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AMIGO PEPE

De refugiado a criador da Perini: filme resgata a história de Pepe Faro

Documentário revisita a vida do fundador da Perini e do Almacen Pepe

Beatriz Santos

Por Beatriz Santos

20/11/2025 - 7:03 h
Documentário reconstrói a jornada de Pepe Faro, um homem que fugiu da fome e da guerra para fazer do próprio nome
Documentário reconstrói a jornada de Pepe Faro, um homem que fugiu da fome e da guerra para fazer do próprio nome -

A história do imigrante galego que transformou o varejo e a gastronomia de Salvador chega ao público no documentário 'Amigo – A Biografia de Pepe Faro', com a estreia marcada o dia 2 de dezembro. A obra, filmada no Brasil e na Espanha, reconstrói a jornada de um homem que fugiu da fome e da guerra para fazer do próprio nome, e da própria mão de padeiro, um patrimônio afetivo da Bahia.

A construção do documentário partiu de um obstáculo central: o próprio Pepe não queria ser filmado. Aos 83 anos, o fundador da Perini e do Almacen Pepe considerava sua vida simples demais para virar cinema.

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O diretor Amadeu Alban confirma, em entrevista ao Cineinsite A TARDE, que a resistência era real e persistente. “Pepe realmente não queria participar. Apesar de ser uma pessoa extremamente sociável, que faz amizade fácil, ele é um cara muito low profile. A estratégia para superar essa resistência foi vencer na marra".

O diretor explica que sua relação de longa data com a família Faro foi decisiva para quebrar o gelo. “André me chamou pra fazer o filme porque eu sou da colônia galega, meus pais são espanhóis também e meu pai era um dos melhores amigos de Pepe desde a adolescência, conviveram juntos e construíram essa amizade aqui".

A identidade do filme nasce também da maneira como Pepe enxerga o mundo, e como chama as pessoas. “O filme também se chama Amigo, porque Pepe se refere a todo mundo como ‘amigo’, inclusive aos netos. É a marca registrada dele: não só chamar as pessoas de amigos, mas fazer amigos".

Pepe com dois grandes amigos que já partiram, Jorge Amado e Zélia Gattai, em registro feito em uma das lojas da Perini
Pepe com dois grandes amigos que já partiram, Jorge Amado e Zélia Gattai, em registro feito em uma das lojas da Perini | Foto: Divulgação

O método de filmagem precisou seguir o ritmo do protagonista. “A gente adotou uma estratégia que era: eu e o diretor de fotografia sermos uma equipe super enxuta, bem invisível. As situações de filmagem foram menos daquela estratégia tradicional de sentar e gravar vários depoimentos. Era estar nas comidas, nos almoços, nos passeios e ir acompanhando ali como uma mosquinha, puxando conversa”, conta.

O momento em que Pepe finalmente cedeu é um dos mais lembrados por Amadeu. “Vencemos ele pelo cansaço, até o dia em que ele falou: ‘Ah, você quer uma entrevista? Então tá bom, sente aqui’. E aí ficou três horas conversando. Depois a gente conseguiu outras, mas foi na marra".

A simplicidade que Pepe tanto usa para justificar sua relutância acabou sendo, justamente, o que mais potencializou o longa. Amadeu resume: “O filme cumpre essa missão de mostrar as origens dele, dessa pessoa extremamente humilde. Eu acho que isso é um traço da personalidade dele que, mesmo chegando onde chegou, ele mantém".

Das raízes na Galícia ao calor de Salvador

Filmado também em Aboal, aldeia onde Pepe nasceu, o documentário dá dimensão emocional e geográfica à trajetória de um menino que cresceu entre a fome e as privações do pós-guerra.

Para Amadeu, esse contraste era essencial. “Era muito importante contrastar esse ambiente rural, rústico e mais empobrecido mesmo das origens dele com o calor, essa coisa solar, quente, o luxo que ele construiu aqui, no universo de Salvador. Isso se reproduz na fotografia, nas cenas que a gente escolhemos fazer e no fato de termos filmado no inverno".

Primeiro negócio de Pepe aberto em Salvador
Primeiro negócio de Pepe aberto em Salvador | Foto: Divulgação

Segundo o diretor, a escolha das estações também foi intencional. “A gente filmou no verão também, mas a maioria das cenas são no inverno da Galícia. Então esse contraponto mostra muito essa dualidade, esses dois mundos que moldaram o Pepe".

Entre memórias e reencontros, uma das filmagens mais delicadas envolveu Almerinda, esposa de Pepe. "Foi muito difícil gravar com a Almerinda, porque ela tinha muita resistência de gravar, mas aos pouquinhos conseguimos. No último dia da viagem, arrumando as malas, ela topou falar e contou histórias emocionantes".

A experiência tomou um rumo dramático quando o pai do diretor, Alfonso Alban, melhor amigo de Pepe, faleceu durante as gravações. O diretor relata: “Pepe ficou muito abalado, eu também. A gente quase cancelou as filmagens. Meu pai funcionou como o meu produtor de conteúdo, porque ele era amigo de todos os personagens. Lá na Espanha, ele conhecia todos os lugares. Então, ele era o nosso guia e mediava as pessoas, ligava para o mundo e falava: ‘Eu tô indo aí para gravar o filme de Pepe’”.

Memória, fotos raras e a construção do herói

Com décadas de história e centenas de amigos, escolher o que entraria no filme foi um desafio. Amadeu explica: “Entrevistamos mais de 30 pessoas, cada uma com entrevista de no mínimo duas horas. Só de Fernando, o irmão, foram sete horas de entrevista, tínhamos um volume muito grande de material".

O material reunido incluía álbuns, VHS, fotografias e quadros guardados pela família. "As fotos ali da década de 60 e 70 são muito legais: as fotos dele, do irmão dele e de Almerinda, ainda namorados. Fotos no começo de carreira como padeiro no Tororó, são muito legais porque remetem muito a uma Salvador dessa época e ao contexto formativo dele. Fora toda a beleza das fotos em preto e branco".

Mesmo com tanta materialidade, o diretor não queria apenas uma coleção de lembranças. “Eu não queria que o filme fosse uma coletânea de anedotas, mas sim que tivesse o intuito de ser uma biografia e de contar a trajetória dele".

Pepe em conversa com o então rei da Espanha
Pepe em conversa com o então rei da Espanha | Foto: Divulgação

E essa trajetória inclui marcas profundas da guerra e da imigração. A introdução da guerra, do pós-guerra, das questões históricas, é o contexto, é o caldo de formação de Pepe. Ele veio pra cá muito novo, com 17 anos, e aqui ele reconstrói a vida toda dele".

"Ele converteu toda essa dureza em trabalho, para poder sobreviver, para poder sair dessa situação difícil. E essa energia e força de superar as dificuldades que ele tem, é a base do carisma dele", completa Amadeu.

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A reinvenção aos 73 anos: o nascimento do Almacen Pepe

Depois de vender a Perini, Pepe viveu um período difícil longe do que mais amava: estar entre pessoas. O filho André Faro recorda esse momento: "Meu pai ficou agoniado. Ele não gostava de ficar trancafiado em um escritório. Foi, de fato, um momento muito difícil. O negócio dele, o que ele gosta, sempre foi lidar com gente, com cliente, receber os amigos, ficar na produção.”

A ausência da rotina de atendimento, das conversas e da produção afetou profundamente o padeiro. Quando finalmente pôde voltar ao mercado, após o período contratual de quarentena, o caminho estava claro.

"Decidimos montar um outro negócio no varejo, até para atender meu pai. Foi ele quem encontrou o ponto ali na Paulo VI, na Pituba, onde havia uma casa que transformamos em loja, e montamos o primeiro Almacen Pepe, que completou dez anos agora em 2025. O curioso é que meu pai não queria dar o nome dele à loja, mas eu expliquei que o nome dele não era só um nome, e sim uma marca conhecida de todos", explica André.

Amadeu Alban resume essa virada com admiração: A fundação do Almacen foi uma lição de vida para qualquer pessoa. Uma pessoa que, aos 73 anos, estava em depressão porque estava sem trabalhar naquilo que gostava, poder se reinventar e abrir um novo negócio, começar do zero, é fascinante.”

Lições entre gerações e a força da amizade

Trabalhando ao lado do pai desde os 14 anos, André afirma que a convivência moldou tudo o que sabe: “A gente só cresce na vida e as coisas só dão certo com trabalho, dedicação, humildade, perseverança e amor ao próximo. Aprendo com Pepe também a me relacionar de forma respeitosa e atenciosa com as pessoas, seja quem for".

Ele ainda faz questão de reforçar o papel da mãe no processo:

"Nada disso seria possível sem a minha mãe, Dona Almerinda. Ela sempre cuidou de meu pai e até hoje assina receitas tradicionais espanholas em nossos restaurantes. Ficamos felizes de participar da história de Salvador, que tão bem acolheu meu pai”, disse André.

O desejo de André moveu Amadeu ao realizar o filme. "Quando André me convidou para fazer o filme, ele queria fazer isso enquanto o Pepe estivesse vivo, para que ele pudesse ver o resultado da biografia dele e que não fosse uma coisa póstuma. André queria muito que isso pudesse ser uma forma de honrar os imigrantes, os amigos, a figura única que é Pepe, e como isso é um legado para todas as pessoas”, afirma Amadeu.

Realizado pela Movioca, com patrocínio Villa Global Education, via Viva Cultura da Fundação Gregório de Mattos, e apoio do Grupo Max Forte, M. Dias Branco e do próprio Almacen Pepe, Amigo – A Biografia de Pepe Faro já conta com trailer no site oficial. O filme completo poderá ser assistido no mesmo site a partir do dia 2.

Veja o trailer:

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