ANÁLISE
Com Fernanda Montenegro, ‘Vitória’ vai além dos fatos e comove
‘Vitória’ estreia nos cinemas acontece nesta quinta-feira, 13
Por Edvaldo Sales

Há 20 anos, a massoterapeuta Joana Zeferino da Paz conseguiu expor toda uma cadeia de tráfico no Rio de Janeiro. Na época, ao ver que suas queixas de tiroteios e crimes na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, eram constantemente ignoradas e menosprezadas pela polícia, ela comprou uma filmadora e passou a registrar toda a movimentação através de sua janela. O resultado foi a prisão de mais de 30 pessoas, incluindo PMs, envolvidas no narcotráfico.
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‘Vitória’, filme idealizado por Breno Silveira antes de sua morte e concluído por Andrucha Waddington (‘Anitta: Made in Honório’) - por acaso, o seu genro -, conta a história dessa mulher. Com roteiro de Paula Fiuza (‘Sobral – O Homem que Não Tinha Preço’), a produção consegue fugir de uma dinâmica previsível — que poderia ser um risco devido ao fato de a obra ser baseada em um caso real e conhecido após uma ampla divulgação da mídia na época — ao enveredar por uma abordagem que dá espaço para reflexões sobre o envelhecer, a solidão e o que vem com a junção desses fatores.
As escolhas de Andrucha e do diretor de fotografia, Lula Cerri, de como enquadrar e preencher à cenas, sempre focando na Nina, protagonista interpretada por Fernanda Montenegro, em diversos contextos, reforçando como ela é uma mulher sozinha, são essenciais para a construção dessa ideia, que vai ganhando mais força ao longo do filme. O texto consegue evidenciar isso nos diálogos e interações — que vão de uma ligação para desmarcar um jantar ao menosprezo com o qual é tratado o pedido de socorro de uma idosa.
A atuação de Montenegro é crucial dentro desse contexto. Com um trabalho carregado de nuances, que transita com perfeição pelos momentos que exigem leveza, outros que pedem mais emoção e alguns mais cômicos, a atriz tem uma entrega rica e que consegue emocionar e fazer rir.
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Alguns desses momentos vêm da interação de Nina com Bibiana (Linn da Quebrada) e o jornalista Flávio Godoy (Alan Rocha). Nela, a protagonista encontra um alento e parceira de aventuras que muda a sua rotina; já nele um amigo e um ouvinte importante para os desdobramentos da sua história. Porém, é da dinâmica entre Nina e o pequeno e encantador Marcinho (Thawan Lucas) que ‘Vitória’ alcança um teor dramático forte e tematicamente comovente, além de ser um aceno à relação entre Josué (Vinícius de Oliveira) e Dora, de ‘Central do Brasil’.
‘Vitória’ é uma obra que aborda com um certo grau de perfeccionismo a rotina da sua protagonista e a desestabilização desse conceito. Para colocar isso na narrativa, o diretor aposta bastante em situações cotidianas de Nina. Essa escolha afeta um pouco o ritmo do filme no primeiro ato, o que, para determinados espectadores, pode resultar em cenas em que “não acontece nada”.
O saldo final, no entanto, não é afetado e o longa não perde força. ‘Vitória’ consegue usar os fatos ao seu favor e chega a um resultado que vai além daquilo que era esperado. Contudo, isso não seria possível sem Fernanda Montenegro, que demonstra uma força e fôlego incontestáveis, e, mais uma vez, prova porque é uma das maiores atrizes que o mundo já viu.
‘Vitória’ estava originalmente agendado para 2024, mas sua estreia nos cinemas acontece nesta quinta-feira, 13.
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Assista ao trailer de ‘Vitória’:
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