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Coluna do Tostão

Por Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina
ACERVO DA COLUNA
Publicado quarta-feira, 20 de novembro de 2024 às 7:00 h | Autor:

A descoberta do Rei

Tostão é cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970

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Diego Pituca comemora retorno do Santos à Série A e a volta da camisa 10
Diego Pituca comemora retorno do Santos à Série A e a volta da camisa 10 -

Parabéns ao Santos pelo título e pelo retorno à série A. A camisa 10 de Pelé voltou a ser utilizada. Pelé continua vivo. Ele não morreu, ficou encantado, diria João Guimarães Rosa. Lamentável que no dia da festa do título muitos torcedores vaiaram a equipe e o técnico Carille por causa da derrota para o CRB por 2x0.

Lembrei-me de Pelé. A primeira vez que estive ao seu lado em campo em um treino da seleção que se preparava para a Copa de 1966, tentei enxergar e descobrir onde estava a sua genialidade. Achei-o espetacular, melhor do que todos os outros, porém parecido na maneira de jogar. Com o tempo, percebi e compreendi o mistério. Além da sua exuberante técnica, ele precisava apenas de uma fração de segundos para partir da intermediária com poucas ações e movimentos para chegar ao gol. Tudo claro, que parecia fácil. Tornava simples o que era complexo.

Assim acontece com os maiores talentos de todas as profissões. A poesia e a prosa de Carlos Drummond de Andrade e de Fernando Pessoa são profundas e mais compreensíveis. Não há mistério.

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Nas exageradas análises e comparações entre jogadores e times, da mesma ou de épocas diferentes, olham mais para os números, gols e títulos conquistados do que para o campo. Zico nunca foi campeão do mundo pela seleção. Azar da copa, disse o mestre Fernando Calazans. O inglês Kane nunca foi campeão e é o mais completo centroavante do mundo, pelas movimentações, passes decisivos e gols. Pelé não é o melhor de todos os tempos porque fez mais de mil gols. Ele é o melhor porque é. O que é, é.

O craque Dirceu Lopes nunca jogou um mundial. Teria ido ao de 1970 se João Saldanha não tivesse sido demitido. Entrou Zagalo que dispensou Dirceu Lopes e convocou Dario e Roberto, com alegação de que o elenco tinha muitos jogadores de meio campo e faltava um clássico centroavante. Os dois foram os meus reservas na copa.

Os jogadores deveriam ser analisados tecnicamente pelo que executam em campo, sem levar em conta o que acontece fora de campo, pelas suas ações e palavras boas ou ruins, pelas condutas midiáticas ou espontâneas. Vinicius Junior é um fenômeno pelos seus dribles, sua magia, pelo seu enorme talento e não por causa de suas bem vindas, humanas e corajosas condutas contra o racismo. Da mesma forma, não se deve diminuir o seu talento por suas frequentes reclamações e discussões durante as partidas. Porém, ele precisa ter mais cuidado para não ser expulso e prejudicar o Real Madrid e a seleção.

Vinicius Júnior comemora gol com a camisa do Real Madrid
Vinicius Júnior comemora gol com a camisa do Real Madrid | Foto: Reprodução | Redes Sociais

Nas últimas décadas, ocorreu no Brasil um grande erro conceitual e na formação dos atletas. Os talentos passaram a jogar no ataque, pelas pontas ou pelo centro. Desapareceram os grandes meio-campistas que atuam de uma intermediária a outra. Dorival Junior tem consciência disso ao deslocar Gerson da ponta para atuar pelo centro e mais recuado.

No 7x1, enquanto Felipão colocava muitos atacantes e deixava o meio campo vazio, a Alemanha tinha vários meio-campistas, comandada por Kross, que dominava a bola e o jogo. O 7x1 não foi por acaso. Independentemente do que aconteceu ontem, terça-feira, contra o Uruguai, espero que Dorival não cometa o mesmo erro de Felipão na Copa de 2026.

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