TEATRO
Com Amaury Lorenzo, peça de "Os Sertões" chega a Salvador
As apresentações serão sábado e domingo no Teatro Jorge Amado
Por Israel Risan*
Em cartaz pelo País desde setembro de 2022, o espetáculo A Luta chega a Salvador este final de semana. A peça, protagonizada pelo ator mineiro Amaury Lorenzo, é inspirada no primeiro livro-reportagem brasileiro, Os Sertões, de Euclides da Cunha, que narra a Guerra de Canudos. As apresentações serão neste sábado, 20h, e domingo, 19h, no Teatro Jorge Amado, Pituba.
Com direção de Rose Abdallah e dramaturgia de Ivan Jaf, A Luta é um monólogo teatral inspirado na terceira parte de Os Sertões, obra conhecida por uma narrativa poderosa e simbologia profunda, que traduz a guerra entre as forças republicanas e o movimento liderado por Antônio Conselheiro.
O espetáculo busca trazer essa luta histórica para o palco, destacando o confronto de ideias entre a modernidade representada pela República e o obscurantismo religioso associado à monarquia.
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Para Ivan Jaf, é importante refletir sobre movimentos históricos como este, para que a identidade do povo brasieliro se forme a partir de sua própria história. “O brasileiro médio conhece mais a história dos Estados Unidos e da Europa do que a nossa. A escola e a arte podem reverter esse quadro. A Guerra de Canudos é emblemática, dela fizeram parte dois pilares de nossa sociedade: a religião e o militarismo. Nos últimos cinco séculos eles vêm oscilando entre guerras e acordos”, pensa.
O espetáculo proporciona ao público uma reflexão sobre a história do Brasil e os conflitos que moldaram a nação. Rose Abdallah concorda com a relevância de trazer essa temática para o teatro no contexto atual do Brasil. “Costumo dizer que Canudos é aqui e agora, nesse imenso país chamado Brasil. Moro no Rio de Janeiro e a guerra está em cada bairro da cidade. Só não vê quem não quer. Nossa luta agora não é mais entre monarquia e república, mas há religião, política, milícia, tráfico, exército... Uma guerra sem vencedores. Todos perdem – vidas, dignidade, esperança. A esperança é a última a morrer, mas morre. A arte ajuda a salvar”, afirma.
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A narrativa também explora a dualidade entre os brasileiros do litoral e do interior, as elites e o povo, e a fé versus a razão, mostrando como ambos os lados se uniram pela intolerância e violência. Tudo isso em um espetáculo com roteiro de 40 páginas. Adaptar o texto original de Euclides da Cunha, com mais de 500 páginas, para o teatro, foi um dos maiores desafios para o dramaturgo.
“A saída foi me concentrar na ação, na guerra em si, entre Canudos e o Exército. Euclides a descreve na terceira parte, chamada ‘A luta’. Por isso dei esse título à minha peça. Como introdução, resumo em poucas linhas as duas outras partes: ‘A terra’ e ‘O homem’. É como se, antes, informasse à plateia sobre o cenário e o personagem”, conta Jaf.
Exaustivo
O monólogo apresenta Amaury Lorenzo como um rapsodo (artista popular itinerante), que narra as batalhas de Canudos de 1896, quando os seguidores de Conselheiro enfrentaram as forças militares da República. A atuação se baseia na utilização da fala e do corpo para descrever as sucessivas investidas do exército e a resistência dos habitantes do arraial. “É um processo físico muito forte. Um espetáculo de uma hora, em que estou sozinho no palco, narrando essa guerra, todos esses personagens não têm um segundo de descanso, é um trabalho corporal e vocal muito complexo”, compartilha Amaury.
O ator confessa ser essa uma apresentação exaustiva, enquanto técnica, mas tem se preparado bem para estar em palco. É um espetáculo onde eu, enquanto ator, tenho um trabalho técnico muito grande, de fôlego. Eu já tive alguns momentos, durante o espetáculo, onde eu senti o corpo se esvair, não pelo cansaço, mas porque eu estou dando conta de narrar uma guerra, onde as pessoas morriam. Crianças, mulheres, homens, soldados morriam. Isso consome muita energia, tanto física quanto emocional”, conta.
Amaury Lorenzo foi finalista da última edição da Dança dos Famosos, assumindo o segundo lugar na competição, após ganhar destaque como Ramiro, na novela Terra e Paixão, da TV Globo. Sobre a diferença entre atuar na TV e no teatro, para ele não há uma diferença prática em relação ao trabalho em si. “Nosso ofício é o ofício da verdade. Não existe a diferença dessa verdade na TV, no cinema ou no teatro. Não tem diferença alguma, o que importa é a verdade do nosso ofício”, explica, parafraseando o ator Tony Ramos, a quem tem como referência no meio.
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Mas ele enxerga diferença no modo como os espectadores recebem o trabalho de cada meio. “A visibilidade que a TV traz é muito maior do que o teatro, é imensurável. Então existe essa diferença, ela é real. Mas a gente trabalhando, sendo inteligente, sendo afetuoso, você consegue usar dessa visibilidade grande que a TV tem para trazer o público para o teatro, e é o que eu tenho feito. Com a visibilidade que a TV me trouxe através do Ramiro, eu mantive o meu espetáculo A Luta”, conclui.
A Luta tem produção local da Carambola Produções e realização da Abdallah Produções, Bambu Produções e Diga Sim Produções.
‘A LUTA’ / Amanhã (20h) e domingo (19h) / Teatro Jorge Amado / R$ 120 e R$ 60 / Vendas: Sympla e Bilheteria do Teatro
*Sob a supervisão do editor Chico Castro Jr.
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