SEXAGENÁRIA VITRINE
Festival de Brasília celebra 60 anos com Wagner Moura e Kleber Mendonça em noite histórica
Conheça os filmes inéditos que prometem agitar a mostra competitiva do Festival de Brasília

Por Rafael Carvalho | Especial para A Tarde*

Não é todo dia que um evento de cinema completa 60 primaveras. O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o mais longevo do país – teve sua primeira edição em 1965, ainda com o nome de Semana do Cinema Brasileiro – dá início, na noite de hoje, a sua 58ª edição, isso porque durante a Ditadura Militar o evento ficou três anos sem acontecer. Ainda hoje, é uma das mais prestigiosas vitrines de visibilidade do cinema brasileiro.
Sob nova direção geral de Sara Rocha e direção artística de Eduardo Valente desde o ano passado, o Festival de Brasília recuperou o pulso firme e a relevância que havia perdido nos últimos anos, o que reforça a necessidade de se manter uma continuidade de uma gestão comprometida, sobretudo, com a produção nacional.
O evento retorna agora para o mês de setembro, sua data tradicional, ainda que precise contar com a “concorrência” do Festival de Gramado, que aconteceu em agosto, e do Festival do Rio, marcado para início do próximo mês.
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“O fato é que há ótimos filmes para todo mundo. Teve ano passado quando o festival aconteceu em dezembro e teve agora. Acho que os festivais já amadureceram perfis diferentes e os realizadores sabem reconhecer isso. Eles sabem direcionar seus filmes para aquilo que é mais a proposta de cada evento”, destacou Valente em conversa com A TARDE, atestando o momento prolífico da produção cinematográfica brasileira.
A noite de abertura vai contar com a exibição do aguardado filme pernambucano O Agente Secreto. O longa é dirigido por Kleber Mendonça Filho e protagonizado pelo baiano Wagner Moura – ambos premiados no Festival de Cannes deste ano, onde o filme estreou; o primeiro como o prêmio de Melhor Direção, e Moura como Melhor Ator.
Essa vai ser uma pré-estreia importante para o filme, dois dias depois de ter sido exibido em Recife. São as primeiras sessões públicas no Brasil, depois do sucesso internacional que vem colhendo – desde já apontado como forte concorrente para o próximo Oscar. E isso reforça também o lugar de prestígio do Festival de Brasília, escolhido para ser o primeiro evento brasileiro a exibir o filme.
Celebração e legado
Na noite de hoje haverá ainda uma justíssima homenagem a Fernanda Montenegro que, aos 95 anos de idade, comemora cerca de 80 anos de carreira, ainda em atividade. Durante o evento, será exibido A Falecida (1965), de Leon Hiszman, filme com o qual ela ganhou o prêmio de Melhor Atriz justamente na primeira edição do festival.
“É desnecessário explicar por que é importante homenagear Fernanda Montenegro. E isso remete não só ao todo desses 60 anos de história, mas a questões já presentes na origem de um festival fadado a ser muito importante simplesmente pelos filmes que estavam ali naquela primeira edição”, pontuou o programador.
Por confluência do destino, outra homenagem se impôs este ano. O crítico, pesquisador e professor de cinema Jean-Claude Bernardet faleceu há poucos meses, aos 88 anos. O festival irá exibir os curtas mais atuais dirigidos por ele, em parceria com o diretor Fábio Rogério, dois deles inéditos. “Esse é o jeito que o Jean-Claude gostaria de ser homenageado”, afirmou Valente.
Bernardert, além da importância maiúscula para o cinema brasileiro, foi um dos fundadores do Festival de Brasília há 60 anos, junto com o crítico Paulo Emílio Sales Gomes, ambos professores de cinema da Universidade de Brasília (UnB) à época.
Novos filmes
Os filmes da mostra competitiva do Festival de Brasília, por sua vez, apontam para o pulsante cinema contemporâneo, composto por obras inéditas no Brasil. Dentre os longas, será apresentado o filme baiano Xingu à Margem, dirigido por Arlete Juruna e Wallace Nogueira. Trata da vida dos ribeirinhos da Volta Grande do Xingu, no Pará, região onde foi construída a hidrelétrica de Belo Monte.

Dentre os curtas-metragens, a produção baiana Couraça também estreia na competição. Com direção de Susan Kalik e Daniel Arcades (ele também roteiriza e atua no filme), o curta revisita o imaginário do cangaço, a partir do momento em que Lampião sofre sua emboscada fatal, e os demais sobreviventes precisam refazer seu destino.
Outros destaques presentes na competição de longas-metragens são as produções Morte e Vida Madalena, do cearense Guto Parente, apresentado no FIDMarseille, na França; e Futuro Futuro, do gaúcho Davi Pretto, exibido no Festival de Karlovy Vary, na República Tcheca, dentre outros.
Bahia presente
Além dos filmes baianos na competição de longas e curtas, outras produções do Estado também fazem parte da programação nas mostras paralelas do festival. O cineasta Henrique Dantas revisita o cinema marginal feito na Bahia no seu longa Anti-Heróis do Udigrudi Baiano, que faz parte da mostra História(s) do Cinema Brasileiro.

Já As Travessias de Letieres Leite, de Day Senna e Íris de Oliveira, compõe a mostra Festival dos Festivais, que destaca filmes exibidos em outros eventos anteriormente. O filme foi apresentado no In-Edit Brasil e retrata a trajetória e o legado do grande maestro e educador baiano, conhecido por ter criado a Orkestra Rumpilezz.
Premiado pelo júri oficial, júri popular e pela crítica no Olhar de Cinema, em Curitiba, o longa Cais, de Safira Moreira, também aparece na mesma mostra. O filme resgata as memórias da mãe da realizadora baiana a fim de refletir sobre o tempo, a vida e a morte.
Como parte da programação histórica, o festival exibe ainda o clássico Viramundo, do baiano Geraldo Sarno – filme que também esteve presente na primeiríssima edição do evento. O Festival de Brasília segue até o próximo sábado, 21, com uma programação intensa, não apenas de exibições, mas com atividades formativas, debates, conferências, oficinas, ambiente de mercado e encontros setoriais.
*De Brasília
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