20 anos do A TARDINHA: o jornal que transformou a infância na Bahia
Caderno infantil de A TARDE foi lançado há 20 anos

Aprendizado e diversão. O primeiro A TARDINHA estreou há 20 anos com foco no público infantil. Encartado nas edições de A TARDE aos sábados, o caderno estimulava o hábito da leitura na infância e oferecia conteúdos inteligentes, lúdicos e que não subestimavam a capacidade de compreensão das crianças. Elas, inclusive, colaboravam nas pautas.
Ao transformar o universo da informação em uma aventura do saber, o A TARDINHA se tornou referência no jornalismo feito para crianças na Bahia, consolidando a vocação do Grupo A TARDE para criar projetos educativos.
“O novo caderno tem formato tabloide, com todas as páginas coloridas e linguagem acessível para um público de 6 a 12 anos. A TARDINHA leva ao leitor mirim - além da compreensão de fenômenos sociais que as crianças vivenciam, mas não entendem -, brincadeiras, jogos, internet, histórias em quadrinhos, receitas, dicas de passeio na cidade e reportagens cujas fontes são elas próprias”, informava a edição de A TARDE, de 7 de outubro de 2005, na véspera da estreia do caderno infantil.
O projeto do A TARDINHA se somava ao já existente Caderno Dez!, que tinha como foco o público adolescente e jovem adulto. Ambos eram coordenados pela jornalista Nadja Vladi e, juntos, formavam a Editoria Infanto-juvenil de A TARDE. Nos primeiros anos, faziam parte da equipe de reportagem as jornalistas Carla Bittencourt e Andréa Lemos (que entrou como estagiária), enquanto a jornalista Mônica Rodrigues da Costa era a editora. Vinha de longa experiência na Folha de São Paulo, onde esteve à frente do Folhinha por quase 18 anos.

“Quando cheguei a Salvador com um modelo bem-sucedido de jornalismo para crianças, por causa da Folhinha, a primeira coisa que disse foi: temos que entrar em contato com as escolas, porque é através delas que vamos encontrar as crianças. Mas, independente da experiência com a Folhinha, nós fizemos o A TARDINHA a partir da discussão com as crianças, professores e escolas baianas, a partir dessa realidade e contexto. No primeiro ano, íamos toda semana às escolas conversar com os alunos e ouvir suas histórias, pois o jornalismo para crianças deve ser feito para e com elas”, explica Mônica.
As crianças mandavam cartas e e-mails com desenhos, sugestões de temas e pedidos, além de participarem de concursos promovidos pelo caderno. "Fazíamos matérias que garantiam o lugar de fala delas e é isso que esse tipo de jornalismo precisa. No jornalismo adulto, a voz das crianças quase não é ouvida, mesmo quando as pautas têm elas no centro. Então, abrir esse espaço é muito importante. Por isso, o trabalho e o conteúdo publicado no A TARDINHA é tão importante e merece ser valorizado. Foi um projeto excepcional", enfatiza a primeira editora.
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Páginas do A TARDINHA traziam também cartas, desenhos e curiosidades | Crédito: CEDOC A TARDE / 18-02-2006:
Opinião de criança
Colorido e quase sempre diagramado com desenhos que as crianças enviavam, o suplemento se dividia em diferentes seções, como a de Cartas & Desenhos, onde elas podiam expressar suas opiniões, anseios e reclamações, como na edição do dia 15 de outubro de 2006, em que a jovem Clara Peruana, da Escola Lua Nova, reclamou da pouca variedade nos sites que existiam naquela época para crianças.
"Esses dias estava na internet e não tinha nenhum site que eu já não tivesse ido, quer dizer, esses sites estão enjoando", escreveu.
Havia também a seção Ciência que, nesta mesma edição, explicava sobre a origem do universo. E a de Debate, quando um tema era proposto e opiniões, com diferentes perspectivas, eram apresentadas para as crianças desenvolverem o senso crítico e a capacidade analítica.
Por se tratar de um suplemento de temas diversos e que atendia um público que tem a curiosidade mais do que aflorada, ter fontes das mais diversas áreas de conhecimento era a regra de ouro.
"O A TARDINHA tinha uma pluralidade de temas e fontes que não se restringiam ao universo da criança. Eram especialistas, acadêmicos, artistas e, claro, as próprias crianças, que sempre eram ouvidas, inclusive, para termos um feedback sobre o que estava sendo publicado. O caderno também tinha uma entrada muito boa nas escolas e os professores costumavam o usar nas aulas para falar de diversos temas", explica Andréa Lemos, que foi estagiária, repórter e editora do A TARDINHA, onde ficou até 2009.

Jornalistas mirins
O projeto do A TARDINHA existia desde 2003, quando crianças produziram reportagens para as diversas editorias de A TARDE. No ano seguinte, em 12 de outubro de 2004 - Dia das Crianças -, o jornal encartou um caderno todo escrito e desenhado por elas. Essas iniciativas serviram de base para a criação do A TARDINHA. Meses antes da estreia, uma edição zero foi levada para sete escolas de Salvador, entre públicas e privadas, e mais de 200 crianças avaliaram o conteúdo, contando aos repórteres o que elas gostariam de ver em uma publicação infantil.
Essas considerações deram origem a edição número um, que foi publicada no dia 8 de outubro de 2005. O evento de lançamento reuniu crianças de 20 escolas no Cinema UCI do antigo Aeroclube. A sessão no cinema foi de Wallace e Gromit: A Batalha dos Vegetais. Antes do filme de animação, crianças de diversas idades receberam a primeira edição de A TARDINHA, analisaram a publicação e opinaram sobre o que gostariam de ler nas próximas.
"As tirinhas foram as preferidas, em disparado. 'Achei muito divertido. Quero que tenha sempre quadrinhos', disse Luiza Pereira, 8 anos. Sua amiga, Milena Rosa Silva, da mesma idade, também gostou das HQs e deixou uma sugestão: 'Queria que falasse mais sobre bonecos'. Aaron Matheus, 10, contou que conheceu A TARDINHA num passeio que a sua escola promoveu para A TARDE. Para ele, o caderninho deve falar sobre jogos e bicicleta", informava a edição de A TARDE de 9 de outubro de 2005, repercutindo a estreia do caderno.
Plural em seus temas, o A TARDINHA foi construído com a proposta de levar matérias que eram de interesse do público infantil, mas a equipe embarcava também em pautas consideradas difíceis, como política e economia. Mônica explica que um dos grandes desafios no início foi encontrar a linguagem certa, "pois a gente estava escrevendo para crianças, mas a linguagem não podia ser boba", enfatiza.
O equilíbrio consistia em mesclar assuntos difíceis e fáceis. “E colocar isso numa linguagem que fosse compreensível para o leitor era um grande desafio. Lembro de uma matéria que fizemos sobre a bolsa de valores, pois os EUA tinham passado por uma crise: explicamos o que estava acontecendo e ali muita gente nos deu feedback de que finalmente tinha entendido o que estava acontecendo e como a bolsa de valores funcionava", recorda Andréa Lemos.
Dos mistérios do universo, passando pelas belezas traduzidas em poesia, até assuntos espinhosos, como as formas de prevenir o assédio e abuso contra crianças, pauta que rendeu edição do A TARDINHA em parceria com a Unicef, a equipe sempre buscou mesclar a ludicidade e a linguagem didática para abordar qualquer tipo de assunto de forma leve. Um exemplo está, ainda, na edição de 15 de outubro de 2006, que trouxe um caça-palavras com alguns dos direitos presentes no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sinalizando que aqueles direitos "todas as crianças brasileiras deveriam exigir dos prefeitos, dos governadores e do presidente do Brasil".

Entre estudantes das escolas públicas e privadas, o suplemento conseguia reunir crianças de diversas realidades, localidades e experiências de vida totalmente diferentes. A equipe tinha consciência da importância dessa pluralidade para a construção da visão de mundo dos leitores.
“O A TARDINHA tinha uma qualidade editorial excepcional e é uma memória de amor para mim, mas também memória afetiva porque marcou o início da minha carreira. A equipe era extraordinária, com profissionais incríveis, quase todos começando, mas com vontade imensa de acertar e fazer algo bonito. Foi um período especial das nossas vidas. Tenho contato com todos até hoje, são meus amigos, e sempre lembramos do A TARDINHA com muito carinho”, afirma Andréa Lemos.
*Com a colaboração de Tallita Lopes
*Os trechos retirados das edições históricas de A TARDE respeitam a grafia da época em que as reportagens foram originalmente publicadas
*Material elaborado com base no acervo do CEDOC/A TARDE
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