RECORDE
Baianos conquistam o “Oscar dos quadrinhos” pela segunda vez
Com narrativa antirracista, HQ baiana ganha projeção mundial

Por Bianca Carneiro

A Bahia voltou a ocupar lugar de destaque no cenário nacional dos quadrinhos. Pelo segundo ano consecutivo, os artistas Anderson Shon e Daniel Cesart foram vencedores do Troféu HQMIX, a mais importante premiação do setor no Brasil, frequentemente chamada de “Oscar dos quadrinhos”. A cerimônia consagrou a dupla na categoria Relevância Internacional.
O reconhecimento veio pelas ações realizadas ao longo de 2024 em Angola, onde os artistas lançaram, em Luanda, a HQ Estados Unidos da África. Além do lançamento internacional, o projeto envolveu oficinas formativas, atividades educativas e uma exposição na capital angolana, ampliando o alcance da obra e fortalecendo o intercâmbio cultural entre Brasil e África.
Criada por Anderson Shon, que assina o roteiro, e ilustrada por Daniel Cesart, a HQ foi publicada no Brasil em 2023 e já havia conquistado o HQMIX em 2024, na categoria de Melhor Publicação Independente – Edição Única. Com o novo troféu, o trabalho consolida dois anos seguidos de reconhecimento e soma três prêmios ao currículo.
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Para Anderson Shon, a conquista carrega um significado que vai além do troféu. “Somos dois baianos, fora do eixo Rio-São Paulo, sendo premiados de forma consecutiva. Isso mostra que o Nordeste também produz talentos potentes. Estados Unidos da África já nasceu grande, como o primeiro quadrinho lançado pela Academia de Letras da Bahia, e segue crescendo. O prêmio deste ano tem um sabor especial porque estar em África foi um sonho realizado, uma experiência de pertencimento, troca e aprendizado”, afirma.
A obra nasceu do desejo dos autores de se verem representados nas narrativas em quadrinhos. Protagonizada pelo super-herói Rei Bantu, a história imagina uma África unificada, livre e em paz, a partir de uma abordagem afrofuturista, antirracista e contracolonial. O universo criado dialoga com referências de figuras como Conceição Evaristo, Bob Marley e Nelson Mandela.

Daniel Cesart destaca o caráter coletivo do reconhecimento. “Esse prêmio não vem apenas de Estados Unidos da África, mas de toda a trajetória de levar nossa arte para o mundo, celebrando a cultura baiana por onde passamos. É um prêmio construído em rede, com gostinho de dendê”, resume.
Após a nova conquista, a dupla já projeta o próximo passo. Os artistas estão em fase de produção de A Última Revolta Malê, obra prevista para lançamento em 2026 pela Editora Malê. O novo quadrinho revisita a Revolta dos Malês, levante organizado por africanos escravizados em Salvador, em 1835, considerado o maior movimento de rebelião de pessoas escravizadas da história do Brasil. A proposta é aprofundar reflexões sobre memória, resistência e ancestralidade negra.
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