CRÍTICA
Visual gigante, história pequena: Avatar 3 patina em águas rasas
Produção aposta no visual e esquece os personagens

Por João Paulo Barreto | Especial para A TARDE

Desde o impacto da grandiosidade e do apelo visual de seu primeiro filme da franquia, Avatar, lançado em um longínquo 2009, e com toda a expectativa gerada ano após ano para a sua continuação, O Caminho da Água, de 2022, que estreou após um intervalo quase inacreditável de mais de uma década, o crescimento proporcional da busca do cineasta James Cameron por um espetáculo que superasse seu antecessor já era algo esperado pelo público cinéfilo que se aventura pelas mais de três horas de sua proposta de cinema.
Cabe dizer aqui que o intervalo de tempo para a produção de seu segundo filme se justificou diante do impressionante mundo de efeitos subaquáticos criados totalmente de forma digital, vistos no longa lançado há três anos.
E nesta mesma seara de ampliação de sua proposta de entretenimento, o diretor de clássicos como Aliens (1986) e O Exterminador do Futuro II (1991) conseguiu com seu terceiro ato do épico alienígena e de crítica colonialista e ambiental, Fogo e Cinzas, alcançar um impacto ainda maior em termos de apelo imagético.
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Foco no grandioso

De fato, tudo parece ainda mais gigantesco nesse seu fechamento de trilogia. Ao menos visualmente, claro. Iniciando sua trama imediatamente após os acontecimentos do clímax de seu segundo filme, quando a batalha marítima entre o exército terrestre liderado pela figura interracial humana/alienígena do personagem do vilão Quaritch (Stephen Lang) teve a vitória do grupo de seres nativos do planeta Pandora, os Na'vi, liderados pelo também ser metade homem, metade alien, Jake Sully (Sam Worthington), Fogo e Cinzas abre sua trama já com uma preparação para uma possível nova investida dos gananciosos e vilanescos humanos.
Diante de reviravoltas já esperadas com a inserção de gigantescos seres marítimos a funcionar como propostas narrativas resolutivas (o proverbial deus ex-machina, para ser mais exato) em seu desfecho, o retorno àquele cenário paradisíaco já anuncia, claro, como será sua conclusão diante de aliados que pesam centenas de toneladas.
E não dá outra. Seu longo e arrastado final só se justifica por conta desse modo de tornar o fechamento daquelas três horas de sessão ao menos impressionante visualmente.
Dito isso, é válido um aprofundamento nos dramas dos personagens trazidos pelo roteiro assinado pelo próprio Cameron e pelo casal Rick Jaffa e Amanda Silver, sendo estes dois últimos também os responsáveis pelos textos da recente trilogia Planeta dos Macacos e de O Caminho da Água.
Águas rasas

Ao utilizar o trauma da perda de um dos filhos em batalha para balizar o ódio que a personagem vivida por Zoe Saldaña, Neytiri, possui pelos humanos, incluindo o filho adotivo humano, Spider (Jack Champion), o roteiro de Fogo e Cinzas até pincela certa profundidade em sua base.
E com este personagem simbolizando uma possível derrocada de toda uma espécie, elemento dramático bem eficiente da trama desta terceira parte, esse artifício é até bem explorado. A mesma profundidade se encontra no trauma e superação do filho caçula do casal, cuja culpa pela morte do irmão o tortura, bem como nos conflitos que a necessidade de um pulso firme como pai exige de Jake Sully.
Porém, a total ausência de um melhor aprofundamento dos antagonistas mercenários do ar vividos pelo Povo das Cinzas, cuja semelhança de atitudes até lembra os selvagens do deserto de Mad Max, mas sem a busca por gasolina como fator de impulsão e atitude, os coloca como personagens cuja superficialidade soa como um desperdício de narrativa.
Isso se dá, também, pela total dependência dos mesmos para com os eventuais aliados liderados por Quaritch.
Uma vez que toda a ideia de um povo cujo domínio do fogo seria utilizado como uma arma pela proposta de mais um elemento natural a simbolizar a saga Avatar acabou não indo para a frente, vê-los somente como um povo nativo e pirata impressionado com armas humanas foi algo um tanto decepcionante.
Do mesmo modo, ao relegar para segundo plano personagens como os líderes do povo aquático, o casal Tonowan e a grávida Ronal (vividos por Cliff Curtis e Kate Winslet), o filme deixa de fazer valer uma excelente oportunidade de aproveitar-se do impacto emocional de seu desfecho, envolvendo um parto de emergência e sua tragicidade. O modo banal como as consequências dessa cena são tratadas é algo que gera incômodo justamente pelo fato de Fogo e Cinzas possuir mais de três horas de duração e não encontrar ao menos alguns segundos para um melhor desenvolvimento deste momento.
Fica a impressão de uma história que vai se esgotando com seus aspectos repetitivos existentes em suas duas continuações. Se os planos de James Cameron em construir uma saga de cinco filmes forem concretos, não será possível requentar uma proposta de saga que já encontrou seu ápice em termos narrativos.
Afinal, apenas a beleza e a exuberância visual de seu material podem não ser suficientes para manter um filme de três horas muito atrativo.
Avatar: Fogo e Cinzas (Avatar: Fire and Ash) / Dir.: James Cameron / Com Sam Worthington, Zoe Saldaña, Stephen Lang, Giovanni Ribisi, Sigourney Weaver, Joel David Moore, CCH Pounder, Matt Gerald, Cliff Curtis, Giovanni Ribisi, Dileep Rao, Oona Chaplin, David Thewlis, Kate Winslet, Dylan Bounce / Salas e horários: cineinsite.atarde.com.br
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