vai embora rápido, no caso. Normalmente eu vou só um dia mesmo e no dia seguinte eu fico sem querer ir. Sempre gostei muito da natureza e por isso prefiro viajar nessa época. Trabalho também, normalmente. Esse [Carnaval] agora eu to indo para Olinda e o povo da faculdade de geologia, do Brasil todo, no dia de carnaval, alugam a casa lá para quem quiser curtir o carnaval. Eu quis aproveitar essa, já que eu nunca fui, aproveitar essa ponte de ideia pra conhecer um lugar novo. Sem contar que eu imagino que vai ser um carnaval mais tranquilo”, relatou.
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