Espetáculo imerge público em experiência que emociona e induz reflexão

O que você diria hoje para você quando era criança? O questionamento interessante, perturbador ou emocionante é feito logo na chegada ao público do espetáculo imersivo 'Parte de Nós', em cartaz no Museu de Arte Moderna da Bahia até domingo, 7, mas já com ingressos esgotados.

Responder à pergunta é a primeira etapa do espetáculo, que põe em cada espectador um fone de ouvido para imergir no mundo da história contada pelo ator Lucas Lacerda e sua avó, Norma Lacerda, que misturam a história de um pássaro ancestral desaparecido para o mundo humano há muitos anos a sons e narrativas produzidas por um microfone direcional, que amplia aos ouvidos ruídos específicos e mistura com sons propositais, a exemplo do barulho da água caindo no chão, cantos de pássaros e outros.

Apesar de Lucas ser ator, Norma, sua avó, que participa do espetáculo, não é.

"Ela nunca fez nenhum trabalho artístico, mas eu queria trazê-la porque, além de ela ser muito expressiva - eu digo que ela é uma atriz enrustida, no primeiro convite, ela disse, vamos embora, não pensou duas vezes- para mim, eu estou trazendo algo muito honesto, muito meu, muito verdadeiro", contou Lucas ao Portal A Tarde enquanto se preparava para iniciar o espetáculo.

O ator explica que sua avó foi uma das primeiras pessoas a lhe contar histórias - e algumas delas são compartilhadas com o público.

"Eu entendo que as histórias definem quem nós somos, as histórias que a gente ouve, as que a gente cria junto, que a gente reproduz... E a primeira pessoa me contando história, ela, de alguma forma, me apresenta o mundo ou uma possibilidade de mundo pela primeira vez".

Durante o espetáculo, em diversos momentos, o público é convidado a interagir e, de alguma forma, imergir em 'Parte de Nos', que se apresenta como uma oportunidade para abordar a perda de empatia da humanidade, uma das questões enfrentadas pela sociedade atual.

"Hoje a gente vive um momento em que a população está muito popularizada, seja no nosso núcleo familiar ou seja a nível global, ou você pertence a um grupo ou você pertence a outro grupo, seja na política, na religião ou opinião sobre qualquer assunto", conta Lucas.

"Quando te dão o título de uma coisa, te colocam numa caixa e limitam a sua existência, limitam a sua opinião, perspectiva de vida. E esse trabalho, para mim, é uma oportunidade de dividir um espaço sensorial com a plateia, muito através das sonoridades, para que elas reflitam um pouco sobre essa questão, que elas podem associar à própria vida".

Uma das características marcantes do espetáculo é o movimento. O público inicia a jornada em um espaço e, durante o roteiro -por vezes compartilhado com o próprio público-, frequenta diferentes espaços do Museu, onde a história se desenrola.

Quando a gente vai ao cinema ver um filme, a gente está acompanhando a história, ou está dividindo a história com alguém.

"Quando a gente vai ao teatro também. Então, a nossa ideia é tentar entender como ir além desses formatos, e pensar formatos que também estão contando histórias, mas de uma forma que as pessoas completem a história com a gente".

Após a temporada em Salvador, o duo germânico-brasileiro Po:era, responsável pelo espetáculo, segue para Berlim para apresentar outro trabalho e, em seguida, Portugal recebe uma versão adaptada de 'Parte de Nós'. A quem não conseguiu espaço na apresentação em Salvador, Lucas deixa um recado.

"A gente planeja retornar em breve para uma temporada mais longa, a gente já está conversando sobre isso. É uma experiência intimista, então ela pede grupos pequenos e, como a gente usa esses equipamentos, não tem como empurrar, botar mais um, assistir em pé. Eu queria realmente levar isso para mais pessoas. Eu acho que esse impacto e essa curiosidade vai nos ajudar a voltar muito em breve. E a gente vai voltar, isso é uma certeza".

Confira momentos do espetáculo.