A TARDE CONHECEU
CARDE: Museu une inovação, cultura e história automotiva brasileira
Com um acervo internacionalmente reconhecido, o museu celebra o automobilismo e a história do Brasil em um ambiente marcado pela inovação
Por Luan Julião*
Unir cultura e automóveis. Esta é a ideia do CARDE Arte Design Museu, localizado em Campos do Jordão (SP). Com um acervo internacionalmente reconhecido, o museu celebra o automobilismo e a história do Brasil em um ambiente marcado pela tecnologia, inovação pedagógica e a presença de raríssimas peças de arte e joias.
A iniciativa é da filantropa Lia Maria Aguiar, de 86 anos. A inauguração ao público está prevista para a próxima quinta-feira, dia 28 de novembro, mas a equipe de A TARDE esteve, antecipadamente, no espaço de 5,4 mil metros quadrados, que conta com um investimento de mais de R$ 100 milhões.
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O CARDE promete oferecer uma experiência revolucionária, com exibições interativas, hologramas e cenografia teatral que destacam veículos históricos e icônicos. Entre os modelos expostos, estão carros que transportaram figuras emblemáticas do país, como os presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, além de homenagens a nomes como Ayrton Senna e Santos Dumont.
Com 112 veículos em exibição — de um total de 500 na coleção — o CARDE traz ainda peças raras, como um modelo de Ayrton Senna trazido de Londres e o Lincoln K de 1930 que transportou a Rainha Elizabeth e o Príncipe Philip em visita ao Brasil. A proposta é de que cada carro represente um capítulo do país, integrando arte e memória a fim de resgatar e celebrar a cultura automotiva e a história nacional.
Transformando o conceito de museu
Luiz Goshima, idealizador do projeto e diretor executivo do museu, relembrou o início da jornada há seis anos. O ponto inicial foi a aquisição de exemplares do falecido colecionador Og Pozzoli, considerado um dos mais seletos acervos de automóveis antigos do mundo.
"Foram 102 carros adquiridos pela Dona Lia Maria Aguiar e pela sua Fundação. Ela quis fazer um museu de carros para que fossem expostos e as pessoas tivessem a possibilidade de também aproveitá-los, principalmente, porque eram automóveis históricos que traziam uma passagem significativa de períodos da história do Brasil".
Segundo Goshima, o projeto precisou ir além do conceito tradicional de museu. "O nosso grande desafio era justamente transformar essa coisa do museu no formato tradicional, estático, em algo que fosse imersivo, interativo, para que as pessoas também conseguissem assimilar diversos temas, porque, na nossa cabeça, o público entusiasta automotivo já estaria inserido automaticamente dentro de todo o contexto. Nosso desafio era justamente encontrar outros públicos".
Dirigindo a história
Gringo Cardia, curador e responsável pelo design do museu, diz que cada veículo no acervo não é apenas uma peça histórica, mas também um portal para entender os diferentes períodos do Brasil. Para ele, o equipamento cultural vai muito além da simples exibição de carros, envolvendo aspectos culturais, sociais e artísticos de cada época.
"A história do Brasil está presente aqui porque cada carro conta uma história. Cada época tem uma história de como o Brasil estava, e a ideia da Fundação Lia Maria Aguiar foi exatamente fazer um museu que mostrasse automóveis, mas que fosse muito além disso, que mostrasse o período de cada carro, o que estava acontecendo no Brasil e no mundo, quais eram os movimentos artísticos, quem eram os artistas, como as pessoas se vestiam."
O curador ressalta a importância do museu como uma ferramenta educativa, focada principalmente no público jovem. "O carro é um grande suporte para a educação, para você entender a história. Porque a história é uma das coisas principais para a sua consciência crítica, para você saber que muitas pessoas lutaram para ter esse país que a gente está vivendo. E isso é muito direcionado ao jovem, à criança, para que possam se interessar por história. E saber que a história sempre é fundamental para a gente poder ter essa consciência."
Na continuidade do processo criativo e de curadoria do CARDE, Heloisa Starling, responsável pela pesquisa histórica e contextualização das movimentações culturais, contou que, ao receber a lista dos carros, foi capaz de identificar o que cada modelo poderia contar. Mas isso não é tudo. Para a curadora, além de registrar o passado público, o museu busca ainda despertar conexões com memórias pessoais.
"Todo mundo aqui tem uma história privada, particular, para contar do carro. Eu, por exemplo, tenho uma história do fusquinha do meu pai, que eu roubava de noite para sair sem ele ver. Cada um de nós tem uma memória, boa ou ruim, do carro. Quando o Gringo me chamou e a gente ficou pensando: ‘como é que nós vamos fazer isso?’, eu falei: ‘não tem jeito. Manda para mim, então, a relação desses carros’".
Para completar o acervo, o museu buscou destacar figuras que marcaram a história do automobilismo nacional, como o engenheiro e visionário João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, que também era amigo pessoal da própria Lia Maria Aguiar.
"Foi algo extremamente importante. Ele desbravou o país, as estradas e a sociedade com o seu automóvel 100% nacional, o Gurgel. Ele e a esposa eram muito próximos da Dona Lia, que falou: 'olha, você não pode contar sobre a história do automóvel sem falar do Gurgel”, explicou Luiz Goshima.
Estradas abertas
Além de consolidar o CARDE como referência em Campos do Jordão, Luiz revelou planos para ampliar o conceito do museu, com o objetivo de integrar culturas e histórias de diferentes regiões do país.
"A gente vem em discussão já, principalmente, com o nosso grupo de história, que é chefiado por Heloisa e Gringo, para fazer um trabalho itinerante com outras regiões do Brasil. A ideia é promover um intercâmbio cultural e trazer as pessoas para cá, para que existam vários museus ao redor do Brasil, cada um contando a sua história, porque, nada melhor do que contar histórias, e nada melhor para contar a história do que aquela pessoa que está inserida dentro do contexto”.
Ele ainda destacou a riqueza cultural de regiões como a Bahia e a importância de promover a brasilidade.
"Eu sou muito fã da Bahia, sempre vou para a Bahia, acho aquilo lindo. A ideia é realmente que a gente pegue um pouquinho da cultura de cada região do Brasil no futuro e consiga traduzir isso, através dos jovens, numa realidade de ter um Brasil multicultural, multi diversificado e com muita brasilidade”.
*Viajou a convite do CARDE Arte Design Museu
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