A complexidade do futebol
Confira a coluna de Tostão: cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970
Após a era medieval, surgiram no século 18 os filósofos iluministas, como Voltaire, que colocaram luz nas trevas. Revolucionaram o mundo. Defendiam que a razão e as regras infalíveis da natureza tornariam os seres humanos melhores. Não somos apenas razão. Somos também sentimento, desejo, ambição, contradição.
Freud, em uma viagem de navio para os EUA, a convite das principais universidades americanas, que queriam conhecer a psicanálise, os segredos da alma humana, disse ao então companheiro Carl Jung que levaria a peste aos práticos americanos, ao mostrar as incertezas da vida. Os americanos queriam uma fórmula matemática para entender e melhorar a mente.
Os alemães, na Copa do mundo de 2014, há 10 anos, trouxeram também a peste ao futebol brasileiro. O 7x1 não foi por acaso. Escancarou as nossas deficiências e atraso na maneira de jogar futebol. Aprendemos com a goleada, mas ainda de uma maneira lenta, já que, mesmo nas derrotas não perdemos a soberba de que o Brasil é o país do futebol.
A razão e a ciência trouxeram imensuráveis benefícios às pessoas, mas gerou uma enorme complexidade nas ações, informações e no conhecimento que aumentam a cada dia de uma maneira alucinatória. Precisamos evoluir, aprender a ver os detalhes, a separar o que é essencial do supérfluo, a razão da emoção.
A complexidade está em todas as atividades humanas, como o calendário do futebol brasileiro. Concordo com a opinião da presidente do Palmeiras Leila Pinheiro, de que o Brasileirão não deveria ter parado por causa da triste tragédia do Rio Grande do Sul, com exceção dos times gaúchos que precisam ser acolhidos e não serem prejudicados.
O futebol é um jogo de enorme complexidade, que vai muito além do talento individual e da estratégia coletiva.
No inicio da partida entre o Sport e Fortaleza pela semifinal da Copa do Nordeste, parecia que o time pernambucano repetiria a ótima partida que tinha realizado dias atrás contra o Atlético-MG pela Copa do Brasil quando venceu por 1x0 e teve inúmeras claras chances de gols. Não foi o que ocorreu. O Fortaleza, com a marcação mais recuada e com precisos e belíssimos contra-ataques fez quatro gols no primeiro tempo e ganhou por 4x1. Os gols foram facilitados pelo péssimo posicionamento defensivo do Sport. Os dois laterais e o meio campo avançavam ao mesmo tempo e deixavam os dois zagueiros perdidos contra os muitos jogadores do Fortaleza que chegavam ao ataque.
O Fortaleza vai enfrentar na final o CRB de Alagoas, que eliminou o Bahia, na semifinal da Copa do Nordeste. O Bahia retrata a complexidade do futebol, pois está muito bem no Brasileirão e na Copa do Brasil, e ao mesmo tempo eliminado da Copa do Nordeste, além de ter perdido a final do estadual para o Vitória.
O futebol é muito complexo. Nós é que tentamos racionaliza-lo, simplifica-lo com nossas idealizações e pretensas sabedorias.
Dúvidas
Mesmo antes de ser confirmada a contratação de Mbappé já existem muitas discursões sobre como Ancelotti vai escalar o time com o francês, Vinicius Junior, Bellingham, Rodrygo e Endryc. Imagino que o técnico vai manter a formação tática com um trio de meio-campistas, além de Bellingham mais livre e próximo dos dois atacantes (Vinicius Juniors e Mbappé), que não precisariam voltar para marcar pelos lados, já que isso é feito atualmente por Valverde pela direita e Bellingham pela esquerda. Rodrygo e Endry ficariam como ótimas opções.