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DORES DE FAMÍLIA

Um novo filme começa a chamar atenção como um dos mais emocionantes do ano

Produção transforma conflitos familiares em arte

Rafael Carvalho | Especial para A TARDE

Por Rafael Carvalho | Especial para A TARDE

24/12/2025 - 8:05 h
Em ‘Valor Sentimental’, Joachim Trier realiza um estudo profundo das relações familiares
Em ‘Valor Sentimental’, Joachim Trier realiza um estudo profundo das relações familiares -

Dramas familiares nunca saem de moda. Os traumas do passado e as dores de crescer ao lado de outros seres humanos – nenhuma família é normal, já sabemos disso – sempre vão deixar marcas indeléveis nas pessoas. Valor Sentimental é a incursão mais profunda do norueguês Joachim Trier nesse sentido, um estudo de personagens que alcança níveis muito intensos e genuínos de investigação da alma.

Na trama, acompanhamos as irmãs Nora (Renate Reinsve) e Agnes (Inga Ibsdotter Lilleaas) que sentem a perda da mãe. No processo de voltar à casa de sua infância e remexer nos móveis e memórias do passado, junta-se a elas o pai (Stellan Skarsgård), que por tanto tempo se manteve ausente do seio familiar.

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E chega com uma proposta. Cineasta já renomado, ele acabou de escrever o roteiro de um novo filme inspirado em sua vida particular e quer que Nora, já com uma carreira de atriz no teatro, seja a protagonista do filme. Com a recusa da filha, ele busca outra atriz e acaba se encantando por uma jovem estrela do cinema norte-americano (vivida por Elle Fanning) que passa a frequentar a antiga casa da família.

Estão lançadas as iscas para que o filme se movimente em torno da areia movediça que são as relações familiares, os entraves emocionais e os egos inflados e feridos. Trier, que escreveu o roteiro com o parceiro de longa data Eskil Vogt, cria uma estrutura robusta de interações para dar conta das muitas conexões e atritos que se dão entre os personagens.

Seja entre Nora e o pai, entre as duas irmãs, do cineasta com sua nova atriz (e aqui ele acaba reverberando também sua relação com a própria mãe na infância) ou de Nora com um amante casual, todas elas contribuem para que o espectador consiga fazer um desenho maior do que foi essa família no passado e como eles se sustentam agora, com os estilhaços dos anos de formação.

O longa é ainda o grande concorrente de O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, na corrida ao Oscar de Melhor Filme Internacional, apesar de que ambos precisam enfrentar ainda a crescente campanha do iraniano Foi Apenas um Acidente, de Jafar Panahi. Mas é certo que o filme de Trier deve ser indicado em diversas outras categorias, como na principal, na de roteiro e, sobretudo, nas categorias de atuação. É realmente um trabalho muito coeso e intenso o que todo o elenco faz aqui, lidando com alta carga dramática, mas evitando excessos.

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Pai e filhas

Valor Sentimental já começa com Nora tendo um ataque de pânico no palco do teatro ao estrear uma nova peça. Logo nos damos conta das inconstâncias emocionais da moça, não apenas em relação ao seu trabalho, mas também aos anseios pessoais diante da própria vida como um todo.

Muito diferente da irmã, que seguiu uma vida comum, longe das aspirações artísticas que rondam a família (mesmo tendo ela atuado em um filme do pai quando era criança), casando-se e tendo um filho, Nora não conseguiu a mesma estabilidade – apesar delas duas manterem uma ótima relação de companheirismo. Ela ainda vive um caso fortuito com um colega de trabalho casado e rejeita uma aproximação afetiva maior com ele.

A chegada do pai e do convite para o filme (re)abre uma porta de mágoas em Nora, não apenas pela ausência da figura paterna na sua criação, com as constantes brigas com a mãe presenciadas pelas crianças, mas também porque o pai nunca se importou muito com a carreira de atriz da filha – ela acredita que o pai nunca a assistiu nos palcos, algo que ele nega.

De qualquer forma, a proposta do cineasta para a filha atriz soa como uma afronta a ela, diante da frieza e do cinismo do pai, dado o distanciamento que aquele homem sempre manteve em relação às irmãs, e talvez mais com Nora do que com Agnes, querendo agora se aproximar como se nada houvesse de mal resolvido entre eles.

Por outro lado, a atriz estadunidense que chega para “substituí-la” não deixa de provocar certos ciúmes e estranhamentos, especialmente pelo comportamento um tanto quanto fútil, típico das jovens estrelas hollywoodianas, e por escancarar diferenças cruciais entre as duas, física e comportamentalmente.

Cinema e memória

Imagem ilustrativa da imagem Um novo filme começa a chamar atenção como um dos mais emocionantes do ano
| Foto: Divulgação

Apesar de Nora ser a figura central aqui, o cineasta Gustav Borg também possui uma centralidade no roteiro. É o seu retorno que desencadeia os conflitos emocionais do filme – assim como a sua ausência é apontada como causa dos bloqueios de Nora.

Mas mais que isso, o filme faz dos movimentos do personagem uma importante engrenagem para os conflitos da trama, o que aponta Borg como o verdadeiro protagonista de Valor Sentimental.

Os embates com a filha são fundamentais para entendermos as rachaduras do passado e suas consequências atuais, ainda que não caminhem para um rompimento entre eles, apenas para o sentimento de rancor. Mas as interações de Borg com a jovem atriz norte-americana são também importantes na medida em que, ao ensaiar o filme novo, carregado de detalhes pessoais do passado familiar, ele parece interessado, de alguma forma, em encarar esses fantasmas, mesmo que do seu jeito pouco amoroso.

Nesse sentido, Valor Sentimental é também um oportuno estudo sobre o poder da criação artística e sobre a capacidade do cinema em reinventar nossas memórias, recriar caminhos, mas, sobretudo, uma oportunidade de enfrentar os erros e dores do passado, mesmo que para isso seja preciso tocar nas feridas abertas do presente.

E isso fica muito explícito no terço final do filme, em que todas essas intrigas convergem para um embate silencioso, mas nem por isso menos potente. Trier conduz todo esse drama com uma sensibilidade sem igual, evitando cair na armadilha da exasperação dramática que domina diversos filmes de acerto de contas como esse. Valor Sentimental mira fundo nas inquietações emocionais e faz brotar lágrimas sinceras, com a dignidade que as dores familiares carregam.

Valor Sentimental (Affeksjonsverdi) / Dir.: Joachim Trier / Com Renate Reinsve, Inga Ibsdotter Lilleaas, Stellan Skarsgård, Elle Fanning, Cory Michael Smith/ Salas e horários: cinema.atarde.com.br

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