LITERATURA
Corpo, clima e memória: novo livro de Fernando Peres é retrato do tempo
Poeta de 88 anos lança seu novo livro, ‘Poemação em São Paulo’
Por Grazy Kaimbé*

Aos 88 anos, o poeta, historiador e professor emérito da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Fernando da Rocha Peres, lança seu novo livro, Poemação em São Paulo (Edições Macunaíma, 88 páginas, preço não divulgado), nesta quinta-feira, 31, às 17h, na sede da Academia de Letras da Bahia (ALB), instituição da qual é membro desde 1987.
O evento, que faz parte da tradicional Sessão das Quintas, ocorre no Palacete Góes Calmon e é aberto ao público. A nova obra reúne 53 poemas escritos durante o período em que o autor esteve em São Paulo. O título, segundo ele, reflete diretamente esse contexto: “Estava em São Paulo quando escrevi o livro. Esse é o motivo”.
“A cidade aparece como pano de fundo em muitos textos, mas os temas abordados não se limitam à paisagem urbana”, acrescenta. Em diálogo com o presente, Peres também se debruça sobre acontecimentos recentes e sobre reflexões mais íntimas e existenciais.
E todo bom poeta tem grandes referências, e Fernando não esconde quais sempre foram suas maiores inspirações: Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Murilo Mendes e Jorge de Lima, grandes escritores brasileiros que fizeram e fazem a diferença na literatura e na forma como as pessoas enxergam o mundo.
Assim como eles, Peres tem inúmeros outros exemplares lançados, como Memória da Sé (1974), Febre terçã (2000), Gregório de Mattos: o poeta devorador (2004) e Mr. Lexo-Tan, entre outros.
O honrado poeta tem passagens por cargos e funções notáveis aqui na Bahia. Como o próprio apresenta no poema Retrato Municipal, que abre o livro, ele ressalta que sempre teve a poesia como sua principal companheira. “Ela é minha companheira desde os 16 anos. Sem a palavra, não existiria a poesia. Ela é um veículo fundamental para que o poeta se expresse”, disse.
Neste novo livro, Fernando apresenta uma dicção breve e direta, com poemas curtos, em versos livres, que muitas vezes soam como anotações ou fragmentos de pensamento.
Ao longo de suas páginas, Peres escreve sobre o corpo envelhecido, a finitude, as mudanças climáticas, a função da palavra, os afetos de longa duração. A leitura do livro, com 88 páginas ao todo, passa de forma bastante ágil por todos esses temas.
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Em maio do ano passado, o Brasil inteiro pôde acompanhar a tragédia que aconteceu no estado do Rio Grande do Sul.
A chuva que atingiu o estado gerou impactos irreparáveis em diversas cidades, especialmente na Região Metropolitana e no Vale do Taquari.
Em meio a tantos desastres, o país também acompanhou angustiadamente, por meio da TV aberta, redes sociais e sites, o resgate de um cavalo, posteriormente chamado de Caramelo, que ficou em cima de um telhado na cidade de Canoas.
O cavalo ficou ilhado em um dos períodos mais críticos das enchentes, e a imagem do resgate comoveu o país. Não foi diferente com o poeta Fernando, que traz um poema exclusivo para o cavalo, que se tornou símbolo de resistência no Brasil.
O poema “Caramelo”, na página 15, evoca a imagem do animal com precisão e muita delicadeza na escrita do autor. “Esses acontecimentos atuais decorrem das mudanças climáticas, atmosféricas que estão acontecendo no Brasil, e é interessante transformá-los em poesia” disse.
Mas não são só os eventos climáticos que aparecem neste exemplar. O poema “Olimpiadada” parte das figuras públicas das ginastas Rebeca Andrade e Simone Biles para tratar, de forma poética, do esforço, do corpo e da superação das atletas olímpicas.
Em textos como “Vidatempo” e “Ausência”, o autor aborda o envelhecimento, a passagem do tempo e a finitude com delicadeza e contenção.
Abraço, Muniz Sodré

Mesmo após décadas de atuação na literatura e na pesquisa, o autor não esconde o desejo de continuar publicando.
“Se tudo correr bem, pretendo sobreviver para continuar lendo e escrevendo poesia”, disse.
Ao comentar o lançamento do novo livro na Academia de Letras da Bahia, Peres brincou: “Representa mostrar aos acadêmicos, aos confrades, que eu ainda estou vivo”.
Ele enfatiza que Poemação em São Paulo traz uma amostra de sua produção recente e reafirma sua fidelidade a uma poesia que não se desvincula do mundo, mas também não abre mão da subjetividade e da escuta.
Ao tratar todos esses temas como o tempo, o corpo, o ambiente e a linguagem, Peres reafirma, aos 88 anos, o lugar da poesia como forma de pensamento e permanência.
Ao final do livro, o leitor encontrará um elogio do mestre Muniz Sodré, que diz o seguinte: “Fernando, bom dia. Eu me sentei para ler dois ou três dos poemas de Poemação e depois ler todos com vagar (sempre faço assim...). Mas não consegui parar até ler todos ao mesmo tempo. Vou ler de novo, claro. Mas estes seus poemas me pescaram de tal modo que eu seria incapaz de dizer que um seja melhor que outro. São peixes bons da mesma maré. Você conseguiu uma dicção que ainda não consigo definir, mas acho que vou chegar lá. Sua poesia me parece simplesmente... porreta. Abs, Muniz Sodré”.
Lançamento de ‘Poemação em São Paulo’, de Fernando da Rocha Peres / Quinta-feira (31), 17h / Academia de Letras da Bahia - Palacete Góes Calmon (Av. Joana Angélica, 198, Nazaré) / Entrada gratuita
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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