MOSTRA SP
Novo filme da Netflix é uma comédia dramática que pode incomodar
Filme encerrou a 49ª Mostra de Cinema de São Paulo

Por Rafael Carvalho | Crítico de cinema*

Um ator bem-sucedido de meia-idade – ou mais que isso, uma vez que George Clooney já passou dos 60 anos – vive uma crise profissional e pessoal, muito embora nada que abale seu status de astro do cinema – ele está prestes a receber uma homenagem em um festival, mesmo que negociado por seu agente. Ainda assim, ‘Jay Kelly’ aborda os abalos emocionais enfrentados por seu personagem-título.
O filme encerrou oficialmente a programação da 49ª Mostra de Cinema de São Paulo. Distribuído pela Netflix, aposta na figura de Clooney que interpreta não uma versão de si mesmo, mas espelha muito da sua figura de alta reputação na indústria hollywoodiana para criar um drama intimista sobre um figurão midiático.
O personagem é rico e pode escolher os papeis que quer fazer, mas algo não está bem. Ele não consegue estabelecer maior conexão com as filhas adolescentes, e mesmo a relação de amizade e parceria com seus agentes (vividos por Adam Sandler e Laura Dern) começa a dar sinais de cansaço.
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Ele, então, empreende uma viagem de trem pela França a fim de seguir e alcançar a filha que vai fazer um mochilão na Europa. Leva consigo toda a sua equipe e fiéis empregados que vão se revelando não tão fiéis assim – ou pelos menos passam a questionar a ideia de lealdade para com o patrão.
Dirigido por Noah Baumbach, o filme possui o tom leve das comédias dramáticas dirigidas por ele nos últimos anos (casos de ‘Ruído Branco’ e ‘Os Meyerowitz’). Pode incomodar àqueles que vêm no filme apenas mais um registro pouco problematizador sobre gente rica exercendo seus privilégios.
Mas Jay Kelly diverte ao questionar um mundo de belas aparências que associamos à vida dos famosos. Não cria nenhuma ruptura sobre esse status quo, mas se beneficia do carisma de Clooney para conferir empatia a um personagem que precisa se confrontar com suas escolhas de vida.
O filme chega aos cinemas brasileiros no dia 14 de novembro e entra no catálogo da Netflix em 5 de dezembro.
Premiados
A Mostra de São Paulo terminou na última quinta, 31. Entre os premiados, destacam-se os dois filmes eleitos pelo júri da crítica, composto por profissionais que cobriram o evento. Curiosamente, são ambas produções que partem do olhar infantil para investigar o mundo e os dilemas dos mais crescidos.
O escolhido entre os nacionais foi ‘A Natureza das Coisas Invisíveis’, dirigido por Rafaela Camelo. O longa conta a história de duas meninas que fazem amizade durante a convivência em um hospital. Junto com suas mães, elas irão passar uma temporada em uma fazenda onde irão aprofundar os laços de amizade.
Além de contar com o desempenho impressionante das duas garotas, o filme é um drama delicado e intimista que retrata as dores da perda enquanto também reforça o ganho com a criação de novas redes de união.
Já entre os longas internacionais, o eleito foi o longa nigeriano ‘A Sombra do Meu Pai’, do cineasta Akinola Davis Jr. Na trama, dois irmãos recebem a visita inesperada do pai ausente e partem com ele para um dia de passeio na capital do país, Lagos. Enquanto isso, a Nigéria passava por suas primeiras eleições presidenciais democráticas desde que os militares assumiram o país após a independência.
O filme faz um retrato cru e sem exotismos do país africano, ao mesmo tempo que retrata com sensibilidade o afeto paterno e de como isso faz falta na vida dos garotos. O filme, sobretudo, entende que restituir os laços familiares é tão importante quanto constituir as estruturas democráticas de um país.
*O jornalista viajou a São Paulo com apoio do evento.
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