Ba-Vi: clássico com a devida importância
Confira a coluna do jornalista Leandro Silva
Sábado é dia de Ba-vi. Chega à edição 500 o clássico que é patrimônio cultural do estado, com importância gigantesca para quase todos que nascem em Salvador. Somos criados em volta do que nos liga ao nosso Esquadrão e a rivalidade nos é apresentada tão cedo quanto o nosso amor é formado. Paranaense, com vasta experiência em clássicos paulistas, o ex-goleiro Rogério Ceni teve os primeiros contatos com os Ba-vis apenas no ano passado, e chegou a tratá-los em igualdade de condições com outros jogos, afinal três pontos são três pontos, não é? Engano completo.
Em cada edição do clássico que costuma parar Salvador há muito mais em disputa do que apenas três pontos. Seja final, semifinal, jogo de mata-mata, de fase de grupos ou de pontos corridos, os 90 minutos, na maioria das vezes, servem para comprovar que é o Bahêa quem manda na Bahia. Afinal, são 194 triunfos e 153 tropeços acidentais, com 41 confrontos de vantagem. Os outros 153 jogos terminaram empatados. Alguns deles com gosto de triunfo, como o 1 a 1 de 1994, do inesquecível gol de Raudinei, ou o 3 a 3 de 2012, que nos devolveu o grito de campeão.
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Infelizmente, às vezes a lógica não prevalece. E, depois de presenciar dois desses momentos em que nada esteve certo na Bahia, resultando em derrotas, Rogério Ceni parece ter conseguido compreender qual o significado do Ba-vi para o baiano, principalmente o soteropolitano.
A mudança fica evidenciada no discurso e nas atitudes do treinador. Depois do primeiro triunfo no Baiano, domingo, contra o Porto, Ceni nem desconversou quando o assunto foi o clássico, mesmo tendo um jogo antes, vencido ontem, em Jequié, contra a equipe da casa, por 3 a 1, com gols de Pulga, Everaldo e Ruan Pablo. Ele deixou claro que a prioridade da semana seria o Ba-vi e que iria preservar alguns dos principais nomes, deixando-os de fora do compromisso de ontem.
Os integrantes do quarteto do meio, que já chegou a ser apontado como um dos melhores do País, nem viajaram. Novatos como Erick, Nestor e Pulga, entretanto, conheceram as dificuldades de atuar no interior. Como eles jogaram a maior parte do jogo, com Erick nos 90 minutos, talvez Ceni esteja propenso a iniciar apenas com aqueles que não viajaram, como Caio, Jean, Éverton, Cauly, Ademir e Lucho.
E aí fica o mistério. Qual equipe será escolhida para iniciar o clássico? O time que empolgou contra o Sampaio Corrêa, a equipe que não animou tanto contra o Porto, ou uma mescla? Em um exercício de adivinhação, acredito nessa terceira opção, com o time da estreia prevalecendo, com Danilo Fernandes, Kanu, Ramos Mingo, Juba, Caio Alexandre, Ademir e Lucho. E talvez Erick e Rodrigo Nestor. Do time do segundo jogo, acredito na escalação de Gilberto e Éverton Ribeiro. As duas vagas restantes ficariam entre Erick, Jean Lucas, Nestor, Pulga e Cauly.
Mas não foi apenas o treinador que mudou a forma de encarar o clássico. O Bahia é inegavelmente superior historicamente, mas estou longe de promover a soberba. Pelo contrário. Em todo o período recente, de 2019 a 2023, em que o rival se manteve sempre uma divisão abaixo do Tricolor, a ideia de que os clássicos seriam fáceis, e que o Bahia tinha obrigação de golear, incomodava muito, além de tirar um pouco do brilho dos triunfos alcançados, sempre acompanhados de críticas.
Em Ba-vi, o que importa é ganhar e sempre que isso acontece, é motivo de felicidade sem ressalvas. E é isso que espero no sábado: o 195º triunfo tricolor na história. E se a rivalidade está pegando fogo, vamos no ritmo acelerado de Fumacinha.