CBF sem liderança e futebol com pressa: crítica de Tostão ao caos atual
Tostão aborda a crise na CBF, os equívocos táticos e o exagero nas análises rápidas no futebol brasileiro

Temos treinador na seleção, mas não temos presidente da CBF. Está ruim, porém há sempre chances de ficar pior.
Um leitor, a minha consciência crítica, me questiona por valorizar muito a presença de muitos meio-campistas que se aproximam para trocar passes e ter o domínio da bola, do jogo e por dar menos destaque para o meia de ligação centralizado. Não é bem assim. Todos são importantes. Meio-campista que marca, cria e avança é também atacante, assim como atacante que recua e dá ótimos passes é também meio-campista. Os dois setores precisam estar agrupados.
O mesmo leitor, a minha consciência crítica, diz que, diferentemente do que eu escrevo quase todos os times brasileiros marcam por pressão a saída de bola desde o goleiro. Ele confunde marcação por pressão na saída de bola com a marcação por pressão em todo campo para tentar recupera-la rapidamente. Assim tem ocorrido um número enorme de gols em todo o mundo. O Flamengo fez isso mais uma vez, contra a LDU, mas faltou novamente inspiração para chegar ao gol. O elenco do Flamengo, do meio para frente, não é tão bom quanto dizem. O do Palmeiras é superior.
Palmeiras em outro patamar
Uma das evoluções do time do Palmeiras é a capacidade de alternar a maneira de marcar, por pressão ou recuando para contratacar em um mesmo jogo, de acordo com o momento e o adversário. A maioria dos times brasileiros quando avança a marcação deixa grandes espaços entre o meio campo e a defesa porque os zagueiros continuam colados à grande área.
O mesmo leitor, a minha consciência crítica, me questiona se não dou um valor excessivo às incertezas e ao imponderável no futebol. Sou fascinado pela ciência, pela qualidade dos atletas e pelas estratégias dos treinadores, mas ignorar o acaso, especialmente no futebol, é uma visão cientifica soberba. Acaso não é sorte. São detalhes comuns, frequentes, que sempre acontecem, como o erro de um árbitro, uma expulsão, uma bola desviada e tantos outros, mas que não sabemos quando e onde vão ocorrer.
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Velocidade e correria não são qualidades técnicas
Existe um enorme exagero em muitas e rápidas avaliações de treinadores e jogadores. É o mundo imediatista que vivemos. Basta um belo gol, como o de Arthur do Botafogo para ele ser tratado como o grande protagonista da equipe, o que nunca foi. Tomara que um dia seja. Por causa da mesma pressa, treinadores são dispensados, como se fossem os únicos culpados pelas derrotas. Santos, Grêmio e Vasco, três gigantes do futebol brasileiro, já trocaram vários treinadores sem resultados, pois os elencos são fracos.
Confundem muito habilidade com técnica. Há vários jogadores hábeis, rápidos e dribladores que são endeusados desde as categorias de base, mas sem boa técnica, que pode ser aprendida e desenvolvida. O talento é a união, a síntese da habilidade, da técnica, da criatividade e das condições físicas e emocionais.
Na quinta-feira, o Barcelona, melhor time do mundo, mesmo sendo eliminado da Liga dos Campeões pela excelente equipe do Inter de Milão, conquistou o título espanhol com mais uma grande atuação e um gol magistral do jovem Lamine Yamal, 17 anos. Seu talento vai muito além da habilidade, da técnica e das estatísticas. Ele é indefinível. Ele antes de ser.
*Tostão é cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970.