COMPORTAMENTO
Geração Z e o fim da tolerância: por que eles pedem demissão sem medo
Saúde mental, rotatividade e 'revenge quitting' marcam a nova postura da Geração Z

Por Isabela Cardoso

A relação de trabalho está mudando radicalmente, e a Geração Z é a principal protagonista dessa transformação. Jovens nascidos entre meados dos anos 1990 e 2010 demonstram uma nova postura no mercado, marcada pela falta de medo de pedir demissão e pela recusa em tolerar ambientes tóxicos.
Os motivos são variados, mas apontam para uma nova prioridade: a saúde mental. O que antes poderia ser considerado tolerável, como chefes aos gritos ou humilhações no trabalho, hoje é um motivo imediato para o pedido de demissão.
Fatores por trás da nova mentalidade
A postura da Geração Z é reflexo de profundas mudanças sociais e econômicas. Diferentemente de gerações anteriores, que precisavam manter o emprego a qualquer custo para sustentar a família, muitos desses jovens ainda vivem com os pais ou têm suporte financeiro, o que reduz a pressão de ter uma renda fixa imediata.
Além disso, as alternativas de trabalho se multiplicaram: aplicativos de transporte, delivery e o trabalho autônomo se tornaram opções viáveis, oferecendo mais liberdade e, em muitos casos, rendimentos similares aos de empregos formais, mas sem a pressão de um chefe.
Leia Também:
A própria natureza do trabalho mudou. O aumento de contratações como PJ (pessoa jurídica) e a instabilidade com a cultura de layoffs (demissões em massa) tornaram o vínculo empregatício mais frágil. A estabilidade, antes vista como meta, deu lugar à fluidez.
A Geração Z, adaptando-se a essa realidade, entendeu que a construção de uma carreira pode ser feita trocando de empresa em busca de melhores condições e novos desafios. A promoção, muitas vezes, acontece mais rapidamente com a mudança de emprego do que permanecendo por anos na mesma função.
Desafios para as empresas e o papel do revenge quitting
A alta rotatividade, ou turnover, é um dos principais desafios para as empresas. Muitos gestores reclamam da dificuldade em reter talentos e da falta de "engajamento" dos jovens com a cultura da empresa.
No entanto, especialistas apontam que o problema pode estar na falta de planos de carreira claros, de valorização e de condições que estimulem a permanência.
Nesse cenário, surge o fenômeno revenge quitting (demissão por vingança), quando o funcionário, ao sair, usa as redes sociais para expor chefes ou a empresa.
Segundo Lucas Oggiam, diretor-executivo de consultoria de RH da Michael Page, ao UOL, essa atitude é uma forma de o profissional se sentir "vingado" por um comportamento inadequado que sofreu.
No entanto, o ato tem seus riscos. A liberdade de expressão encontra limites na lei, e o profissional que expõe a empresa pode ser processado por difamação, como alertam advogados como Bruno Minoru Okajima, sócio do escritório Autuori Burmann Advogados, ao UOL.
Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.
Participe também do nosso canal no WhatsApp.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes