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Enxaqueca leva um terço dos pacientes a perder até 30 dias de trabalho

Doença é crônica e atinge cerca de 15% da população brasileira, segundo a Sociedade Brasileira de Cefaleia

Publicado segunda-feira, 28 de novembro de 2022 às 06:15 h | Autor: Jane Fernandes
A neurologista Maria Clara explica o tratamento com  anticorpos monoclonais
A neurologista Maria Clara explica o tratamento com anticorpos monoclonais -

Considerada uma das 20 doenças mais incapacitantes em todo o mundo, a enxaqueca leva um terço dos seus pacientes a perder até 30 dias de trabalho por ano, conforme estudo da Caixa de Previdência e Assistência dos Servidores da Fundação Nacional de Saúde, realizado antes da pandemia. Os dados aumentam a importância do tratamento profilático, direcionado para evitar crises, que nos últimos anos ganhou novas opções eficazes, apesar dos custos elevados.

Não disponíveis na rede pública e obtidos via plano de saúde apenas por meio de liminar, os anticorpos monoclonais e a toxina botulínica são os tratamentos mais recentes para essa doença crônica que atinge cerca de 15% da população brasileira, segundo a Sociedade Brasileira de Cefaleia. Os anticorpos monoclonais são um grupo de medicamentos que atuam como inibidores de CGRP (sigla para Peptídeo Relacionado ao Gene da Calcitonina em inglês)

“São inibidores específicos para as substâncias causadoras da enxaqueca, que são ministradas em aplicações subcutâneas semelhantes a insulina, por exemplo”, comenta a neurologista Maria Clara Carvalho, especializada em dor. O inibidor de CGRP será ministrado em intervalos regulares definidos pelo médico prescritor. A aplicação é doméstica e pode ser feita pelo próprio paciente, cada seringa custa em torno de R$ 1.000,00. 

No caso da toxina botulínica, mais conhecida por sua aplicação com finalidades estéticas, a reaplicação irá ocorrer em intervalos de três a quatro meses, com custo de R$ 1,8 mil a R$ 2 mil por aplicação, segundo a neurologista Priscilla Vieira, do Hospital Português. A ação de relaxamento promovido pela toxina na musculatura da cabeça e região cervical é o que vai atuar na prevenção das crises de enxaqueca. 

Profilaxia

Tanto os anticorpos monoclonais quanto a toxina botulínica são tratamentos profiláticos, ou seja, eles não têm a função de interromper os sintomas de uma crise de enxaqueca, mas de evitá-las. Maria Clara ressalta que a sociedade não reconhece o aspecto incapacitante da enxaqueca, então embora a frequência das crises seja importante para avaliar a necessidade da profilaxia, quando a dor é incapacitante, muitas vezes uma crise por mês já é suficiente para priorizar o tratamento preventivo.

A doença é causada por processos químicos no cérebro, que, em linguagem simplificada, ensinam ao cérebro a ter dor, diz a médica. “O sistema do cérebro que é o principal responsável pela enxaqueca é o sistema trigeminal, o gânglio trigeminal ao ser estimulado promove reações químicas no cérebro que vão levar a uma inflamação de áreas específicas, resultando em dor de cabeça e aos sintomas que são associados”, detalha. 

Para quem não consegue arcar com os custos dos tratamentos mais modernos, a indicação é o uso de medicamentos desenvolvidos para outras doenças, com atuação sobre o mecanismo das crises de enxaqueca. De acordo com a neurologista, as opções incluem anticonvulsivantes, antidepressivos e betabloqueadores. 

A tolerância aos efeitos colaterais é a maior limitação do emprego desses grupos de medicamentos, avisa Maria Clara, então muitas vezes não é possível aumentar as doses até obter um controle eficaz para aquele paciente. Por outro lado, aponta, a toxina botulínica não apresenta efeitos colaterais sistêmicos, provocando, no máximo, alguma dor ou reação nos pontos de aplicação. 

“A gente consegue um bom tratamento para dor de cabeça, independente do tratamento escolhido, mas isso leva tempo, porque nem sempre a gente vai acertar de primeira”, pondera a especialista. Além disso, acrescenta, a experiência da dor é influenciada por diversos fatores, como problemas pessoais, dificuldades financeiras, questões de trabalho e ansiedade para fazer uma prova. 

Por conta dessas variáveis, o controle da enxaqueca vai além do tratamento médico, exigindo mudanças de hábitos de vida. Priscilla Vieira alerta para a importância da alimentação, com redução do consumo de conservantes, muitos condimentos e comidas industrializadas em geral. Se manter hidratado, dormir adequadamente e praticar exercícios aeróbicos são outros fatores importantes. 

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