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Capoeira vira pintura em exposição gratuita no Rio Vermelho

Cultura ganha novas formas na arte de Igor Souza

Júlio Cesar Borges*

Por Júlio Cesar Borges*

16/12/2025 - 9:09 h
Cores, ambivalência e ancestralidade marcam nova exposição em Salvador
Cores, ambivalência e ancestralidade marcam nova exposição em Salvador -

Está em exibição até fevereiro de 2026, na galeria RV Arte e Cultura, a exposição individual Grande pequeno, sou eu, do artista Igor Souza, com texto crítico de Luciara Ribeiro.

A mostra, que tem a capoeira como elemento central, é uma tentativa de resgate ao pensamento afrodiaspórico, perdido após os processos de colonização.

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Gratuita, a visitação pode ser feita de segunda-feira a sábado, das 10h às 18h.

Arquiteto de formação pela Ufba, Igor conta que foi durante a sua graduação que despertou para o mundo das artes, essencialmente para a pintura.

“A pintura e o desenho esteve presente na minha vida como forma de lidar com minha própria introspecção. Estar consigo mesmo na frente de um papel, desenhando ou pintando, sempre foi, de alguma maneira, um território seguro ", observa.

A dualidade entre os cálculos matemáticos e as produções artísticas fazem parte da identidade de Souza, algo que ele define como força motriz para idealizar Grande pequeno, sou eu.

“O título da exposição é um trecho de uma ladainha de Mestre Pastinha, mestre principal da Capoeira Angola, em que ele afirma que na roda ele é grande e pequeno ao mesmo tempo. Essa ambivalência entre você ser, ao mesmo tempo, coisas que aparentemente são opostas, é importante na minha pintura e nas coisas que faço”, explica o artista.

A capoeira, em sua essência, também carrega tal ambivalência ao se constituir, simultaneamente, arte marcial e dança. Para Igor, tudo isso faz parte de uma cosmovisão africana que ensina novas perspectivas de enxergar, ser e estar no mundo. Ele considera importante romper com a ideia de objetividade imposta pelo pensamento ocidental.

“A capoeira tem um aspecto formativo tão importante quanto o aspecto formativo tradicional do colégio ou da faculdade, pois foi através dela que me proporcionou a não ter que escolher ser isso ou aquilo. Eu sou isso e aquilo sempre”, exclama. A exposição, segundo o artista, é o reconhecimento da multiplicidade que a dança-luta evoca.

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Romper com a objetividade

As obras, marcadas por um emaranhado abstrato de cores vivas, refletem o propósito do artista em não traduzir, de maneira direta, a capoeira.

Linhas retas, curvas, marchas, acidentes, turbidez, interrupções, quebras e continuidades são alguns dos elementos presentes nos quadros, que demonstram a natureza não linear do processo curatorial e artístico.

“A minha intenção, no final, não é ilustrar a capoeira. Não é deixar as coisas claras. É muito mais gerar uma sensação, o que seria o resultado de uma atitude de jogo. O público vai encontrar sugestões de corpos que tensionam elementos dentro do espaço pictórico e geram narrativas abstratas o suficiente para que cada pessoa consiga projetar sua própria vivência e criar suas significações”, afirma Souza.

A subjetividade é uma característica que atravessa todo o fazer artístico de Igor. A concepção da exposição, segundo o artista, surgiu no ano passado, a partir de um convite da equipe da RV Cultura e Arte.

Imagem ilustrativa da imagem Capoeira vira pintura em exposição gratuita no Rio Vermelho
| Foto: Divulgação

O processo representou um desafio, já que, pela primeira vez, ele definiu o título da mostra antes mesmo de confeccionar as obras.

Dentre as referências, o Souza cita o pensamento de Bunseki Fu-Kiau, antropólogo congolês, que diz respeito às decodificações culturais.

“O pensamento de Bunseki Fu-Kiau me fez perceber que você pode ser um ser polivalente. Transitar em diferentes campos do saber, sem necessariamente hierarquizar as coisas. Você pode ser músico, dançarino, cantor. Estar em constante movimento”, conta o arquiteto.

Diversidade racial

Grande pequeno, sou eu também provoca reflexões sobre as negritudes, não apenas por abordar uma temática afro-diaspórica.

Igor, enquanto homem negro, considera essencial que a produção de conhecimento e de arte seja cada vez mais protagonizada por pessoas de diversidade étnica.

”Sou de uma geração que a gente, enquanto adolescente, não tinha muita clareza do quanto aspectos raciais poderiam construir a sua personalidade. Sem eu saber, a capoeira estava me servindo de uma estrutura potente, pois contribuiu para dessa consciência do eu, enquanto negro, além de entender todos os percursos de marcações raciais que vivi sobre a vida”, conclui o artista.

Minibio

Imagem ilustrativa da imagem Capoeira vira pintura em exposição gratuita no Rio Vermelho
| Foto: Divulgação

Igor Souza, natural de Salvador, atua como artista visual, roteirista e diretor audiovisual. Em suas pinturas, seres antropomórficos emergem de meios caóticos como corpos imprecisos que se espalham, deixando rastros e se confundindo com o próprio ambiente, com a intenção de criar imagens do inconsciente e reflexos de memórias ancestrais.

Além das exposições individuais em Salvador, o artista já apresentou seus trabalhos em cidades como Berlim, Porto, Nova York, Moscou e Paris. Em 2022, uma obra da série CO_LAPSO (2021), passou a integrar o acervo permanente do MAM Bahia, transferida, no último ano, para o Museu de Arte Contemporânea da Bahia.

Sua trajetória também inclui experiências no audiovisual, como as animações Entroncamento (2017) e Aventuras de Amí (2018), além do documentário premiado Diário de Classe (2017), todos realizados em parceria com Maria Carol. Entre as publicações, destacam-se o livro de artista TRES (2011), em colaboração com Fiona Kelly, a crônica gráfica Quanta (2023), com Daniel Farias, e a novela gráfica Rocha Navegável (2020), roteirizada por Fábio Costa e finalista do Prêmio Jabuti em 2021.

‘Grande pequeno, sou eu‘, exposição de Igor Souza / Em cartaz até 21.02.2026 / Visitação: de segunda a sexta-feira das 10h às 18h, e aos sábados das 10h às 18h / RV Cultura e Arte (Av. Cardeal da Silva 158, Rio Vermelho) / Entrada gratuita

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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