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ESTREIA

O faroeste que está provocando polêmica já está em cartaz e você precisa assistir

Ari Aster abandona o terror e entrega seu filme mais político

Rafael Carvalho | Especial para A TARDE

Por Rafael Carvalho | Especial para A TARDE

16/11/2025 - 17:04 h
Ari Aster revisita o western para expor extremismos em uma história perturbadora
Ari Aster revisita o western para expor extremismos em uma história perturbadora -

No início de 2020, quando o coronavírus começava a se tornar uma ameaça real e muitas medidas já estavam sendo tomadas para isolar as pessoas, o xerife de uma cidade insiste em ignorar a questão – recusa-se a usar a máscara, por exemplo. Ele começa então a bater de frente com o atual prefeito local, com quem já tinha problemas pessoais prévios.

De início, a trama de Eddington pode soar apenas como uma sátira política dos tempos atuais de polarização, mas o diretor Ari Aster, mais conhecido pelas narrativas de horror e fantasia, investe aqui em um retrato direto e sem firulas dos extremismos que envolvem, principalmente, a direita em suas ideologias cheias de razão e nenhum diálogo.

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Para isso, escalou dois grandes atores do momento – Joaquin Phoenix e Pedro Pascal – para viverem rivais em uma pequena cidade do Centro-Oeste dos Estados Unidos que intitula o filme. O primeiro, como o xerife negacionista e meio embrutecido – o homem da lei incorpora todos os predicados de um trumpista raiz –, enquanto o outro encarna o político progressistas, de origem latina, que busca se reeleger.

A rixa entre os dois é antiga e envolve a atual esposa do xerife (Emma Stone), que teve um envolvimento amoroso mal resolvido com o atual prefeito no passado. Mas a coisa ganha outra proporção quando o xerife, para bater de frente com o latino, resolve entrar na disputa política e se candidatar a prefeito também nas eleições que se aproximam.

Com a tensão que paira no ar e com o clima de animosidade entre eles, o longa pode sugerir um retrato da ignorância cega que alcança os escalões do poder administrativo (que hoje sabemos muito bem onde deu e o que causou). Mas o filme se interessa mesmo é pela escalada surreal de bestialidade diante do caos instalado a partir das atitudes impulsivas, e mesmo infantilizadas, do xerife.

O filme aposta na explosão de violência que esse barril de pólvora já anunciava. Seu maior defeito é fazer um retrato por vezes caricato – e muito cínico – dessa polarização, um estudo pouco original que possui desdobramentos senão previsíveis, pelo menos nada surpreendentes em tempos de fake news e pós-verdade.

Saiba onde assistir Eddington em Salvador

Western revisitado

Imagem ilustrativa da imagem O faroeste que está provocando polêmica já está em cartaz e você precisa assistir
| Foto: Divulgação

Ari Aster iniciou a carreira com dois longas notáveis de terror (o macabro Hereditário e o solar, mas não menos assustador, Midsommar – O Mal Não Espera a Noite), filmes com pulsação que oxigenaram o gênero alguns anos atrás e formaram uma legião de admiradores em torno do diretor.

Em seguida, ele partiu para um projeto inesperado e que lidava mais com o insólito e a fantasia em Beau Tem Medo, uma espécie de reinvenção da Odisseia homérica, só que desta vez em uma jornada para que o paranoico personagem pudesse cruzar os Estados Unidos para visitar a mãe.

Agora, ao aparecer com Eddington, que estreou na competição do Festival de Cannes e foi exibido pela primeira vez no Brasil na Mostra de Cinema de São Paulo mês passado, o cineasta faz um movimento fora da curva na sua trajetória – curiosamente, alcançando um status de “cinema de autor” com um filme supostamente mais “sério” por tratar de questões políticas de forma mais direta.

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De qualquer forma, os dois últimos filmes parecem subverter expectativas dos fãs e é sempre bom quando cineastas conseguem ousar e sair da sua zona de conforto. Curiosa e infelizmente, os resultados desses filmes são, no mínimo, questionáveis.

No caso de Eddington, soa como uma tentativa de ser mais relevante ao fazer uma leitura contemporânea do estado das coisas na vida política – não apenas dos EUA, mas em muitas partes do mundo.

No entanto, a escolha por ambientar a trama no Oeste do país, contrapondo duas figuras arquetípicas do faroeste, gênero cinematográfico essencialmente norte-americano, reforça ainda mais a tentativa de construir um discurso que tem a ver não mais com a formação da nação estadunidense, mas com um conservadorismo enraizado ali – pedaço de terra que vota pesado em Donald Trump.

Política e violência

Imagem ilustrativa da imagem O faroeste que está provocando polêmica já está em cartaz e você precisa assistir
| Foto: Divulgação

Antes de avançar para a tragédia anunciada, o roteiro cria um panorama de personagens inusitados, quase todos ridicularizáveis. A própria figura do xerife de Phoenix tem algo de cômico e bufo, seja pela própria impulsividade e pouca inteligência que molda suas ações, seja pela inadequação aos tempos atuais que se baseiam na ciência para encarar uma ameaça à saúde pública mundial.

A juventude é representada pelo filho um tanto inconsequente do prefeito, mas especialmente de seu amigo que busca se aproximar das pautas de esquerda apenas porque se interessa por uma garota da ala progressista. Desde ali se enxergam as hipocrisias e movimentos de conveniência baseados nos interesses pessoais dos indivíduos.

Há espaço ainda para entrar em cena uma figura inusitada, interpretado por Austin Butler, uma espécie de guru contemporâneo que consegue virar a cabeça das pessoas – como a esposa do xerife e sua sogra – a partir de um discurso meio religioso, meio fatalista, seduzindo a partir de teorias da conspiração esdrúxulas, vendidas nos recônditos mais obscuros da internet.

Ari Aster faz um grande esforço para tornar crível toda essa gama de gente tresloucada e instável emocionalmente, reflexo do homem médio norte-americano.

Há uma boa dose de caricatura nisso aí, embora ele tente conferir certa substancialidade ao todo. Mesmo que seja difícil defender por inteiro o desfecho do filme, o final possui um cinismo muito marcado, forma de acentuar uma ideia de inevitabilidade desse mal do nosso tempo.

Eddington / Diretor: Ari Aster / Com Joaquin Phoenix, Pedro Pascal, Emma Stone, Austin Butler, Amélie Hoeferle, Luke Grimes, Micheal Ward, Cameron Mann / Salas e horários: cinema.atarde.com.br

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Ari Aster Eddington Joaquin Phoenix pedro pascal

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