UMA NOVA FELICIDADE
Por que mulheres solteiras e sem filhos são mais felizes?
O estudo do London School of Economics apontou que mulheres mudaram seus desejos com o passar do tempo

Por Carla Melo

Tiana Barros Oliveira tem 43 anos e nunca precisou de uma virada de chave para entender que uma vida de “dondoca” (termo usado para se referir a uma vida regada de ócio), na companhia de filhos e marido, não combinaria com seu estilo de vida. Muito pelo contrário, a vida associada à diversão, à liberdade e sem empecilhos sempre fez parte dos seus planos.
A luta por cada vez mais participação feminina em lugares antes ocupados majoritariamente por homens mostrou uma mudança energética de comportamento na sociedade. Além de um crescimento vertiginoso de mulheres em comparação a homens, conforme apontou nova divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) Contínua 2024 (92 homens para cada 100 mulheres), maridos e filhos deixaram de estar na lista de desejo das mulheres moderna.
Um estudo, encabeçado pelo professor de ciência comportamental da London School of Economics, Paul Dolan, evidencia isso: mulheres solteiras e sem filhos são as mais felizes. Em seu livro mais recente, Happy Ever After (Feliz Para Sempre, em tradução literal), o especialista em felicidade cita um estudo que comparou níveis de felicidade e tristeza em mulheres solteiras, casadas, divorciadas e viúvas.
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Em relação às perguntas feitas às mulheres solteiras que decidiram enveredar por um novo caminho, Dolan faz uma observação sobre a percepção moderna do sucesso em comparação com a experiência da felicidade.
Dolan acredita que a pesquisa possa contribuir para modificar o estigma envolvendo mulheres que não se casaram. No entanto, considera que muitas mulheres solteiras podem se considerar infelizes porque filhos e casamento ainda são atribuídos como sinônimos de sucesso na vida.
“A felicidade não está associada ao estado civil”
A vida de Tiana sempre foi marcada por estudos e trabalhos, paralelamente a isso, a diversão e o tempo de qualidade com amigos e consigo mesmo também. Os relacionamentos anteriores da analista de administração foram curtos, mas foram importantes para que ela entendesse que não seria uma coisa que ela queria.
“Para mim, a liberdade é mais importante do que qualquer outra coisa. No início do relacionamento, tudo são flores e depois começam as limitações, até casos de feminicídio. Começam até a querer mandar no que a gente veste. Não vou mudar, não quero mudar por ninguém, se eu tiver que fazer algum tipo de mudança, tem que ser por mim, porque eu que me dá para mim e não para agradar ninguém. Um relacionamento querendo ou não, é uma questão de ceder em alguns momentos”, disse ela.

É o que também entende Niliane Brito, psicóloga clínica, especialista em relacionamento referente a esse novo cenário entre as mulheres modernas. Para ela, os desejos são outros e as mulheres têm se identificado além de mãe e de esposa.
“A mulher moderna tem uma maior autenticidade. Ela está mais de bem consigo mesma. Entre essas mulheres há um movimento crescente de autocuidado e de autoestima e isso acaba impactando também em como a mulher escolhe se relacionar. O resultado é esse: elas têm escolhido não terem um relacionamento a longo prazo, não terem um casamento. Historicamente a mulher não apenas era só vista como cuidadora, mas também como o casamento entrava na vida da mulher como algo essencial”, explica a psicoterapeuta.
Os casos de relacionamentos abusivos também parecem influenciar nas tomadas de decisões das mulheres. Apesar dessas mudanças impressionantes nos desejos femininos, a psicóloga reforça que o relacionamento não precisa ser algo abominável

“Uma relação saudável, com comunicação, com respeito, com divisão de responsabilidades, é também uma relação feliz. Então, a felicidade não está implicada na questão do status civil. É importante pontuar isso. Eu acredito que esse movimento é muito importante porque também traz uma ressignificação do papel da mulher, das funções que ela exerce, do papel mesmo da mulher”, continua a especialista.
Estigmas que precisam acabar
Para Niliane Brito, estigmas têm impedido o alcance das mulheres em demais espaços, abrindo portas de controle sobre os desejos delas. Mas apesar das falácias envolvendo a vida sexual das mulheres, e até mesmo o seu pertencimento na sociedade, a autocobrança para tornar-se mãe, cuidadora, dona de casa e esposa ainda continua forte.
“As próprias relações parentais impactam também na forma como ela se enxerga. Então muitas vezes é difícil desconstruir essa posição que se refletem nas relações dessas mulheres hoje, com seus parceiros, nas relações interpessoais”, finaliza ela.
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