GRÁTIS!
Com Rita Von Hunty, Mostra Futuro Queer agita Salvador com arte LGBT+
Evento gratuito celebra cultura queer com ballroom, debates e performances
Por Eugênio Jorge

Faz um bom tempo que as expressões viado, bicha e sapatão – antes pejorativas – foram incorporadas e ressignificadas pela comunidade LGBT+. Hoje em dia, se referir a alguém com estes termos, sobretudo dentro do universo queer, passa longe do insulto e costuma ser acatado como um sonoro elogio. Mas as questões de gênero e sexualidade ainda estão longe de serem reconhecidas e aceitas por todos e, por isso, mesmo, a CAIXA Cultural recebe, de hoje a 20 de julho, a 1ª edição da Mostra Futuro Queer com o intuito de reunir os interessados para debater temas relevantes sobre a comunidade.
Inclusive a própria palavra queer, que quer dizer estranho, em inglês, é outra expressão que perdeu o tom de marginalidade, ganhou força, foi apropriada pela comunidade e hoje simboliza aqueles que não se identificam com padrões impostos pela sociedade e transitam entre os gêneros.
Gratuito, o encontro chega para celebrar a produção artística e intelectual da comunidade LGBT+, com uma programação que reunirá nomes de destaque da cena queer brasileira, em mesas de debates, oficinas e espetáculos.
Idealizada e realizada pelo carioca Thiago Ramires, 38, diretor de projetos do Instituto Burburinho Cultural, a mostra começa hoje, a partir das 18h, com uma noite Ballroom, trazendo apresentações de vogue dance com a dançarina e coreógrafa Lunna Montty e a House of Montenegro, além de um desfile do estilista e defensor da moda consciente, George Azevedo.
“Esta é uma mostra de artes e pensamento que vem para discutir os avanços, os caminhos e as conquistas da comunidade, e, para isso, a gente lança mão de uma programação ampla”, ressalta Ramires.
“A ideia é justamente mostrar uma produção atual da comunidade e convidados que reflitam cenários, perspectivas de futuro e vias positivas de ampliação, naturalização, criação e recriação das nossas sexualidades e gêneros diversos numa sociedade que a gente acredita que está em reconstrução”, complementa.
O painel de abertura, amanhã, às 17h30, vai contar com uma das mais famosas e icônicas drag queens brasileiras, a youtuber e professora Rita Von Hunty, que vai falar sobre narrativas e grupos minorizados.
O evento vai contar também com a presença do presidente de honra do Grupo Gay da Bahia e colaborador de A TARDE, professor doutor Luiz Mott. Ele participa, no sábado, da mesa Bahia de Todas as Cores.
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Viés otimista
Thiago avisa que os debates vêm justamente para conseguir ampliar, consolidar e naturalizar as discussões sobre a causa LGBT+, e que os escolhidos para participar da mostra foram justamente aqueles que podem contribuir com o que há de mais atual sobre o pensamento e produção artística da área queer.
“A gente conseguiu uma programação bastante diversa, onde tem gays, lésbicas, queers, bissexuais com espaço de fala. E é claro, nessa primeira edição, a gente traz um pouco mais de luz e reflexão para a letra T, porque a gente vive em um país onde mais se mata transsexuais no mundo. Então, a gente entendeu que seria importante dar uma pontinha a mais de protagonismo ao pensamento das transexualidades”, informa o idealizador.

Ele lembra ainda que é recorrente assistir produções artísticas tratando de temas mais pesados e densos sobre a comunidade, como violência, homicídios, HIV e AIDS, geralmente através de histórias e testemunhos de experiências negativas.
“O nosso recorte é justamente de experiências mais luminosas, defendendo gays, lésbicas, queers e trans como sujeitos que contribuem para a sociedade de forma exuberante, colocando a ideia de vida no centro da programação e no que podemos prever de futuro para essa população sobre um viés realista, de batalha e de luta, mas também muito otimista”, esclarece Ramires.
Para Thiago, a capital baiana tem muito espaço para as manifestações da comunidade LGBT+ porque é uma das cidades mais pluriculturais do planeta. “Com uma cena queer incrível, com personalidades já muito conhecidas. Então, sem dúvida, Salvador está na rota das grandes cidades do mundo para discutir qualquer questão cultural, inclusive da produção da comunidade queer”.
Café com humor
Interpretada pelo ator e humorista Paschoal Meato, 37, uma das participantes desta primeira edição é a drag queen carioca Karoline Absinto. Ela vai apresentar, amanhã e depois, sempre às 20h, o Café com Absinto, um show de performances com muito humor, e participações especiais das drags baianas Spadina Banks e Melanie Mason.
A ideia do show nasceu na cozinha de Meato, em um momento despretensioso, enquanto ele tomava café e respondia perguntas dos seguidores pelo Instagram. O sucesso foi tal que o quadro viralizou e ele decidiu levar o Café para o palco.
“Está sendo um presente gigante poder trazer do Rio de Janeiro minha caricatice, meu humor, tudo que aprendi no teatro, tudo que aprendi nas noites cariocas. E trazer também muita representatividade como uma pessoa gorda, preta, da periferia do Rio”, destaca Paschoal.
Ele revela que Karoline é seu alter ego e que a apresentação é focada em muita diversidade, muito papo político, social, sexual e também nas questões do universo drag. “Eu sempre falo muito sobre sexualidade, sobre a importância da gente se autoconhecer e se permitir ser quem a gente é, né? E trago também muita comicidade”.
Com 15 anos performando como drag queen, Meato acredita que a cena drag no Brasil está bonita e confessa que, felizmente, nunca sofreu discriminação. “Mas já ouvi casos e casos, entendeu? Acho que é porque também não dou muito ouvidos para o que as pessoas falam. Mas sei que existem muitas pessoas que já passaram por momentos de tensão, ameaça e preconceito. Então, assim, existe. Só que eu, particularmente, tive a sorte de não ter presenciado isso”.
Sem constrangimento

Assucena, cantora e compositora trans baiana (de Vitória da Conquista), também está na programação da mostra – participa, domingo, do debate Ser mulher LGBT no Brasil – Potências e perspectivas –, e diz que um evento dessa natureza, criado para discutir questões de um grupo minorizado que apanha tanto do Congresso, é de extrema importância.
“Me sinto honrada de representar as mulheres trans nesse debate. Falar das nossas mazelas, mas também das conquistas, dos desafios e das demandas políticas, civis, sanitárias que temos a conquistar”, salienta a cantora.
“Além de tudo, faço parte da letra T dessa sigla. Sou apenas uma voz possível de uma sigla que tem embates, alinhamentos, mas também divergências. Ser mulher trans no Brasil é desafiador, mas tenho muito orgulho de ostentar a bandeira transgênera”, alinhava.
Ela conta ainda que lida com a discriminação e o preconceito passando o constrangimento adiante. “Olha, eu reajo aos preconceitos fazendo minha arte, minha música. Se alguém me chama pelo masculino, eu falo: olha pra minha cara e veja se eu tenho cara de homem. De forma muito educada, mas sem levar esse constrangimento pra casa”, finaliza.
A programação completa pode ser conferida no site caixacultural.gov.br.
1ª edição da Mostra Futuro Queer / 17 a 20 de julho / CAIXA Cultural (rua Carlos Gomes 57, Centro) / Gratuito
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