MÚSICA
Carlos Barros celebra 60 anos de Maria Bethânia em show único na Bahia
Espetáculo “Feitos na Bahia” exalta ancestralidade e legado poético da Abelha Rainha.
Por Eugênio Afonso

Ano passado, o cantor e compositor baiano Carlos Barros, 48, fez um tributo à eterna Gal Costa (1945-2022) com um show baseado no disco Hoje, lançado pela cantora soteropolitana em 2005. Agora, Barros decidiu reverenciar outro ícone baiano feminino, Maria Bethânia Viana Teles Veloso, 79, que está celebrando 60 anos de carreira.
Feitos na Bahia: As Canções Ancestrais de Maria Bethânia terá apresentação única, hoje, às 20h, no Teatro SESC Casa do Comércio. No repertório, canções de mestres como Caetano Veloso, Dorival Caymmi, Djavan, Chico Buarque, Gilberto Gil, Roque Ferreira e Roberto Mendes, além de pontos de tradição oral e sambas afro-baianos.
São músicas ancestrais que mergulham no universo poético, cultural e religioso da intérprete de Diamante Verdadeiro. A ideia é exaltar o poder da palavra e da interpretação através de um recorte da vasta obra bethaniana.
Leia Também:
“Trago canções conhecidas como Reconvexo, A Tua Presença Morena, mas canto também coisas menos conhecidas, como Ofá, de Jota Veloso, Medalha de São Jorge, de Aldir Blanc e Moacyr Luz, Louvação a Oxum, de Roberto Mendes e Ordep Serra. Faço uma viagem neste roteiro que Bethânia construiu ao longo de 60 anos de carreira”, detalha o intérprete.
“É um universo de uma poesia voltada para a cultura popular, de uma busca de Bethânia por um Brasil de dentro. E além desse Brasil religioso, da cultura popular, é também um Brasil que Bethânia construiu como ancestral”, alinhava Barros.
Com direção artística e curadoria musical assinadas pelo próprio Carlos, o espetáculo-homenagem costura um repertório cuidadosamente selecionado, onde o canto de Bethânia ecoa como reza, louvação, espiritualidade, força feminina, manifesto e memória viva de uma brasilidade profunda.
Para Barros, o objetivo do show é trazer para a cena o quanto de Maria Betânia existe nele, no seu trabalho. Ele conta que o público vai se deparar, no palco, com três projeções de imagens e um cenário bem minimalista que faz referências a elementos relacionados a Betânia e a ele próprio.
Carlos salienta que Bethânia – a cantora que lhe ensinou a importância da relação com o palco – é uma artista atenta aos aspectos mais profundos da interpretação, além de uma construtora de narrativas da relação da música popular com a poesia e com a literatura de forma mais ampla.
“Para mim, ela é uma pensadora do Brasil, uma pensadora das relações entre o ser humano e a natureza, uma pensadora no que diz respeito à compreensão da nossa existência no mundo, uma intelectual orgânica que não precisou passar pela academia formal, uma pensadora profunda da brasilidade e da existência no mundo”, argumenta o cantor.
Resistência cultural
Fã confesso da conterrânea ilustre, esta não é a primeira vez que Carlos Barros mergulha no universo da irmã de Caetano. Em 2006, quando Bethânia completou 60 anos de idade, ele realizou um show em Santo Amaro da Purificação, terra da família Veloso. Além disso, é autor de um livro sobre os Doces Bárbaros, lançado em 2015.
Agora, Carlos se debruça novamente sobre o legado da Abelha Rainha em um show que convida à escuta sensível, à reverência aos saberes populares e à permanência da artista como referência de expressão e resistência cultural.

Barros explica que o título do show nasce da música Feita na Bahia, escrita pelo compositor baiano Roque Ferreira. “É uma canção que está no show e a palavra ‘feita’ vai para o plural e muda para ‘feitos’ porque feitos na Bahia somos Bethânia e eu. Essa canção faz uma referência também ao processo de iniciação no candomblé, ao pertencimento afro-religioso que abre a ideia de ancestralidade, o mote do show”.
E para quem também é fã de Gal, Barros avisa que Gal Hoje segue em temporada, e que no dia que em que a intérprete de Folhetim completaria 80 anos (26 de setembro) ele será apresentado no SESC Casa Branca (Caminho de Areia). Além disso, o cantor está organizando a ida do show para o Rio de Janeiro.
“Bethânia e Gal sempre foram, desde quando comecei a me entender cantando, duas referências importantes. É como Oxum e Yansã, duas orixás femininas que também me regem, né? Então existe uma conexão espiritual da minha relação com estas duas intérpretes baianas”, conclui o artista.
Feitos na Bahia: As Canções Ancestrais de Maria Bethânia – um tributo à artista que, há seis décadas, prestigia e empodera o cancioneiro nacional – na verdade, faz parte de uma trilogia. Carlos já havia homenageado a cantora no show Um Pano Legal por Cima de Mim – Bethânia, Boleros, Sambas e Canções, e prepara Quero que Pinte um Amor Bethânia – o Romance em Maria, ainda inédito.
E para acompanhar Carlos Barros na noite de hoje, teremos Roberval Santos no violão, Ito Araújo e Nelson Pena nas percussões, e Sandro Andrade comandando os teclados. Além disso, os intérpretes Sandra Simões, Vércio e Harlei Eduardo se juntarão ao artista em momentos especiais do show.
Minibio
Cantor e compositor com 28 anos de carreira, Carlos Barros também é professor, com graduação em história e mestrado em ciências sociais. Ao longo de sua trajetória, tem construído uma carreira musical repleta de apresentações, seja com repertório de nomes consagrados da MPB, seja com repertório próprio.
Tem dois discos gravados: Cantiga vem do Céu (2009) e Antes da próxima estação... (2014), compostos de músicas autorais e releituras. Atualmente, está em processo de produção de um álbum homenageando a cantora e compositora gaúcha Adriana Calcanhotto.
Foi também, durante muito tempo, colunista da rádio Educadora FM, no programa Multicultura, onde falava sobre música popular e história.
Feitos na Bahia:
- As Canções Ancestrais de Maria Bethânia
- 22 de agosto / 20h
- Teatro SESC Casa do Comércio
- R$ 20 (inteira) - R$ 10 (meia) - R$ 16 (comerciários)
Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.
Participe também do nosso canal no WhatsApp.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes